São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2007

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31ª Mostra de SP - Crítica/"Juízo"

Longa mostra menores diante da lei

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

No documentário "Justiça" (2004), Maria Augusta Ramos radiografava as entranhas do sistema judiciário do Rio de Janeiro -e, por extensão, de todo o país. Em "Juízo", a documentarista agora concentra seu foco na relação entre os menores infratores e a lei.
O cerne do filme são audiências em que alguns desses garotos e garotas são confrontados com uma juíza ao mesmo tempo durona e maternal, que é a verdadeira estrela do documentário. A novidade aqui, com relação ao longa-metragem anterior da diretora, é o recurso discreto, mas inquietante, à encenação com atores.
Explica-se: pela lei brasileira, menores infratores não podem ser identificados publicamente, por isso o documentário os substituiu por garotos e garotas vindos das mesmas comunidades carentes (eufemismo para favelas) dos acusados. Os jovens atores repetem diante da câmera exatamente as mesmas frases ditas no processo pelos verdadeiros acusados.
As falas da juíza, dos promotores públicos e advogados são documentais, registradas durante as audiências. No "contracampo" a elas é que foram inseridas as falas encenadas.
Como o filme inclui cenas do cotidiano nas celas do Instituto Padre Severino (espécie de Febem onde os menores ficam reclusos), os "substitutos" são convocados também a representá-las.
Sabendo que se trata de atores inseridos num registro que mimetiza o documental, essas cenas têm um ar "fake" que retira muito de seu peso.

Deterioração social
O interessante mesmo são as audiências, nas quais vem à tona todo um quadro de deterioração social e moral, com meninos e meninas que não conhecem os pais e que não raro são, eles próprios, pais e mães.
Pior: mal conseguem se expressar e não compreendem onde estão metidos. Um deles chegou a fugir do instituto no dia em que seria libertado, simplesmente porque não tinha entendido a sua situação. Triste Brasil.


JUÍZO
Direção:
Maria Augusta Ramos
Produção: Brasil, 2007
Quando: hoje, às 18h30, no Espaço Unibanco; amanhã, às 14h, na Cinemateca
Avaliação: bom


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