São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2011

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ANÁLISE

Mostra histórica revela a gênese e o legado do talento de Kazan

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

A má fama que acompanhou o nome de Elia Kazan desde que o cineasta dedurou ex-companheiros à comissão que perseguia simpatizantes ao comunismo, nos anos 1950, não foi o suficiente para reduzir seu prestígio artístico.
Os nove títulos do diretor que a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo exibirá revelam a gênese, o amadurecimento e a extensão de seu legado. "Uma Carta para Elia", assinado por Martin Scorsese, arredonda a conta com um tributo.
A olho nu, a mais duradoura inovação trazida pelo cineasta refere-se ao tipo de ator e de atuação que incorporou, além da veracidade física, subjetividade e profundidade à representação.
"Uma Rua Chamada Pecado", "Sindicato de Ladrões", "Vidas Amargas" e "Clamor do Sexo" não apenas se tornaram marcos da conversão de Marlon Brando, James Dean e Warren Beatty em mitos.
Com eles emergiu, em Hollywood, um modo de fazer filmes e personagens parecerem reais, determinante para o cinema da geração que dominou o sistema duas décadas adiante, de Scorsese e Coppola a Jack Nicholson e Robert De Niro.
Essa impregnação dos filmes com índices de realidade a que chamamos, genericamente, de "realismo" valeu a Kazan o mérito por introduzir modernidades numa estética tradicionalista nas formas e conservadora nos conteúdos.
Enquanto, nos primeiros filmes, a exuberância teatral na direção de atores ainda se sobrepõe à exploração de recursos de significação das imagens, de "Sindicato de Ladrões" em diante a união dessas forças oferece a seu cinema uma dramaticidade que ele explorou para tecer críticas sociais e políticas.
Isso já justificaria o valor histórico da retrospectiva. Mas bastam a exibição do raro longa "Terra de um Sonho Distante" e a oportunidade única de ver James Dean em película e em cinemascope para fazer deste um acontecimento.


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