São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2007

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Andréa ilimitada

Décadas após o sucesso da sua Zelda Scott, na série "Armação Ilimitada", atriz estréia espetáculo em seu próprio teatro e vira produtora de cinema

Em "A Grande Família", Andréa vive a agregada Marilda, que "fuma, bebe, toma uns remédios e só namora cafajeste"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Aos 22 anos, em 1985, Andréa Beltrão começou a fazer sucesso como a Zelda Scott, de "Armação Ilimitada". Hoje, idade dobrada, ela é dona de teatro, produz e dirige peças, produz e atua em filmes, faz rir na série de TV "A Grande Família" e ainda desempenha o papel de mãe de três filhos.
Em meio a tantas Andréas, já não há mais lugar para Zelda Scott. Caso vingue, o filme sonhado por André Di Biase e Kadu Moliterno não terá a atriz revivendo a musa dos anos 80.
"Não me interessa. Já passei dessa idade. Acho que vão ter que chamar uma gatinha mais nova. Quero que façam muito sucesso, sejam felizes, mas quero assistir no cinema", diz.
Ela está tão envolvida com os ensaios da peça "As Centenárias", que estréia em 6 de setembro ao lado da amiga de 20 anos Marieta Severo, que nem teve tempo de abrir a recém-lançada caixa de DVDs com dez episódios de "Armação". Mas as recordações são boas.
"Zelda namorava dois caras, mas nunca ouvimos comentários do tipo: "Ah, que menina escrota, como ela é dada!". Era a mocinha, a heroína romântica. Hoje, a gente vê umas coisas na TV e diz: "Ah, que mão pesada!'", compara ela, lembrando com orgulho das tarjas pretas que a equipe do diretor Guel Arraes punha para cobrir sua nudez (estava de biquíni, na verdade). "Eu achava um charme. É muito melhor do que ficar de ladinho, só escondendo os fiofós."
Os filhos já andaram vendo trechos de "Armação" e, segundo ela, "acharam incrível" vê-la com dois namorados. ""Nossa, o papai sabia disso?". "O papai nem estava nessa fita ainda'", relembra o diálogo.
"Papai" é Maurício Farias, diretor do sucesso "A Grande Família" -média de 40 pontos de ibope na TV Globo e 2 milhões de espectadores no cinema. Andréa é a agregada Marilda, que "fuma, bebe, toma uns remédios, botou 600 ml de silicone e só namora cafajeste".
"A gente está precisando de um seio familiar, alguém em quem confiar. Para brigar, depois voltar e a pessoa dizer: "Senta e come, a comida vai ficar gelada". É alguma coisa que deve estar no ar, porque o programa fazer esse sucesso há sete anos é inexplicável", avalia.

Baixo orçamento
Até porque a família se estende ao cinema. Grande parte da equipe técnica que Farias coordena na TV trabalhou com ele e Andréa em "Verônica", primeiro filme produzido pela atriz. Foi rodado com R$ 500 mil em sistema de cooperativa: os profissionais receberam um cachê básico e o resto virá (ou não) da bilheteria. Falta o dinheiro da finalização.
Sem deixar de ser atriz -em "Jogo de Cena", de Eduardo Coutinho, e "Romance", de Guel Arraes, recentemente-, ela quer produzir mais: já tem outros dois projetos com Farias, e num deles nem atuará.
Tanto ímpeto se completa com o Poeira, o teatro que Andréa e Marieta abriram há dois anos em Botafogo (zona sul do Rio), perto do cemitério São João Batista. Mesmo sem perspectiva de recuperar o dinheiro investido, as duas compraram agora o terreno vizinho, para ampliar as instalações.
"Eu falei: "Marieta, se der errado essa porra, a gente abre como casa de velório. E aqui já tem caixão, música, carpideira", diz ela, referindo-se a elementos de "As Centenárias", peça de Newton Moreno, dirigida por Aderbal Freire-Filho, em que as atrizes interpretam carpideiras, entoam incelenças [canto de encomenda das almas] e driblam a morte.

"Panelinha demais"
O espetáculo tem patrocínio do Bradesco, a mesma empresa que, no ano passado, patrocinou a vinda ao Brasil do Cirque du Soleil, para a qual o Ministério da Cultura autorizou a captação de R$ 9,4 milhões.
"Aí houve um excesso. Não estou criticando meu patrocinador, mas critico os excessos da lei que permitiram essa captação gigante", afirma Andréa, que, embora sem empolgação, elogia Gilberto Gil. "Ele deu visibilidade ao ministério. Houve época em que nem se falava em cultura: "Que ministério? ele existe?". Era pior, tudo meio escondido, panelinha demais. Ficou um pouco mais aberto. Então, aparecem as qualidade e os defeitos", diz.
O Poeira tem dinheiro da Petrobras -o que leva as atrizes a criarem projetos com entrada franca- e muito trabalho das duas. "Nada do que uma quer choca a outra. Nossa amizade tem uma saúde mental que nós não temos", diz Marieta.


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