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Comentário
"Soprano" chega ao fim com seus encantos ordinários
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Só mesmo quem não estava no planeta ou esteve
em coma nos últimos
meses não sabe ainda como
acaba o último episódio da derradeira temporada de "Família
Soprano". Mesmo assim, não
custa contar para os desavisados: a saga da família de Tony
não termina com "the end".
O truque genial de David
Chase, criador da série, foi justamente dar esse golpe de mestre dramático ao esvaziar qualquer expectativa de desenlace
extraordinário.
Afinal, foi desse modo que os
Sopranos entraram com força
para o imaginário sociocultural
desde a estréia do seriado, no
fim dos anos 90.
Em vez de retomar pela enésima vez o herói mafioso em
seu ritual de ascensão e queda,
o que Chase trouxe para a TV
foi o cotidiano banal, as instáveis relações emocionais familiares (como a maioria de nós
vive) e um protagonista que sucumbe à crise existencial e cai
em estado depressivo (como
qualquer um já passou).
Há em tudo isso um inequívoco índice de modernidade
das narrativas de TV contemporâneas, que finalmente descobriram o verdadeiro valor do
"homem sem qualidades" e do
"herói sem nenhum caráter".
Se Tony não fosse um personagem tão ordinário, não haveria Dexter, o charme de Sawyer
não ameaçaria os encantos de
Jack em "Lost" e muito menos
Hiro convenceria como nerd-salvador-do-mundo em "Heroes". É como homem comum
que Tony pode se sentar numa
lanchonete ao lado da mulher e
do filho enquanto aguarda a filha chegar e, por isso mesmo,
manter milhões de espectadores grudados diante da TV.
Se no fim do episódio aparecesse "the end" depois de algum fato extraordinário, a
maioria dos fãs da série deveríamos acusar seus criadores de
alta traição.
FAMÍLIA SOPRANO
Quando: hoje, às 22h, na HBO
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