São Paulo, sábado, 26 de julho de 2008

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Arte de cubanos questiona arquitetura

Los Carpinteros abordam, no galpão da Fortes Vilaça, os limites que as construções impõem à vida

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Os cubanos Marco Castillo e Dagoberto Rodríguez, juntos na dupla Los Carpinteros, tentam jogar golfe no campo que a revolução transformou em escola de arte. Numa das primeiras obras que fizeram juntos, eles se auto-retrataram, desajeitados entre margaridas, na onda de um modernismo que varreu a burguesia da ilha e deixou no rastro só a nostalgia. Agora, 14 anos depois, voltam a Havana com a instalação "Alto Parlante Solimar", escultura que a dupla mostra na segunda individual que faz no Brasil, aberta hoje no galpão da galeria Fortes Vilaça, em São Paulo. Em madeira negra, Los Carpinteros reconstroem o primeiro prédio modernista erguido em Cuba, mas, no lugar das janelas, instalaram alto-falantes mudos. "Nos interessa ter voz", diz Castillo. "A palavra é algo complexo em Cuba." O prédio numa área deteriorada do centro de Havana hoje abriga famílias de baixa renda, já que boa parte dos ocupantes originais migraram para os Estados Unidos e a Europa. Esse molde que a arquitetura consegue impor à vida é tema caro à dupla, que participa agora em Londres da mostra "Psycho Buildings", na Heyward Gallery. Lá, eles explodiram um conjunto de sala e cozinha e suspenderam no ar os destroços do mobiliário. "A arquitetura é capaz de expandir ou diminuir a vida." Em São Paulo, eles migram da sala para o quarto e constroem duas camas -uma delas faz uma curva e passa por cima da outra. "São camas que têm uma atitude", diz Rodríguez. "É a ternura feita de materiais rígidos", acrescenta Castillo. Los Carpinteros expõem também quatro aquarelas que servem de esboço para obras futuras, além de elo com outra exposição no galpão da galeria.

Geometrismo dócil
Representante da jovem geração de pintores paulistas, Marina Rheingantz faz sua individual de estréia com oito telas. Se Los Carpinteros travam logo ao lado um embate nada sereno com a arquitetura, Rheingantz sai em busca de lugares que nem conhece. De um geometrismo dócil e paleta desbotada, são vastas paisagens vazias e vistas aéreas -novas telas da mesma safra poderão ser vistas numa coletiva do grupo de pintores 2000 e 8 em agosto no Sesc Pinheiros. "Eu penso em buscar mais cor, mas é difícil chegar a ela", diz a artista. Por enquanto, em sua obra, só as bordas dos quadros ganham cores mais fortes. Mais coloridas, seis telas do holandês Gerben Mulder podem ser vistas na sede da Fortes Vilaça, na Vila Madalena.

LOS CARPINTEROS E MARINA RHEINGANTZ
Quando: abertura hoje, às 13h; de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h; até 23/8
Onde: galpão da Fortes Vilaça (r. James Holland, 71, tel. 0/xx/11/ 3392-3942; livre)
Quanto: entrada franca

GERBEN MULDER
Quando: de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h; até 23/8
Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 0/xx/11/ 3032-7066; livre)
Quanto: entrada franca



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