São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 2005

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FOTOGRAFIA

Instituto Moreira Salles exibe no Rio 300 imagens de um dos mais importantes fotógrafos de paisagens nacionais

Lente de Marc Ferrez foca o Brasil em transformação

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Somando seu talento à época em que viveu (1843-1923), Marc Ferrez teve a chance de ser o fotógrafo de diferentes Brasis: o ainda rural e o cada vez mais urbano; o das gentes pobres do interior e o das gentes pobres das cidades em crescimento; o imperial, em que a maior parte dos fatos se dava na esfera privada, e o republicano, quando começou a existir, justificando o nome do regime, uma esfera pública.
É esse país em movimento que se contempla nas 300 fotos de "O Brasil de Marc Ferrez", exposição que abre hoje para convidados e amanhã para o público no Instituto Moreira Salles, no Rio -não há data para a mostra chegar a São Paulo. É o maior conjunto já exposto de registros feitos por um dos maiores fotógrafos brasileiros, carioca filho de franceses.
A exposição abre uma semana depois de ter sido descoberto o sumiço de fotos de Marc Ferrez do setor de iconografia da Biblioteca Nacional. A situação desvela uma triste situação: fotos deixadas pelo imperador d. Pedro 2º para a biblioteca sumiram por causa da inépcia dos responsáveis pela instituição pública; fotos guardadas pela família de Ferrez foram compradas por um instituto privado e estão a salvo.
"Compramos em 1998 a coleção Gilberto Ferrez [neto de Marc] e ainda adquirimos fotos de outras coleções particulares. Temos, certamente, o maior conjunto de fotos de Marc Ferrez que existe. Essa exposição é apenas uma fração do que se pode fazer com esse material impressionante", afirma Antonio Fernando De Franceschi, superintendente do IMS e curador, ao lado de Sergio Burgi.
Ele afirma que não há possibilidade de haver duplicidade entre as imagens sumidas da biblioteca e as que são do IMS, já que há conjuntos diferentes de originais.
Para "O Brasil de Marc Ferrez", Franceschi diz que não tentou fazer uma seleção ao estilo "o melhor de". A tarefa seria quase irrealizável, já que o IMS tem 5.500 fotos de Ferrez -4.000 negativos originais de vidro. "Procuramos fazer um recorte amplo e variado, que atravessasse de modo diagonal a obra. Há uma diversidade de temas, estilos e épocas."
Há desde fotos do início da carreira de Ferrez, nos anos 1860, quando a pesada aparelhagem precisava ser carregada em lombo de mula, até imagens posteriores a 1915, quando ele já usava, pioneiramente, a técnica do autocromo -fotos coloridas, já feitas por máquinas portáteis.
"Ao acompanhar a trajetória de Ferrez, também acompanhamos as inovações tecnológicas que surgiam década a década, e as transformações estéticas que elas proporcionavam", diz o curador.
Se nos primórdios era impossível, por exemplo, captar a instantaneidade de fenômenos como a água caindo de uma cachoeira, com o tempo Ferrez foi tendo condições de se tornar o maior fotógrafo das paisagens brasileiras.
"Ele registrou, na década de 1880, um momento de harmonia suprema na história da baía de Guanabara, quando ainda havia equilíbrio entre o natural e o construído. Depois, no início do século 20, acompanhou a chegada da modernidade ao Rio, fotografando toda a obra da avenida Central", diz Franceschi, referindo-se à atual avenida Rio Branco, inaugurada em 1905 como símbolo maior das reformas feitas por Pereira Passos, inspiradas em Paris.
Na Marinha Imperial e na Comissão Geográfica e Geológica do Império, Ferrez pôde percorrer o país, fotografando campos, estradas de ferro e cidades.
Mesmo tendo se consagrado como um paisagista, Ferrez também foi um exímio retratista. Fotografou índios no Mato Grosso e outros personagens do interior. No Rio, enquadrou mascates, amoladores de facas, costureiras e trabalhadores de rua, além de figuras públicas como Machado de Assis.
Um catálogo está sendo lançado com a exposição. O museu Carnavalet, em Paris, abre mostra de Ferrez em 20 de setembro.


O Brasil de Marc Ferrez (1843-1923)
Quando:
de amanhã a 23/10 (ter. a dom., das 13h às 20h)
Onde: Instituto Moreira Salles (r. Marquês de São Vicente, 476, RJ, tel. 0/ xx/21/3284-7400)
Quanto: entrada gratuita; catálogo (R$ 128, 320 págs.)


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