São Paulo, segunda-feira, 26 de julho de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

No ano do centenário de seu nascimento, pintor é motivo de representativa exposição em Buenos Aires

Após meio século, Portinari retorna à Argentina

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

Depois de 57 anos, as telas de Cândido Portinari (1903-1962) voltaram à Argentina, país que recebeu o pintor em 1947, quando o Brasil perseguia comunistas. Na terça passada, a Fundação Proa, de Buenos Aires, abriu a Exposição Portinari, que apresenta 50 originais de pinturas, gravuras e desenhos do artista até 5/9.
A exposição é parte das comemorações pelo centenário de nascimento do pintor, celebrado em 2003. O Projeto Portinari, organizador da mostra, prepara também o lançamento de um catálogo de cinco volumes com fotografias das 4.991 obras do artista. Os catálogos serão lançados neste ano na Bienal de Artes de SP.
O acervo da exposição, montada especialmente para Buenos Aires, reúne obras importantes do artista, como a impactante "Criança Morta", além de "Retirantes" (1944) e "Colheita de Café" (1958), duas das telas mais representativas da obra do pintor.
A coleção possui gravuras dos painéis Guerra e Paz, que Portinari pintou para a sede da ONU, em 1957, e objetos pessoais do pintor.
Essa é uma das poucas exposições de Portinari no exterior desde a sua morte, em 1962. A primeira foi em Milão, em 1963. Apenas em 1985 os portugueses viram uma pequena mostra de desenhos, em Lisboa, e em março deste ano uma exposição do artista integrou o "Brasil My Fair", em Londres.
"Gostaríamos de levar a exposição ao Chile e à China. Talvez por haver uma maior identificação ideológica neste governo com a obra de Portinari, estamos recebendo mais apoio para o centenário", disse o curador da exposição, João Cândido Portinari, filho do pintor. A mostra é patrocinada pela Petrobras.
O evento ocupa cinco salas em dois andares da Fundação e é dividido nas seções social, Brasil, Universal e Argentina e Uruguai.
A social reúne obras que ilustram a vida das massas, os imigrantes, os êxodos, a fome e a fuga da miséria, temas que transformaram Portinari no maior representante da chamada "arte das massas" no Brasil.
A série Brasil reúne quadros representativos da cultura brasileira, como o "Flautista" (1934). A coleção universal incluiu obras da série "Dom Quixote", produzidas em 1956 em lápis de cor, quando Portinari, já debilitado pela intoxicação provocada pelo chumbo das tintas, causa da morte do Pintor, foi proibido de pintar.
A seção Argentina e Uruguai apresenta quadros, gravuras e manuscritos da época em que o artista viveu na Argentina e no Uruguai, entre 1947 e 1948, como a tela "Mulher e Criança" (1948). O auto-exílio de Portinari na Argentina e no Uruguai foi motivado pela perseguição do governo Eurico Gaspar Dutra (1946-50) aos comunistas, como conta João Cândido. Militante do Partido Comunista do Brasil, Portinari encontrou, em 1947, uma Argentina no auge do Peronismo, ambiente político que acolheu sua arte representativa das massas.
Em Buenos Aires, Portinari conheceu os poetas espanhóis Rafael Alberti e León Felipe, os chilenos Pablo Neruda e Gabriela Mistral e o cubano Nicolás Guillén.
O ponto forte da experiência de Portinari nos países vizinhos do Sul foi em 1948, quando apresentou, em Montevidéu, a Conferência "O Sentido Social da Arte", em que falou do realismo concreto de sua arte e da militância política.
"Já conhecia Portinari, cuja obra é bastante famosa na Argentina, mas nunca havia visto uma exposição dele. Estou bastante impressionado", disse o estudante de cinema, Fernando Krapp, que visitava a exposição.



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