São Paulo, sábado, 26 de agosto de 2006

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"Não sabia se estava tocando bem ou não"

Chinês que venceu concurso elogia restaurantes de SP e diz que desconhecia Villa-Lobos

O pianista Chun Wang, de 16 anos, fala sobre sua experiência no Brasil e diz que Pequim e São Paulo são cidades semelhantes


IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O vencedor do Concurso Internacional de Piano Villa-Lobos preparou todo o repertório da competição em apenas dois meses e sozinho. "Meu professor, Jin Zhang, viaja muito, e não teve tempo para me ajudar", afirma, com singeleza, o chinês Chun Wang, 16.
Cercado de uma polêmica que repercutiu em jornais internacionais, como o "The New York Times", em texto de Larry Rother, e o "Le Monde", em artigo de Alain Lompech, que veio ao Brasil como jurado da competição, o concurso terminou no sábado passado.
Embora tenha cativado o júri, Wang não teve a mesma resposta do público. Na votação popular, ficou apenas em terceiro lugar. Para os especialistas, a contradição se explica porque na prova em que ele foi mais elogiado (aquela em que tocou "Gaspard de la Nuit", de Ravel), havia menos gente do que na problemática semifinal, em que o artista sofreu desencontros com a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), regida por Victor Hugo Toro, no "Concerto n.2", de Rachmaninov. "Como aprendi tudo sozinho, não sabia se estava tocando bem ou não", diz.
Pela vitória no concurso, Wang embolsou um prêmio de US$ 30 mil. Vai gravar um CD e fazer três apresentações na série da Osesp, em abril do ano que vem. O prêmio inclui ainda recitais no Rio de Janeiro e Porto Alegre, além de apresentações na China e na Suíça.

Adolescente
Wang é um "teen" sorridente e de cabelo arrepiado, que fala inglês com correção, e só trai sua ansiedade ao agarrar firmemente o braço da poltrona do interlocutor. Circula por São Paulo acompanhado pela mãe, uma chinesa jovem, também sorridente e calada, aparentemente não tão fluente em inglês quanto o filho. Prefere ser tratada como "Miss Wang" porque considera seu nome "muito complicado".
Nem ela, nem o pai são musicistas. "Miss Wang" conta, com simplicidade, que colocou o filho para estudar piano simplesmente porque "gostava do instrumento".
"O piano é o instrumento mais popular da China", reforça o jovem. "Quando os pais querem que o filho aprenda um instrumento musical, encaminham-no para o piano".
Ele nasceu na cidade de Fuzhou, na província meridional de Fujian, perto da rebelde ilha de Taiwan. Começou a se musicalizar aos cinco anos de idade, em um piano elétrico, encaminhando-se para o piano acústico aos oito. Aos 12, veio a mudança para Pequim.
"São duas cidades muito parecidas", diz, comparando a capital chinesa a São Paulo. "São vivas, atarefadas, cheias de gente e com muito trânsito", afirma, ressaltando não ver grande diferença entre a culinária de Pequim e a comida chinesa que comeu por aqui. "Os restaurantes chineses de São Paulo são bem tradicionais".
Do concurso, ele ficou sabendo graças à visita de um representante do Itamaraty à escola de música em que estuda. Preenchido o formulário, Wang passou a estudar as obras de Villa-Lobos, obrigatórias no concurso.
O pianista admite que jamais tinha ouvido falar no maior compositor brasileiro de todos os tempos. "A música dele é exótica, mas não especialmente difícil", conta. "Gostei bastante, e acabei comprando várias partituras aqui no Brasil".
A argentina Martha Argerich e os italianos Maurizio Pollini e Arturo Benedetti Michelangeli são os maiores ídolos do vencedor do concurso, que pretende se aperfeiçoar fora da China, de preferência no Velho Continente. "Na Europa, há muitos astros do piano atrás dos quais a gente pode ir para ser orientado, e as distâncias são menores que nos EUA", diz.


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