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DANÇA
Inédito na cidade, espetáculo idealizado para a Bienal de Lyon (1996) reúne as coreografias "Vulcão" e "Velox"
Deborah Colker reúne primeiras obras em "Mix"
ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Em 1996, quando juntou os dois
primeiros espetáculos criados para seu grupo -"Vulcão" e "Velox"- para formar uma terceira
obra, "Mix", Deborah Colker produziu o sucesso que a lançou no
circuito internacional e que lhe
rendeu consagração na Inglaterra, onde conquistou, em fevereiro
deste ano, o prestigiado Prêmio
Laurence Olivier.
Até então inédito em São Paulo,
"Mix" será apresentado de hoje a
domingo no teatro Sérgio Cardoso, onde Colker também lança
um DVD que, além de trechos do
espetáculo, contém depoimentos
da coreógrafa, textos e fotos sobre
seu grupo.
Com poder único de mobilização de público na dança brasileira, a Companhia de Dança Deborah Colker já foi vista, segundo a
coreógrafa, por um milhão de espectadores. "Fazer um trabalho
sofisticado e conseguir ser popular é importante para a dança como um todo, pois significa formação e multiplicação de platéias
numa área que tende a não fazer
parte da indústria cultural", diz.
Sobre essa disposição de criar
empatia com o público, Colker esclarece: "Conquistar e manter
platéias é muito difícil, e isso não
significa fazer espetáculos fáceis
ou vender alegria o tempo inteiro.
Minha intenção é proporcionar
prazer ao espectador, alimentar
sua inteligência e dar a ele um estímulo para acordar e trabalhar
bem no dia seguinte".
Em Londres, onde o grupo de
Colker debutou em maio de 1999,
a sintonia foi imediata. Consagrada já na primeira temporada londrina, ela e seu elenco ocuparam
espaços nobres em todos os jornais da capital britânica também
na temporada de 2000. Calorosamente elogiada, ela acabou entrando para o rol de celebridades
que, anualmente, conquistam o
Prêmio Laurence Olivier, espécie
de Oscar das artes cênicas britânicas. Para a dança, já foi concedido
para Pina Bausch.
No repertório de Colker, "Mix"
surgiu por encomenda da Bienal
da Dança de Lyon de 1996, onde
as críticas favoráveis e as ovações
do público francês deram o primeiro aval internacional para o
espetáculo. "Partiu de Guy Darmet, diretor da Bienal, a sugestão
para juntar "Vulcão" e "Velox". A
idéia não me agradou de início,
mas confiei na sensibilidade dele,
experimentei e gostei. Depois, para minha surpresa, "Mix" acabou
premiado", afirma.
Em "Mix", a coreógrafa traçou
marcas que seriam depuradas nos
espetáculos seguintes, "Rota" e
"Casa". Disposta a desafiar as
possibilidades espaciais da dança,
criou a cena do alpinismo de "Velox", em que os bailarinos dançam apoiados sobre uma parede.
"Quando concebi essa cena, queria deslocar o eixo de apoio e de
equilíbrio do corpo, acostumado
aos planos horizontais. A parede
me parecia um símbolo de desafio
ilimitado e utilizá-la permitiu-me
novas investigações sobre o movimento, além de me despertar
questões sobre as idéias de horizontalidade e de verticalidade."
Dividido em duas partes, "Mix"
começa com três trechos de "Vulcão": "Máquinas", "Desfile" e
"Paixão". No segundo ato, "Velox" traz quatro: "Mecânica",
"Cotidiano", "Sonar" e "Alpinismo". Nesse espetáculo, também
estão presentes as marcas dos
parceiros que Colker conserva até
hoje: Gringo Cardia, responsável
pela cenografia e direção de arte, e
a equipe que assina a direção musical, formada por Berna Ceppas,
Alexandre Kassin, Sergio Mekler
e Leandro Leal.
O elenco renovado que interpreta "Mix" reúne bailarinos de
várias partes do Brasil. "A predominância já não é mais carioca",
diz a coreógrafa, que da antiga
formação conserva poucos, como
Rico Ozon e Jefferson Antônio,
que foi descoberto por Colker
quando fazia dança de rua. "Hoje,
quando olho Jefferson, o "meu negão", que veio do funk de subúrbio, dançando junto com o russo
Vadim Germanovitch, formado
na escola clássica, concluo que está tudo certo na companhia."
Segundo Colker, as coreografias
que compõem "Mix" são produto
de uma experiência artística que
ela acumulou até os 33 anos de
idade, quando redefiniu sua carreira para investir na criação.
"Comecei como bailarina, dançando no Grupo Coringa, dirigido no Rio de Janeiro por Graciela
Figueroa", lembra. Em fase seguinte, Colker trabalhou com diretores de teatro, atores e cantores, no que ela chama de "direção
cênica de movimento".
Dessa experiência, somada à
formação em psicologia, piano e
atletismo, retirou a bagagem que
serviu de mola propulsora ao seu
grupo, fundado em 1994.
MIX - com a Companhia de Dança
Deborah Colker. Quando: de hoje a
sábado, às 21h30; domingo, às 18h.
Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui
Barbosa, 153, São Paulo, tel. 0/xx/11/
288-0136). Quanto: R$ 15.
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