São Paulo, sexta-feira, 26 de agosto de 2005

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JAZZ

DVDs oferecem salada de Montreux

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

Há quem vá para Montreux atrás dos deliciosos chocolates suíços. Outros, para comer fondue num bucólico restaurante às margens do lago Léman. Mas há 38 anos, quando as folhinhas do calendário já estão pela metade, a cidade é invadida por uma horda faminta de boa música que se aglomera em torno da interessante salada musical do Festival de Jazz de Montreux.
É um encontro eclético que costuma reunir as melhores e mais famosas bandas e músicos de cada época a revelações e apostas do mercado fonográfico, além de revivals de décadas anteriores.
Só uma pequena relação dos músicos brasileiros que já passaram pelo festival dá a exata noção do que é o ecletismo de Montreux: João Gilberto, Beth Carvalho, Pepeu Gomes, Hermeto Pascoal, Daniela Mercury, Paralamas e o grupo de axé É o Tchan.
O festival que nasceu nas dissonâncias do jazz e consagrou monstros como o pianista canadense Oscar Peterson tem hoje mais a cara da tal "world music" -reuniu em 2005 de Jorge Aragão a Garbage. Se isso é bom ou ruim? Depende do gosto da platéia. Ou do telespectador, no caso dos novos lançamentos em DVD do selo brasileiro ST2.
O destaque desta nova fornada que já está à venda são as três gravações de shows de jazz produzidos por ninguém menos do que Norman Granz. Uma das figuras mais importantes dos bastidores da música no século 20, ele pode ser chamado tranqüilamente de Mr. Jazz, por ter criado o selo Verve e trabalhado em discos de Charlie Parker, Billie Holiday e outras dezenas de craques.
A gema mais valiosa do lote é o show de Dizzy Gillespie e seu sexteto, em 1977. O bochechudo trompetista faz improvisações sensacionais com uma banda de primeira e arrisca até um scat singing (quando o músico canta através de onomatopéias e palavras inexistentes). Destaque para os lindos e vigorosos solos do vibrafonista Milt Jackson.
É curioso observar as roupas dos músicos, um visual datado dos anos 70 com longas golas das camisas sobre os paletós. No show do pianista Tommy Flanagan com seu trio, do mesmo ano, o "must" são os paletós xadrez.
A terceira gravação também retroage no tempo e flagra Oscar Peterson num show solo, em 1975. Um dedilhado vigoroso, permeado de longas improvisações, marca a apresentação. Peterson devia estar certo quando disse que "o jazz, sendo essencialmente um meio de improvisação, oferece ao ouvinte as mais íntimas revelações do artista".
Os três DVDs de jazz dessa coleção trazem comentários do crítico Nat Hentoff, que já havia organizado outros oito títulos. Apesar do ritmo arrastado da narração -lido em tom professoral-, sobram histórias bem saborosas, como aquela em que Norman Granz teria arrancado madame Fitzgerald de um show porque não lhe deram camarim digno.
São nos outros quatro shows que o ecletismo de Montreux transforma-se em irregularidade. O único ponto de encontro é o de partida, com influências da musica negra norte-americana através de levadas de jazz e blues. Na carreira e no palco, cada um seguiu por um caminho diferente, com mais ou menos brilho.
O ponto alto é a apresentação do lunático George Clinton e sua banda de nome mutante, ora chamada de Parliament, ora de Funkadelic. Ele mostra em Montreux petardos musicais que o consagraram nos anos 70 como grande alquimista de funks, souls e rock. É uma boa aula de R&B para a garotada que acabou de conhecer o rap de Eminem e de Snoop Dogg -que, com certeza, beberam da fonte alucinógena de Clinton.
Em 2004, três décadas após o auge da disco music, Nile Rodgers e sua banda Chic ressurgem em Montreux com os mesmos hits de sempre: "Le Freak", "Everybody Dance" e "Dance, Dance, Dance". Para quem ainda curte John Travolta rebolando nos "Embalos de Sábado à Noite", um prato cheio.
O cantor inglês Joe Cocker também parece que não viu o tempo passar e, quase 20 anos depois de Woodstock, ainda arrisca sua voz rouca em clássicos dos Beatles e de Bob Dylan. Por fim, o show da banda Moody Blues, comemorando seu 25º aniversário.


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