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ARTES PLÁSTICAS
Planos escultóricos de Sean Scully buscam luminosidade
TIAGO MESQUITA
CRÍTICO DA FOLHA
As telas que Sean Scully
mostra no Centro de Arte
Hélio Oiticica, no Rio, diferem
muito do sentido tradicional da
pintura. Embora continuem sendo superfícies de lona lisa, em formato retangular onde se aplica
tinta, elas não se apresentam como janelas em que formas se relacionam como se reconstituíssem
a ilusão de um olhar.
Parente do minimalismo, a pintura de Scully tem uma feição
mais física. São planos que, como
uma porta, se mostram como um
corpo impenetrável e opaco. A
presença física da tela é ressaltada
pela largura dos chassis e por um
tamanho que garante uma densidade. O trabalho aparece como
um anteparo que tem uma presença equivalente ao de objetos de
uso comum. A justaposição de diferentes superfícies ressalta esse
aspecto escultórico dos quadros.
Embora a palpabilidade da estrutura física do trabalho lhe dê
um aspecto objetivo e uma corporeidade literal, as suas formas retangulares se relacionam na tela
de maneira distinta da minimal.
No minimalismo, os elementos
da pintura tendem a ressaltar
uma espécie de objetividade intransponível. As cores abandonam seu aspecto de forma e tornam-se superfícies. Objetos feitos
que se mostram rasos, sem disfarces. Assim, um azul é um corpo de
azul com estrutura, tamanho e
formato nítido e individualizado.
Quando são agrupados, tais elementos se relacionam individualmente, como parte da linha de
montagem. O componente tem o
papel de peça de uma obra, que
constrói um sentido exterior a ele.
As relações entre os elementos
ocorrem de forma externa e objetiva. Estabelecem o contato mais
frio e distante possível. Talvez como se articulassem um trabalho a
ser feito ou a organização de uma
tarefa. É desse aspecto de atividade pré-determinada que a pintura
de Sean Scully parece tentar escapar. Suas formas não podem se
manter servis a nenhum tipo de
imperativo anterior ao contato
entre as massas de tinta. Querem
ser luz, buscar uma nova luminosidade para o seu plano.
Para isso, devem ser metódicas,
não podem se sujeitar à realização
de efeitos nem pressupor direcionamentos ou sentidos prévios.
Qualquer sujeição pode apagar o
cintilar das imensas telas.
Os quadros tentam restituir
uma certa densidade que singularize seus elementos e particularize
a superfície. Para evitar a sujeição,
as formas se amolecem e passam
a se esparramar umas sobre as
outras. O plano adquire uma aparência fluida. De linhas que se tramam e se desfazem umas nas outras, formando luminosidades solares. Que, no momento seguinte,
nos dão adeus. O plano se torna
molenga, entumecido, talvez com
a mesma consistência desses encontros fortuitos e revigorantes.
Sean Scully Wall Light
Onde: Centro de Arte Hélio Oiticica (r.
Luís de Camões, 68, centro, Rio, 0/xx/21/
2242-1012)
Quando: de ter. a sex., das 11h às 19h;
sáb., dom. e fer., das 12h às 18h
Quanto: entrada franca
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