São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DANÇA

Inédito na cidade, espetáculo idealizado para a Bienal de Lyon (1996) reúne as coreografias "Vulcão" e "Velox"

Deborah Colker reúne primeiras obras em "Mix"

ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em 1996, quando juntou os dois primeiros espetáculos criados para seu grupo -"Vulcão" e "Velox"- para formar uma terceira obra, "Mix", Deborah Colker produziu o sucesso que a lançou no circuito internacional e que lhe rendeu consagração na Inglaterra, onde conquistou, em fevereiro deste ano, o prestigiado Prêmio Laurence Olivier.
Até então inédito em São Paulo, "Mix" será apresentado de hoje a domingo no teatro Sérgio Cardoso, onde Colker também lança um DVD que, além de trechos do espetáculo, contém depoimentos da coreógrafa, textos e fotos sobre seu grupo.
Com poder único de mobilização de público na dança brasileira, a Companhia de Dança Deborah Colker já foi vista, segundo a coreógrafa, por um milhão de espectadores. "Fazer um trabalho sofisticado e conseguir ser popular é importante para a dança como um todo, pois significa formação e multiplicação de platéias numa área que tende a não fazer parte da indústria cultural", diz.
Sobre essa disposição de criar empatia com o público, Colker esclarece: "Conquistar e manter platéias é muito difícil, e isso não significa fazer espetáculos fáceis ou vender alegria o tempo inteiro. Minha intenção é proporcionar prazer ao espectador, alimentar sua inteligência e dar a ele um estímulo para acordar e trabalhar bem no dia seguinte".
Em Londres, onde o grupo de Colker debutou em maio de 1999, a sintonia foi imediata. Consagrada já na primeira temporada londrina, ela e seu elenco ocuparam espaços nobres em todos os jornais da capital britânica também na temporada de 2000. Calorosamente elogiada, ela acabou entrando para o rol de celebridades que, anualmente, conquistam o Prêmio Laurence Olivier, espécie de Oscar das artes cênicas britânicas. Para a dança, já foi concedido para Pina Bausch.
No repertório de Colker, "Mix" surgiu por encomenda da Bienal da Dança de Lyon de 1996, onde as críticas favoráveis e as ovações do público francês deram o primeiro aval internacional para o espetáculo. "Partiu de Guy Darmet, diretor da Bienal, a sugestão para juntar "Vulcão" e "Velox". A idéia não me agradou de início, mas confiei na sensibilidade dele, experimentei e gostei. Depois, para minha surpresa, "Mix" acabou premiado", afirma.
Em "Mix", a coreógrafa traçou marcas que seriam depuradas nos espetáculos seguintes, "Rota" e "Casa". Disposta a desafiar as possibilidades espaciais da dança, criou a cena do alpinismo de "Velox", em que os bailarinos dançam apoiados sobre uma parede. "Quando concebi essa cena, queria deslocar o eixo de apoio e de equilíbrio do corpo, acostumado aos planos horizontais. A parede me parecia um símbolo de desafio ilimitado e utilizá-la permitiu-me novas investigações sobre o movimento, além de me despertar questões sobre as idéias de horizontalidade e de verticalidade."
Dividido em duas partes, "Mix" começa com três trechos de "Vulcão": "Máquinas", "Desfile" e "Paixão". No segundo ato, "Velox" traz quatro: "Mecânica", "Cotidiano", "Sonar" e "Alpinismo". Nesse espetáculo, também estão presentes as marcas dos parceiros que Colker conserva até hoje: Gringo Cardia, responsável pela cenografia e direção de arte, e a equipe que assina a direção musical, formada por Berna Ceppas, Alexandre Kassin, Sergio Mekler e Leandro Leal.
O elenco renovado que interpreta "Mix" reúne bailarinos de várias partes do Brasil. "A predominância já não é mais carioca", diz a coreógrafa, que da antiga formação conserva poucos, como Rico Ozon e Jefferson Antônio, que foi descoberto por Colker quando fazia dança de rua. "Hoje, quando olho Jefferson, o "meu negão", que veio do funk de subúrbio, dançando junto com o russo Vadim Germanovitch, formado na escola clássica, concluo que está tudo certo na companhia."
Segundo Colker, as coreografias que compõem "Mix" são produto de uma experiência artística que ela acumulou até os 33 anos de idade, quando redefiniu sua carreira para investir na criação. "Comecei como bailarina, dançando no Grupo Coringa, dirigido no Rio de Janeiro por Graciela Figueroa", lembra. Em fase seguinte, Colker trabalhou com diretores de teatro, atores e cantores, no que ela chama de "direção cênica de movimento".
Dessa experiência, somada à formação em psicologia, piano e atletismo, retirou a bagagem que serviu de mola propulsora ao seu grupo, fundado em 1994.


MIX - com a Companhia de Dança Deborah Colker. Quando: de hoje a sábado, às 21h30; domingo, às 18h. Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, São Paulo, tel. 0/xx/11/ 288-0136). Quanto: R$ 15.



Texto Anterior: Política cultural: César Maia nomeia novo secretário de Cultura
Próximo Texto: Novo espetáculo terá obras de arte
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.