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ARTES PLÁSTICAS
No ano do centenário de seu nascimento, pintor é motivo de representativa exposição em Buenos Aires
Após meio século, Portinari retorna à Argentina
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
Depois de 57 anos, as telas de
Cândido Portinari (1903-1962)
voltaram à Argentina, país que recebeu o pintor em 1947, quando o
Brasil perseguia comunistas. Na
terça passada, a Fundação Proa,
de Buenos Aires, abriu a Exposição Portinari, que apresenta 50
originais de pinturas, gravuras e
desenhos do artista até 5/9.
A exposição é parte das comemorações pelo centenário de nascimento do pintor, celebrado em
2003. O Projeto Portinari, organizador da mostra, prepara também o lançamento de um catálogo de cinco volumes com fotografias das 4.991 obras do artista. Os
catálogos serão lançados neste
ano na Bienal de Artes de SP.
O acervo da exposição, montada especialmente para Buenos Aires, reúne obras importantes do
artista, como a impactante
"Criança Morta", além de "Retirantes" (1944) e "Colheita de Café" (1958), duas das telas mais representativas da obra do pintor.
A coleção possui gravuras dos
painéis Guerra e Paz, que Portinari pintou para a sede da ONU, em
1957, e objetos pessoais do pintor.
Essa é uma das poucas exposições de Portinari no exterior desde a sua morte, em 1962. A primeira foi em Milão, em 1963. Apenas em 1985 os portugueses viram
uma pequena mostra de desenhos, em Lisboa, e em março deste ano uma exposição do artista
integrou o "Brasil My Fair", em
Londres.
"Gostaríamos de levar a exposição ao Chile e à China. Talvez por
haver uma maior identificação
ideológica neste governo com a
obra de Portinari, estamos recebendo mais apoio para o centenário", disse o curador da exposição, João Cândido Portinari, filho
do pintor. A mostra é patrocinada
pela Petrobras.
O evento ocupa cinco salas em
dois andares da Fundação e é dividido nas seções social, Brasil,
Universal e Argentina e Uruguai.
A social reúne obras que ilustram a vida das massas, os imigrantes, os êxodos, a fome e a fuga
da miséria, temas que transformaram Portinari no maior representante da chamada "arte das
massas" no Brasil.
A série Brasil reúne quadros representativos da cultura brasileira, como o "Flautista" (1934). A
coleção universal incluiu obras da
série "Dom Quixote", produzidas
em 1956 em lápis de cor, quando
Portinari, já debilitado pela intoxicação provocada pelo chumbo
das tintas, causa da morte do Pintor, foi proibido de pintar.
A seção Argentina e Uruguai
apresenta quadros, gravuras e
manuscritos da época em que o
artista viveu na Argentina e no
Uruguai, entre 1947 e 1948, como
a tela "Mulher e Criança" (1948).
O auto-exílio de Portinari na Argentina e no Uruguai foi motivado pela perseguição do governo
Eurico Gaspar Dutra (1946-50)
aos comunistas, como conta João
Cândido. Militante do Partido
Comunista do Brasil, Portinari
encontrou, em 1947, uma Argentina no auge do Peronismo, ambiente político que acolheu sua arte representativa das massas.
Em Buenos Aires, Portinari conheceu os poetas espanhóis Rafael Alberti e León Felipe, os chilenos Pablo Neruda e Gabriela Mistral e o cubano Nicolás Guillén.
O ponto forte da experiência de
Portinari nos países vizinhos do
Sul foi em 1948, quando apresentou, em Montevidéu, a Conferência "O Sentido Social da Arte", em
que falou do realismo concreto de
sua arte e da militância política.
"Já conhecia Portinari, cuja
obra é bastante famosa na Argentina, mas nunca havia visto uma
exposição dele. Estou bastante
impressionado", disse o estudante de cinema, Fernando Krapp,
que visitava a exposição.
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