São Paulo, sábado, 26 de setembro de 2009

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LIVROS

Crítica/"Monstros Invisíveis"

Primeiro livro de Palahniuk já tem o sarcasmo e as bizarrices

Obra mostra ex-modelo em busca de vingança após ser desfigurada com um tiro

JOCA REINERS TERRON
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Monstros Invisíveis" é o quarto livro de Chuck Palahniuk que resenho nesta Folha nos últimos três anos e poucos meses. Como a prosa do americano tem se mostrado repetitiva nas provocações e na forma, confesso que pensei em reciclar os artigos anteriores.
Aposto que o recurso passaria batido, e que as ideias permaneceriam fiéis à essência literária de Palahniuk, sobrenome de origem polonesa que parece uma palavra-valise inadvertida (ou divertida) para "paladino" com "Donald Duck". Googleando a respeito, porém, descobri uma informação que invalidou o que seria uma colagem crítica bastante prática (e talvez questionável): "Monstros Invisíveis", publicado no exterior em 1999 logo após o sucesso cinematográfico de "Clube da Luta" (adaptado por David Fincher) e só agora no Brasil, é o primeiro livro do autor. Recusado por várias editoras, o romance de estreia depõe paradoxalmente a favor e também contra Palahniuk.
A favor, porque comprova que sua técnica baseada em coros repetitivos, personagens bidimensionais, sarcasmo, bizarrices e humor negro, além da visualidade típica destes tempos imagéticos (e que conquistou cineastas -"No Sufoco" também foi adaptado, em 2008), fez-se presente desde o primeiro parágrafo de sua obra. Contra, porque indica que a partir do segundo livro tudo se repetiu, ainda que nem sempre de modo enfadonho.
Entre os principais alvos da bazuca digiforme e acusatória de Palahniuk estão as indústrias farmacêutica e cosmética e suas diferentes encarnações do vício, como aparece em "Clube da Luta", em que a fábrica de sabonetes criada por Tyler Durden usa como matéria-prima a gordura roubada de clínicas de lipoaspiração -cujas pacientes são dondocas que acabam comprando de volta a própria gordura na forma de sabonetes. Na ficção, como na indústria de sabão, nada se perde e tudo se transforma.
Enfadonho, aliás, é adjetivo pouco aplicável às narrativas corrosivamente engraçadas e com fartas doses de escatologia de Chuck, o pato paladino. Em "Monstros Invisíveis" a narradora é Shannon, ex-modelo que perdeu parte do rosto com um tiro. Ela se une a Brandy Alexander, travesti da pá virada (entre outros aspectos de viração, precisa de um último ajuste que a tornará a Rainha Suprema da Beleza), e sai atrás de vingança contra Evie, ex-melhor amiga, e Manus, o antigo noivo, a quem pretende submeter a um tratamento forçado com hormônios femininos.
O argumento, como em outros livros de Palahniuk, descamba para delírio, hiperviolência e gargalhadas amarelas. Identificado como algoz da sociedade contemporânea, Chuck Palahniuk está mais para um Stephen King cheio de pretensão política e com poucas variações temáticas. Se comparado ao mestre, porém, ele perde feio. Não por suas repetições algo maníacas, mas por crer demais no valor da crítica (e não me refiro somente à crítica literária).
JOCA REINERS TERRON é escritor, autor de "Sonho Interrompido por Guilhotina" (Casa da Palavra).


MONSTROS INVISÍVEIS

Autor: Chuck Palahniuk
Tradução: Paulo Reis e Sergio Moraes Rego
Editora: Rocco
Quanto: R$ 36,50 (256 págs.)
Avaliação: bom




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