São Paulo, quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O golpe do remake

Novo "Karate Kid" troca caratê pelo kung fu e perde a mão ao embarcar no piloto automático e fazer uso de tom moralista

Divulgação
O ator mirim Jaden Smith faz o papel de Dre no remake de "Karate Kid"

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

Os anos 80 deixaram uma grande saudade: a saudade dos anos 70.
No cinema, em especial, os anos 80 foram uma lástima.
Foi o apogeu dos "blockbusters", com lançamentos em milhares de salas e campanhas de marketing mais caras que os próprios filmes.
Obrigado, Spielberg e Lucas!
Mas lá se vão 30 anos. E os adolescentes de então são hoje os executivos que comandam os estúdios de Hollywood. Fácil explicar, portanto, o excesso de refilmagens que vemos por aí.
"Karate Kid" é a mais nova tentativa de ressuscitar uma franquia dos anos 80.
O original, de 1984, tinha Ralph Macchio (23 anos, mas com corpinho de 13) no papel de um fracote que aprende caratê com um velho mestre, o Sr. Miyagi (o saudoso Pat Morita), e se vinga dos fortões que o aterrorizavam.
No novo filme, Jaden Smith, filho do astro Will Smith ("Eu Sou a Lenda"), faz Dre Parker, que se muda para a China com a mãe.
O pequeno tem graves problemas de adaptação ao país e fica consternado quando vê "Bob Esponja" falando mandarim na TV. Impressionante a profundidade com que Hollywood trata questões como deslocamento cultural...
Para piorar, Dre passa a ser brutalizado por uma gangue mirim de ases do kung fu.
Mas ele conhece o sr. Han (Jackie Chan), um decadente mestre da pancadaria, que decide ensiná-lo segredos.
A fórmula de "Karate Kid" não tem mistério: menino apanha; menino aprende caratê; menino bate. O que não se entende é por que o diretor Harald Swart ("A Pantera Cor de Rosa 2") precisa de 2h20 para contar a história quando 15 minutos bastariam.

PIEGUICE
"Karate Kid" é mais um "blockbuster" feito no piloto automático: temos as inescapáveis cenas de kung fu em cenários deslumbrantes, um pouco de sabedoria oriental para dar um toque "exótico", o confronto de Dre com os algozes e a luta final, em câmera lenta, com música triunfal.
O filme traz aquela manjada pieguice moralista de "Rocky, um Lutador", e uma overdose de imagens da China que mais lembram propaganda turística.
Mas o pior é o protagonista. O pequeno Jaden consegue ser mais petulante e antipático que o riquinho mimado Macaulay Culkin em "Esqueceram de Mim".
Um dos charmes do "Karate Kid" de 84 era a timidez e simpatia do personagem de Ralph Macchio, que faziam o público torcer por ele.
Nesta nova versão, o herói é tão cheio de si que o efeito é contrário: muitos podem acabar torcendo para ele levar uns sopapos.


KARATE KID
DIREÇÃO Harald Zwart
PRODUÇÃO EUA, 2010
COM Jackie Chan, Jaden Smith e Taraji P. Henson
ONDE estreia amanhã nos cines UCI Jardim Sul, Kinoplex Vila Olímpia e circuito
CLASSIFICAÇÃO dez anos
AVALIAÇÃO ruim



Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Protagonista: Jaden estreou no cinema ao lado do pai
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.