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LIVROS
Crítica/"Monstros Invisíveis"
Primeiro livro de Palahniuk já tem o sarcasmo e as bizarrices
Obra mostra ex-modelo em busca de vingança após ser desfigurada com um tiro
JOCA REINERS TERRON
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Monstros Invisíveis" é o quarto
livro de Chuck
Palahniuk que resenho nesta
Folha nos últimos três anos e
poucos meses. Como a prosa do
americano tem se mostrado repetitiva nas provocações e na
forma, confesso que pensei em
reciclar os artigos anteriores.
Aposto que o recurso passaria batido, e que as ideias permaneceriam fiéis à essência literária de Palahniuk, sobrenome de origem polonesa que parece uma palavra-valise inadvertida (ou divertida) para "paladino" com "Donald Duck".
Googleando a respeito, porém, descobri uma informação
que invalidou o que seria uma
colagem crítica bastante prática (e talvez questionável):
"Monstros Invisíveis", publicado no exterior em 1999 logo
após o sucesso cinematográfico
de "Clube da Luta" (adaptado
por David Fincher) e só agora
no Brasil, é o primeiro livro do
autor. Recusado por várias editoras, o romance de estreia depõe paradoxalmente a favor e
também contra Palahniuk.
A favor, porque comprova
que sua técnica baseada em coros repetitivos, personagens bidimensionais, sarcasmo, bizarrices e humor negro, além da
visualidade típica destes tempos imagéticos (e que conquistou cineastas -"No Sufoco"
também foi adaptado, em
2008), fez-se presente desde o
primeiro parágrafo de sua obra.
Contra, porque indica que a
partir do segundo livro tudo se
repetiu, ainda que nem sempre
de modo enfadonho.
Entre os principais alvos da
bazuca digiforme e acusatória
de Palahniuk estão as indústrias farmacêutica e cosmética
e suas diferentes encarnações
do vício, como aparece em
"Clube da Luta", em que a fábrica de sabonetes criada por
Tyler Durden usa como matéria-prima a gordura roubada de
clínicas de lipoaspiração -cujas pacientes são dondocas que
acabam comprando de volta a
própria gordura na forma de
sabonetes. Na ficção, como na
indústria de sabão, nada se perde e tudo se transforma.
Enfadonho, aliás, é adjetivo
pouco aplicável às narrativas
corrosivamente engraçadas e
com fartas doses de escatologia
de Chuck, o pato paladino. Em
"Monstros Invisíveis" a narradora é Shannon, ex-modelo que
perdeu parte do rosto com um
tiro. Ela se une a Brandy Alexander, travesti da pá virada
(entre outros aspectos de viração, precisa de um último ajuste que a tornará a Rainha Suprema da Beleza), e sai atrás de
vingança contra Evie, ex-melhor amiga, e Manus, o antigo
noivo, a quem pretende submeter a um tratamento forçado
com hormônios femininos.
O argumento, como em outros livros de Palahniuk, descamba para delírio, hiperviolência e gargalhadas amarelas.
Identificado como algoz da sociedade contemporânea,
Chuck Palahniuk está mais para um Stephen King cheio de
pretensão política e com poucas variações temáticas.
Se comparado ao mestre, porém, ele perde feio. Não por
suas repetições algo maníacas,
mas por crer demais no valor da
crítica (e não me refiro somente à crítica literária).
JOCA REINERS TERRON é escritor, autor de "Sonho Interrompido por Guilhotina" (Casa da
Palavra).
MONSTROS INVISÍVEIS
Autor: Chuck Palahniuk
Tradução: Paulo Reis e Sergio Moraes
Rego
Editora: Rocco
Quanto: R$ 36,50 (256 págs.)
Avaliação: bom
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