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"O NOME DA MARCA"
Obra disseca a comida ligeira do pós-modernismo via fetichismo
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
A pressa é invenção do demônio e comercialmente
deu certo com drive-in, fast food,
sanduíches, self-service, Coca-Cola, hambúrguer, 400 milhões
de consumidores por dia no
mundo, batata frita em Moscou,
ketchup na China, logomarca tão
ou mais conhecida do que a cruz.
Trata-se da marca McDonald's
focalizada por uma sociologia de
inspiração marxista. A autora
aplica o conceito de "fetichismo"
de Marx à produção de imagens
no capitalismo da self-mais-valia.
O leitor encontra no livro a história do McDonald's e do triunfal
sanduíche Big Mac. Sua gênese está lá na Califórnia, EUA, anos 30,
cinema falado, civilização do automóvel, tornando-se hoje expressão máxima da cultura descartável, cujo equivalente libidinal do usar e jogar fora é o videoclipeorgasmo, fungível e serelepe.
O que comanda esse aparelho
ideológico é a velocidade do serviço, e não a satisfação que o prato
de comida deve proporcionar.
Ícone da etapa pós-moderna do
capitalismo, o McDonald's já engendrou uma ciência do hambúrguer e uma "hamburguerologia".
Na cultura da vitrine tudo é fugaz, passageiro e descartável. É
neste contexto que surge a "personalidade da marca": o tipo Nike, Marlboro, McDonald's, Benneton. Eis o núcleo da tese de Isleide Fontenelle: "A descartabilidade da cultura é a própria condição para a reprodução acelerada
do capitalismo de imagens".
Se a paz é um fenômeno digestivo (quem come amansa), então é
bem provável que foi o McDonald's quem engendrou o bélico
mister Bush, consumidor de Big
Mac desde menino, o que explica
a diferença dele com o nosso filósofo Paulo Arantes, o qual nunca
em sua vida traçou um Big Mac,
conforme escreveu no prefácio
desse livro admirável.
A civilização do automóvel provocou o divórcio do talher, isto é,
as mãos livres segurando o sanduíche. De todos os sentidos, o
paladar foi o que mais regrediu.
Na cultura mimetizada e macaqueada da colônia eu já vi entre
nós vendedor de rua com um carrinho escrito "fast côco". Confesso que prefiro a fórmula antropofágica do sanduíche "x-tudo".
Gilberto Felisberto Vasconcellos é
professor da Universidade Federal de
Juiz de Fora (MG) e autor de "Glauber Pátria Rocha Livre" (Senac), entre outros
O Nome da Marca
Autor: Isleide Arruda Fontenelle
Editora: Boitempo
Quanto: R$ 38 (364 págs.)
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