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FOTOGRAFIA
Instituto Moreira Salles exibe no Rio 300 imagens de um dos mais importantes fotógrafos de paisagens nacionais
Lente de Marc Ferrez foca o Brasil em transformação
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Somando seu talento à época
em que viveu (1843-1923), Marc
Ferrez teve a chance de ser o fotógrafo de diferentes Brasis: o ainda
rural e o cada vez mais urbano; o
das gentes pobres do interior e o
das gentes pobres das cidades em
crescimento; o imperial, em que a
maior parte dos fatos se dava na
esfera privada, e o republicano,
quando começou a existir, justificando o nome do regime, uma esfera pública.
É esse país em movimento que
se contempla nas 300 fotos de "O
Brasil de Marc Ferrez", exposição
que abre hoje para convidados e
amanhã para o público no Instituto Moreira Salles, no Rio -não
há data para a mostra chegar a
São Paulo. É o maior conjunto já
exposto de registros feitos por um
dos maiores fotógrafos brasileiros, carioca filho de franceses.
A exposição abre uma semana
depois de ter sido descoberto o
sumiço de fotos de Marc Ferrez
do setor de iconografia da Biblioteca Nacional. A situação desvela
uma triste situação: fotos deixadas pelo imperador d. Pedro 2º
para a biblioteca sumiram por
causa da inépcia dos responsáveis
pela instituição pública; fotos
guardadas pela família de Ferrez
foram compradas por um instituto privado e estão a salvo.
"Compramos em 1998 a coleção
Gilberto Ferrez [neto de Marc] e
ainda adquirimos fotos de outras
coleções particulares. Temos, certamente, o maior conjunto de fotos de Marc Ferrez que existe. Essa exposição é apenas uma fração
do que se pode fazer com esse material impressionante", afirma
Antonio Fernando De Franceschi,
superintendente do IMS e curador, ao lado de Sergio Burgi.
Ele afirma que não há possibilidade de haver duplicidade entre
as imagens sumidas da biblioteca
e as que são do IMS, já que há conjuntos diferentes de originais.
Para "O Brasil de Marc Ferrez",
Franceschi diz que não tentou fazer uma seleção ao estilo "o melhor de". A tarefa seria quase irrealizável, já que o IMS tem 5.500
fotos de Ferrez -4.000 negativos
originais de vidro. "Procuramos
fazer um recorte amplo e variado,
que atravessasse de modo diagonal a obra. Há uma diversidade de
temas, estilos e épocas."
Há desde fotos do início da carreira de Ferrez, nos anos 1860,
quando a pesada aparelhagem
precisava ser carregada em lombo
de mula, até imagens posteriores
a 1915, quando ele já usava, pioneiramente, a técnica do autocromo -fotos coloridas, já feitas por
máquinas portáteis.
"Ao acompanhar a trajetória de
Ferrez, também acompanhamos
as inovações tecnológicas que
surgiam década a década, e as
transformações estéticas que elas
proporcionavam", diz o curador.
Se nos primórdios era impossível, por exemplo, captar a instantaneidade de fenômenos como a
água caindo de uma cachoeira,
com o tempo Ferrez foi tendo
condições de se tornar o maior fotógrafo das paisagens brasileiras.
"Ele registrou, na década de
1880, um momento de harmonia
suprema na história da baía de
Guanabara, quando ainda havia
equilíbrio entre o natural e o
construído. Depois, no início do
século 20, acompanhou a chegada
da modernidade ao Rio, fotografando toda a obra da avenida Central", diz Franceschi, referindo-se
à atual avenida Rio Branco, inaugurada em 1905 como símbolo
maior das reformas feitas por Pereira Passos, inspiradas em Paris.
Na Marinha Imperial e na Comissão Geográfica e Geológica do
Império, Ferrez pôde percorrer o
país, fotografando campos, estradas de ferro e cidades.
Mesmo tendo se consagrado como um paisagista, Ferrez também
foi um exímio retratista. Fotografou índios no Mato Grosso e outros personagens do interior. No
Rio, enquadrou mascates, amoladores de facas, costureiras e trabalhadores de rua, além de figuras
públicas como Machado de Assis.
Um catálogo está sendo lançado
com a exposição. O museu Carnavalet, em Paris, abre mostra de
Ferrez em 20 de setembro.
O Brasil de Marc Ferrez (1843-1923)
Quando: de amanhã a 23/10
(ter. a dom., das 13h às 20h)
Onde: Instituto Moreira Salles
(r. Marquês de São Vicente, 476, RJ,
tel. 0/ xx/21/3284-7400)
Quanto: entrada gratuita;
catálogo (R$ 128, 320 págs.)
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