São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2007

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Crítica

Diretor capta juventude terrível e sublime

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Alguns dos melhores cineastas da história -Howard Hawks, John Ford e George A. Romero entre eles- refizeram o mesmo filme, obsessivamente, várias vezes. De certa forma, Gus van Sant se alinha a essa tradição.
Com poucas exceções, quase toda sua obra é a perseguição de um olhar sobre a juventude; uma busca interminável das maneiras possíveis de filmá-la.
Após a trilogia mórbida formada por "Gery", "Elefante" e "Last Days", marcados por forte pesquisa formal, Van Sant volta com um trabalho mais arejado e comunicativo, sem perder a inquietação. "Paranoid Park" captura as possibilidades da juventude no que há de mais terrível e sublime.
A câmera segue Alex (Gabe Nevins), 16, que, acidentalmente, mata o vigia de uma área onde fica um movimentado parque de skate da cidade de Portland. A polícia investiga a morte, que, pelos indícios, pode ter sido acidental ou criminosa.
Alex prefere calar-se, mas a cena chocante que ele provocou sem querer -e que Van Sant reproduz graficamente de forma detalhada- vai persegui-lo.
A leveza do filme em relação aos anteriores do diretor, portanto, é relativa. A cena da morte, brutal e explícita, será vista só uma vez -e basta. Ela permanece em nós, espectadores, assim como fica claro que permaneceu na cabeça do adolescente desde que a presenciou.
Não é uma cena apelativa, portanto, mas um elemento essencial para um dos núcleos do filme: como um gesto banal pode ter conseqüências catastróficas na vida de um jovem. O sentimento de culpa, aqui, não é algo artificial, mas um fato inevitável com o qual o garoto terá que aprender a conviver. Por esse lado, o filme é terrível.
Outra parte do filme não está interessada na narração desses fatos, preferindo documentar um modo de vida no fluxo de um esporte. O skate é filmado de forma soberba, com uma câmera lenta sugerida a Van Sant pelo diretor de fotografia Christopher Doyle (como explicou Van Sant na entrevista coletiva do filme em Cannes).
Para filmar de forma autêntica, Van Sant se faz valer de não-atores e cenários verdadeiros, mas afasta-se do mero registro dos documentários tradicionais ou (clichê dos clichês) de uma ficção que reproduz as técnicas documentais. Ele prefere o viés do realismo poético -e, por esse lado, o filme é sublime.


PARANOID PARK
Produção:
França/EUA
Direção: Gus van Sant
Com: Gabe Nevins, Daniel Liu, Taylor Momsen, Jake Miller
Onde: hoje, 22h40, na Reserva Cultural 1; sab., 23h20, no Unibanco Arteplex 1; dia 30, 17h10, no Espaço Unibanco 3
Avaliação: ótimo


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