|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Andréa ilimitada
Décadas após o sucesso da sua Zelda Scott, na série "Armação Ilimitada",
atriz estréia espetáculo em seu próprio teatro e vira produtora de cinema
Em "A Grande Família", Andréa vive a agregada Marilda, que "fuma, bebe, toma uns remédios e só namora cafajeste"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Aos 22 anos, em 1985, Andréa Beltrão começou a fazer
sucesso como a Zelda Scott, de
"Armação Ilimitada". Hoje,
idade dobrada, ela é dona de
teatro, produz e dirige peças,
produz e atua em filmes, faz rir
na série de TV "A Grande Família" e ainda desempenha o papel de mãe de três filhos.
Em meio a tantas Andréas, já
não há mais lugar para Zelda
Scott. Caso vingue, o filme sonhado por André Di Biase e Kadu Moliterno não terá a atriz
revivendo a musa dos anos 80.
"Não me interessa. Já passei
dessa idade. Acho que vão ter
que chamar uma gatinha mais
nova. Quero que façam muito
sucesso, sejam felizes, mas quero assistir no cinema", diz.
Ela está tão envolvida com os
ensaios da peça "As Centenárias", que estréia em 6 de setembro ao lado da amiga de 20
anos Marieta Severo, que nem
teve tempo de abrir a recém-lançada caixa de DVDs com dez
episódios de "Armação". Mas
as recordações são boas.
"Zelda namorava dois caras,
mas nunca ouvimos comentários do tipo: "Ah, que menina
escrota, como ela é dada!". Era a
mocinha, a heroína romântica.
Hoje, a gente vê umas coisas na
TV e diz: "Ah, que mão pesada!'", compara ela, lembrando
com orgulho das tarjas pretas
que a equipe do diretor Guel
Arraes punha para cobrir sua
nudez (estava de biquíni, na
verdade). "Eu achava um charme. É muito melhor do que ficar de ladinho, só escondendo
os fiofós."
Os filhos já andaram vendo
trechos de "Armação" e, segundo ela, "acharam incrível" vê-la
com dois namorados. ""Nossa, o
papai sabia disso?". "O papai
nem estava nessa fita ainda'",
relembra o diálogo.
"Papai" é Maurício Farias, diretor do sucesso "A Grande Família" -média de 40 pontos de
ibope na TV Globo e 2 milhões
de espectadores no cinema.
Andréa é a agregada Marilda,
que "fuma, bebe, toma uns remédios, botou 600 ml de silicone e só namora cafajeste".
"A gente está precisando de
um seio familiar, alguém em
quem confiar. Para brigar, depois voltar e a pessoa dizer:
"Senta e come, a comida vai ficar gelada". É alguma coisa que
deve estar no ar, porque o programa fazer esse sucesso há sete anos é inexplicável", avalia.
Baixo orçamento
Até porque a família se estende ao cinema. Grande parte da
equipe técnica que Farias coordena na TV trabalhou com ele e
Andréa em "Verônica", primeiro filme produzido pela atriz.
Foi rodado com R$ 500 mil em
sistema de cooperativa: os profissionais receberam um cachê
básico e o resto virá (ou não) da
bilheteria. Falta o dinheiro da
finalização.
Sem deixar de ser atriz -em
"Jogo de Cena", de Eduardo
Coutinho, e "Romance", de
Guel Arraes, recentemente-,
ela quer produzir mais: já tem
outros dois projetos com Farias, e num deles nem atuará.
Tanto ímpeto se completa
com o Poeira, o teatro que Andréa e Marieta abriram há dois
anos em Botafogo (zona sul do
Rio), perto do cemitério São
João Batista. Mesmo sem perspectiva de recuperar o dinheiro
investido, as duas compraram
agora o terreno vizinho, para
ampliar as instalações.
"Eu falei: "Marieta, se der errado essa porra, a gente abre
como casa de velório. E aqui já
tem caixão, música, carpideira", diz ela, referindo-se a elementos de "As Centenárias",
peça de Newton Moreno, dirigida por Aderbal Freire-Filho,
em que as atrizes interpretam
carpideiras, entoam incelenças
[canto de encomenda das almas] e driblam a morte.
"Panelinha demais"
O espetáculo tem patrocínio
do Bradesco, a mesma empresa
que, no ano passado, patrocinou a vinda ao Brasil do Cirque
du Soleil, para a qual o Ministério da Cultura autorizou a captação de R$ 9,4 milhões.
"Aí houve um excesso. Não
estou criticando meu patrocinador, mas critico os excessos
da lei que permitiram essa captação gigante", afirma Andréa,
que, embora sem empolgação,
elogia Gilberto Gil. "Ele deu visibilidade ao ministério. Houve
época em que nem se falava em
cultura: "Que ministério? ele
existe?". Era pior, tudo meio escondido, panelinha demais. Ficou um pouco mais aberto. Então, aparecem as qualidade e os
defeitos", diz.
O Poeira tem dinheiro da Petrobras -o que leva as atrizes a
criarem projetos com entrada
franca- e muito trabalho das
duas. "Nada do que uma quer
choca a outra. Nossa amizade
tem uma saúde mental que nós
não temos", diz Marieta.
Texto Anterior: Trama une injustiça social e superpoderes Próximo Texto: Frase Índice
|