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JAZZ
DVDs oferecem salada de Montreux
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
Há quem vá para Montreux
atrás dos deliciosos chocolates suíços. Outros, para comer
fondue num bucólico restaurante
às margens do lago Léman. Mas
há 38 anos, quando as folhinhas
do calendário já estão pela metade, a cidade é invadida por uma
horda faminta de boa música que
se aglomera em torno da interessante salada musical do Festival
de Jazz de Montreux.
É um encontro eclético que costuma reunir as melhores e mais
famosas bandas e músicos de cada época a revelações e apostas do
mercado fonográfico, além de revivals de décadas anteriores.
Só uma pequena relação dos
músicos brasileiros que já passaram pelo festival dá a exata noção
do que é o ecletismo de Montreux: João Gilberto, Beth Carvalho, Pepeu Gomes, Hermeto Pascoal, Daniela Mercury, Paralamas
e o grupo de axé É o Tchan.
O festival que nasceu nas dissonâncias do jazz e consagrou
monstros como o pianista canadense Oscar Peterson tem hoje
mais a cara da tal "world music"
-reuniu em 2005 de Jorge Aragão a Garbage. Se isso é bom ou
ruim? Depende do gosto da platéia. Ou do telespectador, no caso
dos novos lançamentos em DVD
do selo brasileiro ST2.
O destaque desta nova fornada
que já está à venda são as três gravações de shows de jazz produzidos por ninguém menos do que
Norman Granz. Uma das figuras
mais importantes dos bastidores
da música no século 20, ele pode
ser chamado tranqüilamente de
Mr. Jazz, por ter criado o selo Verve e trabalhado em discos de
Charlie Parker, Billie Holiday e
outras dezenas de craques.
A gema mais valiosa do lote é o
show de Dizzy Gillespie e seu sexteto, em 1977. O bochechudo
trompetista faz improvisações
sensacionais com uma banda de
primeira e arrisca até um scat singing (quando o músico canta
através de onomatopéias e palavras inexistentes). Destaque para
os lindos e vigorosos solos do vibrafonista Milt Jackson.
É curioso observar as roupas
dos músicos, um visual datado
dos anos 70 com longas golas das
camisas sobre os paletós. No
show do pianista Tommy Flanagan com seu trio, do mesmo ano,
o "must" são os paletós xadrez.
A terceira gravação também retroage no tempo e flagra Oscar
Peterson num show solo, em
1975. Um dedilhado vigoroso,
permeado de longas improvisações, marca a apresentação. Peterson devia estar certo quando
disse que "o jazz, sendo essencialmente um meio de improvisação,
oferece ao ouvinte as mais íntimas
revelações do artista".
Os três DVDs de jazz dessa coleção trazem comentários do crítico
Nat Hentoff, que já havia organizado outros oito títulos. Apesar
do ritmo arrastado da narração
-lido em tom professoral-, sobram histórias bem saborosas,
como aquela em que Norman
Granz teria arrancado madame
Fitzgerald de um show porque
não lhe deram camarim digno.
São nos outros quatro shows
que o ecletismo de Montreux
transforma-se em irregularidade.
O único ponto de encontro é o de
partida, com influências da musica negra norte-americana através
de levadas de jazz e blues. Na carreira e no palco, cada um seguiu
por um caminho diferente, com
mais ou menos brilho.
O ponto alto é a apresentação
do lunático George Clinton e sua
banda de nome mutante, ora chamada de Parliament, ora de Funkadelic. Ele mostra em Montreux
petardos musicais que o consagraram nos anos 70 como grande
alquimista de funks, souls e rock.
É uma boa aula de R&B para a garotada que acabou de conhecer o
rap de Eminem e de Snoop Dogg
-que, com certeza, beberam da
fonte alucinógena de Clinton.
Em 2004, três décadas após o
auge da disco music, Nile Rodgers
e sua banda Chic ressurgem em
Montreux com os mesmos hits de
sempre: "Le Freak", "Everybody
Dance" e "Dance, Dance, Dance".
Para quem ainda curte John Travolta rebolando nos "Embalos de
Sábado à Noite", um prato cheio.
O cantor inglês Joe Cocker também parece que não viu o tempo
passar e, quase 20 anos depois de
Woodstock, ainda arrisca sua voz
rouca em clássicos dos Beatles e
de Bob Dylan. Por fim, o show da
banda Moody Blues, comemorando seu 25º aniversário.
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