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"Não sabia se estava tocando bem ou não"
Chinês que venceu concurso elogia restaurantes de SP e diz que desconhecia Villa-Lobos
O pianista Chun Wang, de 16 anos, fala sobre sua experiência no Brasil e diz que Pequim e São Paulo são cidades semelhantes
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O vencedor do Concurso Internacional de Piano Villa-Lobos preparou todo o repertório
da competição em apenas dois
meses e sozinho. "Meu professor, Jin Zhang, viaja muito, e
não teve tempo para me ajudar", afirma, com singeleza, o
chinês Chun Wang, 16.
Cercado de uma polêmica
que repercutiu em jornais internacionais, como o "The New
York Times", em texto de Larry
Rother, e o "Le Monde", em artigo de Alain Lompech, que
veio ao Brasil como jurado da
competição, o concurso terminou no sábado passado.
Embora tenha cativado o júri, Wang não teve a mesma resposta do público. Na votação
popular, ficou apenas em terceiro lugar. Para os especialistas, a contradição se explica
porque na prova em que ele foi
mais elogiado (aquela em que
tocou "Gaspard de la Nuit", de
Ravel), havia menos gente do
que na problemática semifinal,
em que o artista sofreu desencontros com a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São
Paulo), regida por Victor Hugo
Toro, no "Concerto n.2", de
Rachmaninov. "Como aprendi
tudo sozinho, não sabia se estava tocando bem ou não", diz.
Pela vitória no concurso,
Wang embolsou um prêmio de
US$ 30 mil. Vai gravar um CD e
fazer três apresentações na série da Osesp, em abril do ano
que vem. O prêmio inclui ainda
recitais no Rio de Janeiro e
Porto Alegre, além de apresentações na China e na Suíça.
Adolescente
Wang é um "teen" sorridente
e de cabelo arrepiado, que fala
inglês com correção, e só trai
sua ansiedade ao agarrar firmemente o braço da poltrona do
interlocutor. Circula por São
Paulo acompanhado pela mãe,
uma chinesa jovem, também
sorridente e calada, aparentemente não tão fluente em inglês quanto o filho. Prefere ser
tratada como "Miss Wang"
porque considera seu nome
"muito complicado".
Nem ela, nem o pai são musicistas. "Miss Wang" conta, com
simplicidade, que colocou o filho para estudar piano simplesmente porque "gostava do instrumento".
"O piano é o instrumento
mais popular da China", reforça o jovem. "Quando os pais
querem que o filho aprenda um
instrumento musical, encaminham-no para o piano".
Ele nasceu na cidade de Fuzhou, na província meridional
de Fujian, perto da rebelde ilha
de Taiwan. Começou a se musicalizar aos cinco anos de idade,
em um piano elétrico, encaminhando-se para o piano acústico aos oito. Aos 12, veio a mudança para Pequim.
"São duas cidades muito parecidas", diz, comparando a capital chinesa a São Paulo. "São
vivas, atarefadas, cheias de gente e com muito trânsito", afirma, ressaltando não ver grande
diferença entre a culinária de
Pequim e a comida chinesa que
comeu por aqui. "Os restaurantes chineses de São Paulo são
bem tradicionais".
Do concurso, ele ficou sabendo graças à visita de um representante do Itamaraty à escola
de música em que estuda.
Preenchido o formulário,
Wang passou a estudar as obras
de Villa-Lobos, obrigatórias no
concurso.
O pianista admite que jamais
tinha ouvido falar no maior
compositor brasileiro de todos
os tempos. "A música dele é
exótica, mas não especialmente difícil", conta. "Gostei bastante, e acabei comprando várias partituras aqui no Brasil".
A argentina Martha Argerich
e os italianos Maurizio Pollini e
Arturo Benedetti Michelangeli
são os maiores ídolos do vencedor do concurso, que pretende
se aperfeiçoar fora da China, de
preferência no Velho Continente. "Na Europa, há muitos
astros do piano atrás dos quais
a gente pode ir para ser orientado, e as distâncias são menores
que nos EUA", diz.
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