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31ª Mostra de SP - Crítica/"Juízo"
Longa mostra menores diante da lei
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
No documentário "Justiça" (2004), Maria
Augusta Ramos radiografava as entranhas do sistema judiciário do Rio de Janeiro
-e, por extensão, de todo o
país. Em "Juízo", a documentarista agora concentra seu foco
na relação entre os menores infratores e a lei.
O cerne do filme são audiências em que alguns desses garotos e garotas são confrontados
com uma juíza ao mesmo tempo durona e maternal, que é a
verdadeira estrela do documentário. A novidade aqui,
com relação ao longa-metragem anterior da diretora, é o recurso discreto, mas inquietante, à encenação com atores.
Explica-se: pela lei brasileira,
menores infratores não podem
ser identificados publicamente, por isso o documentário os
substituiu por garotos e garotas
vindos das mesmas comunidades carentes (eufemismo para
favelas) dos acusados. Os jovens atores repetem diante da
câmera exatamente as mesmas
frases ditas no processo pelos
verdadeiros acusados.
As falas da juíza, dos promotores públicos e advogados são
documentais, registradas durante as audiências. No "contracampo" a elas é que foram
inseridas as falas encenadas.
Como o filme inclui cenas do
cotidiano nas celas do Instituto
Padre Severino (espécie de Febem onde os menores ficam reclusos), os "substitutos" são
convocados também a representá-las.
Sabendo que se trata de atores inseridos num registro que
mimetiza o documental, essas
cenas têm um ar "fake" que retira muito de seu peso.
Deterioração social
O interessante mesmo são as
audiências, nas quais vem à tona todo um quadro de deterioração social e moral, com meninos e meninas que não conhecem os pais e que não raro são,
eles próprios, pais e mães.
Pior: mal conseguem se expressar e não compreendem
onde estão metidos. Um deles
chegou a fugir do instituto no
dia em que seria libertado, simplesmente porque não tinha
entendido a sua situação. Triste
Brasil.
JUÍZO
Direção: Maria Augusta Ramos
Produção: Brasil, 2007
Quando: hoje, às 18h30, no Espaço Unibanco; amanhã, às 14h, na Cinemateca
Avaliação: bom
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