São Paulo, sexta, 26 de setembro de 1997.



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VOLTA DE PESO
Fernando Torres reencontra diretor

Divulgação
Fernando Torres em "A Ostra e o Vento"


PATRICIA DECIA
da Reportagem Local

"Eu sou um marinheiro com a vida cheia de peso." Assim, na primeira pessoa, Fernando Torres define Daniel, seu personagem em "A Ostra e o Vento".
O ator está perto de completar os 69 anos e sua marcante barba branca, diz, não é adequada a uma grande quantidade de papéis.
Mesmo assim, foi como um velho marujo de barbas brancas, no filme de Walter Lima Jr. (com quem já trabalhou em "Inocência"), que ele interrompeu um período de quase quatro anos afastado de teatro, cinema e TV. Segundo ele, a volta foi como "viver um dia bom". A seguir, trechos da entrevista.

Folha - Como foi convidado para trabalhar no filme?
Torres
- Eu admirava muito o Walter Lima. Ele apareceu aqui em casa e me convidou para fazer o Daniel. Não quis ler o livro, fiquei apenas com o roteiro. E me dei bem nisso, porque não houve influência externa. O livro serviu de pretexto para uma idéia que o Walter tinha lá dentro, da menina-moça trancada naquela ilha sob o jugo daquele pai terrível e a rara comunicação que ela tem com o resto do mundo. O Daniel consegue chegar até a ela e entendê-la.
Folha - A crítica tem considerado o filme uma revitalização do cinema brasileiro. O que o sr. acha?
Torres
- Nosso cinema foi povoado desde o princípio por grandes cineastas. Humberto Mauro foi um bom pai, Mário Peixoto demonstrou que nunca faltou cérebro. É preciso que se acompanhem as cabeças, cineastas existem. "A Ostra e o Vento" é um respiro dos melhores que eu já vi. É um poeta falando. Não que o filme seja poema, o que resultou dentro das vontades do Walter é um poema.
Folha - Daniel é um personagem que ganha muita importância. Como o sr. o viu?
Torres
- Estava tudo no texto. Eu não invento. Eu entendi o que ele tinha que ser: compreensivo. Com a idade que tem, carregando um mundo por dentro, com uma história que tem bastante peso, ele entende um pouco da vida. Não tudo, porque a vida a gente só entende quando morre, quando vem aquela maldita. Ele já sofreu um arranhão com o desastre no seu navio. Eu sou um marinheiro com a vida cheia de peso. Então é fácil entender a menina que está querendo nascer.



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