São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2005

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Música disputa espaço com bombardeio de marketing

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

ADRIANA FERREIRA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

O mote era a conectividade, a interação de meios, segundo propagandeou a organização do Nokia Trends, evento realizado simultaneamente no Pavilhão do Anhembi, em São Paulo, e no Cais do Porto, no Rio de Janeiro.
Tudo porque quem estava em uma cidade podia ver as atrações da outra, por meio de transmissão por satélite. Tanto em São Paulo como no Rio, o sistema sofreu problemas, com várias interrupções de som e imagem, mas a idéia deu certo, e mesmo sem a emoção de ver/ouvir uma apresentação de corpo presente, o público até que conseguia dançar.
Festival corporativo, o objetivo principal, notava-se, era menos artístico e mais publicitário: a idéia era transmitir os "conceitos" da empresa. Assim, o público era bombardeado por merchandising em todos os cantos, desde o Espaço Live, local dos shows, até as áreas de "convivência". Não precisava. Outro incômodo: estavam, os lugares das duas cidades, muito cheios (8.000 no Rio e 12 mil em SP). Mais incômodo: o estacionamento era longe, mal organizado e nada barato: R$ 20.
Mas é o conceito artístico que interessa aqui, e nesse ponto a escalação do Nokia Trends - SP acertou. Evento eletrônico, o festival mesclou DJs de calibre, como os alemães Ellen Allien e Tiefschwarz, além dos belgas The Glimmers, com bandas como Human League, !!! (pronuncia-se chik chik chik) e a dupla Alter Ego, que se apresentou em live PA.
A noite, aberta pelo brasileiro Magal, teve clima revival logo no começo, com o show de Phil Oakey, Susan Ann Sulley e Joanne Catherall, trio central do Human League. "(Keep Feeling) Fascination", "Human", "Don’t You Want Me", os hits apareciam, e o público seguia a viagem. Enquanto Oakey estava impecável, de terno e gravata, Sulley e Catherall pareciam disputar quem vestia o modelo mais absurdo. Venceu Catherall, que a certa altura apareceu com um minúsculo short cavado e uma capa preta.
A dupla The Glimmers não se prendeu a gêneros, trazendo uma saudável mistura de electro, house, pop e rock. Com o auxílio de três percussionistas brasileiros, a banda !!! mostrou o lado mais jazzístico, quebrado do disco-punk.
Enquanto o Tiefschwarz fez o povo dançar com boa seleção de house e electro, Ellen Allien baixou as batidas, a bombação e preencheu seu set por um tecno viajante, longe dos hits. O Alter Ego tocou pouco por problemas com a mesa de som, mas a meia hora em que estiveram no palco foi tomada por uma deliciosa superposição de barulhos e efeitos.
No Rio, houve várias falhas no sistema de som: o Asian Dub Foundation parou o show por uns cinco minutos; o Audio Bullys pediu para aumentar o volume diversas vezes; X-Press 2 e Carl Craig tiveram problemas.
O festival começou a esquentar com os ingleses do Asian Dub Foundation, que fizeram show incrível com quatro MCs, percussão e DJ. Engajados até a medula, dedicaram uma música ao brasileiro Jean Charles de Menezes, morto pela polícia inglesa.
A dupla Audio Bullys fez o segundo melhor momento da festa, passeando por house, tech-house até cair num tecno suingado.
Com a temperatura nas alturas, quem se deu mal foi o finlandês Luomo, que teve a ingrata tarefa de mostrar o seu live P.A. na seqüência. O público não queria ouvir deep house e lotou os corredores e a área interativa, a essa altura intrafegáveis. Foi o trio inglês X-Press 2 quem levantou a pista, com um set de tech-house.
O norte-americano Carl Craig, o bamba da segunda geração do tecno de Detroit, manteve as pessoas dançando sem fazer concessões: fez um set de tecno percussivo com atmosferas incríveis que ele construía segurando o mesmo trecho de uma música por vários minutos e introduzindo vocais disco. Craig terminou o set com uma faixa deliciosa cantada em espanhol, e jogou o povo que sobreviveu à maratona, às 7h30, nas mãos do brasileiro Mau Mau, expert em fechar festivais.

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