São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 2011

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Ocidente atualiza formas das mesquitas

Obras em Nova York e Londres aposentam domos e minaretes para criar arquitetura muçulmana contemporânea

Park51, em Manhattan, é uma torre de vidro de 20 andares, enquanto nova mesquita londrina lembra um enorme anel

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Duas quadras separam o antigo endereço das Torres Gêmeas, destruídas no maior ataque terrorista em solo americano, de uma nova mesquita em Nova York.
Mas o projeto para o número 51 da rua Park Place pouco lembra a estrutura de domos e minaretes dos edifícios religiosos dos muçulmanos. É uma torre de 20 andares, com fachada de vidro sustentada por um padrão geométrico em forma de colmeia. Sob artilharia pesada de gente que vê no projeto uma afronta, "monumento ao islã a poucos metros de um massacre", o escritório de arquitetura Soma, por trás da obra, acabou declarando que a construção nada tem a ver com a mesquita tradicional. "Nossa proposta não busca referências históricas nem manipula ou recombina símbolos do passado", diz um texto da firma. "Não estudamos história para traduzir mesquitas à modernidade."
De certa forma, o Park51 virou símbolo de uma revolução na linguagem arquitetônica das mesquitas em tempos de islamofobia acirrada e no rastro da morte estrondosa de Osama bin Laden.
Saíram de cena domos, arcos e minaretes e entraram referências sutis. A torre nova-iorquina pode não parecer de longe uma mesquita, mas sua fachada é nada mais que um enorme muxarabi, as treliças árabes que filtram a luz de fora para dentro do prédio. Arquitetos por trás das novas mesquitas, aliás, costumam lembrar que uma construção do tipo começou com nada além de linhas no deserto apontando para Meca.

MEGAMESQUITA
"Devemos usar os mesmos princípios dessa arquitetura e não as mesmas formas", diz Ali Mangera, que projetou o Abbey Mills Islamic Centre em Londres. "Uma mesquita pode ser orgânica, cúbica, qualquer coisa, depende do uso que se quer fazer dela." Tachada de megamesquita, com capacidade para 12 mil pessoas, sua obra é um anel elástico gigante que articula cheios e vazios, lembrando as formas fluidas da arquiteta Zaha Hadid, iraquiana radicada em Londres.
Mas a construção, que faria parte do complexo olímpico londrino, está paralisada por um abaixo-assinado de 48 mil nomes contrários à ideia de um edifício muçulmano maior em dimensão do que a catedral de St. Paul e orçado em R$ 455 milhões. Esse é só um dos orçamentos vistosos de obras cada vez mais requisitadas. No Reino Unido, o número de mesquitas quadruplicou em 30 anos.
Em Londres, outras obras do tipo agora em construção lembram galerias de arte. São cubos metálicos, com fachadas de padrões geométricos.
Também reinterpretam formas clássicas, como os arcos das mesquitas antigas, em referência aos muros das ferrovias britânicas, como se camuflassem no desenho elementos da arquitetura local.
"Há uma tendência na arquitetura religiosa contemporânea de fazer prédios em linguagem modernista", diz Shahed Saleem, arquiteto britânico por trás dos projetos. "Queremos uma nova arquitetura muçulmana que seja europeia ao mesmo tempo."


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