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BIA ABRAMO
O paraíso dos torpes
Com altos e baixos, "Paraíso Tropical" é a melhor telenovela dos últimos tempos
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A NOVELA que começa a acabar
vai entrar no ritmo de "quem
matou" e, com isso, se ganha
em suspense, perde um pouco da
graça. Mesmo com altos e baixos,
"Paraíso Tropical" é, certamente, a
melhor -e talvez última- grande
telenovela dos últimos tempos.
Se é verdade que Gilberto Braga
sempre se caracterizou por uma novela mais próxima da matriz literária, atualizando o melodrama e o romance realista do século 19 para outro meio e outros tempos, também
deve ser exato afirmar que ele -ou
Ricardo Linhares, ou ambos-
aprendeu muito sobre ritmo e velocidade com as séries norte-americanas. A novela combinou a agilidade
na condução da trama característica
da teledramaturgia praticada pelas
sitcoms com o desenho caprichado
dos personagens e a vivacidade para
criar e flagrar um entorno social
com alguma credibilidade.
"Celebridade", a novela anterior
de Braga para o horário da oito, ainda patinou muito no que diz respeito
ao ritmo. Em "Paraíso Tropical", em
todos os sentidos muito mais bem
acabada que sua antecessora, parece
que a lição foi aprendida -e isso
(quase) sem apelar para os recursos
mais rasteiros para manter a atenção do espectador.
Agora, "Paraíso Tropical" também
inaugura (ou radicaliza) um problema para a teledramaturgia: é possível ainda sustentar o conflito entre
herói(s) e vilão(ões)? Não apenas
por causa de uma certa incompetência de criar heróis e heroínas que não
passem o tempo todo a afirmar suas
qualidades intrínsecas e, de fato, façam algo além de se defender da perfídia dos vilões.
Mas talvez a crise do esquema esteja no fato de os vilões não serem
mais pérfidos -ou de um autor inteligente como Braga ser incapaz de
escrever um personagem simplesmente ruim por natureza. A torpeza
dos vilões de "Paraíso" ultrapassa as
explicações psicológicas de praxe. É
a afirmação de um estilo de vida, de
escolhas conscientes, pragmáticas e,
de certa forma, coerentes num mundo de pernas para o ar -mas uma
afirmação que se faz para si mesma,
sem proselitismo às avessas.
Assim, Braga-Linhares não cria
apenas vilões que são simpáticos e
charmosos (embora o sejam), mas
que, antes de tudo, nos parecem reivindicar uma possibilidade legítima,
se não no sentido moral, pelo menos
no existencial. E aí, como torcer?
Como torcer contra o amor sexy e
doce de Bebel e Olavo? Como querer
que a dignidade de Marion, professora de como se comportar bem na
torpeza, seja ferida? Como querer
que Jáder, cafetão violento, não possa proteger a filha recém-descoberta
de outro cafetão? E, por fim, pela
mesma régua, como crer no novo
Antenor?
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