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Crítica
Diretor capta juventude terrível e sublime
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Alguns dos melhores cineastas da história
-Howard Hawks, John
Ford e George A. Romero entre
eles- refizeram o mesmo filme, obsessivamente, várias vezes. De certa forma, Gus van
Sant se alinha a essa tradição.
Com poucas exceções, quase
toda sua obra é a perseguição
de um olhar sobre a juventude;
uma busca interminável das
maneiras possíveis de filmá-la.
Após a trilogia mórbida formada por "Gery", "Elefante" e
"Last Days", marcados por forte pesquisa formal, Van Sant
volta com um trabalho mais
arejado e comunicativo, sem
perder a inquietação. "Paranoid Park" captura as possibilidades da juventude no que há
de mais terrível e sublime.
A câmera segue Alex (Gabe
Nevins), 16, que, acidentalmente, mata o vigia de uma área onde fica um movimentado parque de skate da cidade de Portland. A polícia investiga a morte, que, pelos indícios, pode ter
sido acidental ou criminosa.
Alex prefere calar-se, mas a cena chocante que ele provocou
sem querer -e que Van Sant
reproduz graficamente de forma detalhada- vai persegui-lo.
A leveza do filme em relação
aos anteriores do diretor, portanto, é relativa. A cena da morte, brutal e explícita, será vista
só uma vez -e basta. Ela permanece em nós, espectadores,
assim como fica claro que permaneceu na cabeça do adolescente desde que a presenciou.
Não é uma cena apelativa,
portanto, mas um elemento essencial para um dos núcleos do
filme: como um gesto banal pode ter conseqüências catastróficas na vida de um jovem. O
sentimento de culpa, aqui, não
é algo artificial, mas um fato
inevitável com o qual o garoto
terá que aprender a conviver.
Por esse lado, o filme é terrível.
Outra parte do filme não está
interessada na narração desses
fatos, preferindo documentar
um modo de vida no fluxo de
um esporte. O skate é filmado
de forma soberba, com uma câmera lenta sugerida a Van Sant
pelo diretor de fotografia
Christopher Doyle (como explicou Van Sant na entrevista
coletiva do filme em Cannes).
Para filmar de forma autêntica, Van Sant se faz valer de não-atores e cenários verdadeiros,
mas afasta-se do mero registro
dos documentários tradicionais ou (clichê dos clichês) de
uma ficção que reproduz as técnicas documentais. Ele prefere
o viés do realismo poético -e,
por esse lado, o filme é sublime.
PARANOID PARK
Produção: França/EUA
Direção: Gus van Sant
Com: Gabe Nevins, Daniel Liu, Taylor Momsen, Jake Miller
Onde: hoje, 22h40, na Reserva Cultural
1; sab., 23h20, no Unibanco Arteplex 1;
dia 30, 17h10, no Espaço Unibanco 3
Avaliação: ótimo
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