São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2007

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Comentário

"Soprano" chega ao fim com seus encantos ordinários

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Só mesmo quem não estava no planeta ou esteve em coma nos últimos meses não sabe ainda como acaba o último episódio da derradeira temporada de "Família Soprano". Mesmo assim, não custa contar para os desavisados: a saga da família de Tony não termina com "the end".
O truque genial de David Chase, criador da série, foi justamente dar esse golpe de mestre dramático ao esvaziar qualquer expectativa de desenlace extraordinário.
Afinal, foi desse modo que os Sopranos entraram com força para o imaginário sociocultural desde a estréia do seriado, no fim dos anos 90.
Em vez de retomar pela enésima vez o herói mafioso em seu ritual de ascensão e queda, o que Chase trouxe para a TV foi o cotidiano banal, as instáveis relações emocionais familiares (como a maioria de nós vive) e um protagonista que sucumbe à crise existencial e cai em estado depressivo (como qualquer um já passou).
Há em tudo isso um inequívoco índice de modernidade das narrativas de TV contemporâneas, que finalmente descobriram o verdadeiro valor do "homem sem qualidades" e do "herói sem nenhum caráter".
Se Tony não fosse um personagem tão ordinário, não haveria Dexter, o charme de Sawyer não ameaçaria os encantos de Jack em "Lost" e muito menos Hiro convenceria como nerd-salvador-do-mundo em "Heroes". É como homem comum que Tony pode se sentar numa lanchonete ao lado da mulher e do filho enquanto aguarda a filha chegar e, por isso mesmo, manter milhões de espectadores grudados diante da TV.
Se no fim do episódio aparecesse "the end" depois de algum fato extraordinário, a maioria dos fãs da série deveríamos acusar seus criadores de alta traição.


FAMÍLIA SOPRANO
Quando:
hoje, às 22h, na HBO


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