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Livros
Calder volta ao Brasil em livro e mostra
Lançamento da Cosacnaif e exposição na Pinacoteca do Estado rastreiam relações do artista norte-americano com o país
Amigo de Niemeyer,
Calder planejou escultura de 15 metros para a praça dos
Três Poderes, em Brasília;
projeto nunca saiu do papel
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A obra mais importante da
mostra "Calder no Brasil", que
a Pinacoteca abre hoje ao público, paralelamente ao lançamento de um livro com o mesmo título pela editora Cosacnaif, é, na verdade, uma não-obra. Há mais de cinco anos
pesquisando as relações entre
Alexander Calder (1898-1976) e
o Brasil, Roberta Saraiva, diretora do Museu Lasar Segall,
descobriu que o norte-americano havia projetado uma escultura de 15 metros para a praça dos Três Poderes, em Brasília, quando de sua inauguração.
"O Calder conheceu o Niemeyer, em 1959, e quando voltou aos EUA realizou uma maquete para a praça. A obra, entretanto, nunca foi realizada, e
não encontrei justificativa para
isso", conta a pesquisadora.
Com isso, Saraiva, também
curadora da mostra, apresenta
um desenho de Niemeyer da
praça, em Brasília, sem, no entanto, o que seria uma importante referência internacional
na capital do país.
Mesmo sem tal obra, "Calder
no Brasil" revela os profundos
vínculos que o artista manteve
com o país, que vão além das
três vezes em que esteve aqui
pessoalmente, a primeira em
1948, para expor no Ministério
da Educação, no Rio, e no Museu de Arte de São Paulo.
Por conta dessa constante
presença, Calder está bem representado não só no Masp como também no Museu de Arte
Contemporânea da USP, além
de estar em várias coleções particulares. A exposição apresenta 50 obras, a maior parte de
acervos brasileiros, com sete
trabalhos da Fundação Calder,
de Nova York. Também há um
farto material documental de
sua presença, com fotos de todas as exposições, além de quatro documentários, que retratam suas visitas.
A primeira vez que uma obra
do artista foi vista por aqui, entretanto, foi em 1939, num Salão de Maio, em São Paulo, provavelmente por iniciativa de
Flávio de Carvalho, promotor
da exposição. O texto que apresentava o artista na mostra,
sem assinatura, o apresentava
como "um dos maiores arquitetos ianques e que se notabilizou
por ter sido o criador da chamada "escultura móvel'". Esse termo, aliás, foi rebatizado como
"móbile", por Marcel Duchamp, termo que se tornou sinônimo de Calder.
Em 1943, o crítico brasileiro
Mario Pedrosa visita a retrospectiva dedicada ao artista no
Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). Anos depois,
os dois se tornam amigos, e,
quando Pedrosa cria o Museu
da Solidariedade, no Chile, Calder é um dos primeiros artistas
a doar obras ao acervo.
"Foi após visitar a mostra no
MoMA que Pedrosa escreveu
seu primeiro texto em defesa
do abstracionismo, que depois
seria uma de suas grandes campanhas", conta Saraiva.
Em 1948, Calder vem expor
no Brasil a convite do arquiteto
Henrique Mindlin. "Por meio
do Mindlin, Calder entra em
contato com a arquitetura moderna brasileira, com a qual se
identifica. Ele elogia muito, por
exemplo, o prédio do Ministério da Educação, criado por Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e Le
Corbusier", conta Saraiva.
Calder teve grande visibilidade no país em 1953, por ocasião
da 2ª Bienal de São Paulo
-aquela que expôs também
"Guernica", de Picasso-, onde
teve uma sala com 45 obras.
Mas, nessa ocasião, ele não esteve presente pessoalmente
-foi Pedrosa quem cuidou da
instalação de suas obras.
Sua segunda visita é em 1959,
quando ocorre o congresso da
Associação Internacional de
Críticos de Arte, do qual participou Giulio Argan, entre outros, e é quando conhece Niemeyer e se empolga com o projeto da escultura para a praça
dos Três Poderes. Alguns meses depois, em 1960, Calder retorna com a maquete da obra
jamais realizada na bagagem.
"Essa última visita ele fez
também para ver o Carnaval
brasileiro, que ele sempre manifestou vontade de conhecer.
O Brasil, de fato, foi muito inspirador em suas obras, ele usou
figas como imagem, criou trabalhos com nomes como Jacarandá e Corcovado", diz ainda
Saraiva. Lamentável, entretanto, que seu amor pelo país não
tenha sido correspondido, ficando vazio o espaço que cabia
à sua obra em Brasília.
CALDER NO BRASIL
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da
Luz, 2, SP, tel. 0/xx/11/3229-9844)
Quando: abertura hoje, das 11h às 14h;
ter. a dom., das 10h às 18h. Até 15/10
Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados)
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