São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2007

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Debate põe críticos e cinéfilos à prova

Leon Cakoff enxerga "fenômeno lamentável'; para Inácio Araujo, momento é "dos mais interessantes"

DA REPORTAGEM LOCAL

Os críticos Leon Cakoff, diretor da Mostra de SP, Luiz Zanin Oricchio, do "Estado de S. Paulo", e Inácio Araujo, da Folha, expressaram opiniões antagônicas sobre a condição atual da crítica de cinema e da cinefilia, em debate anteontem.
Contrariamente ao anunciado pela Mostra, a discussão -em torno do lançamento da edição brasileira de "A Rampa" (Cosac Naify), do crítico francês Serge Daney (1944-92)- não teve a participação do presidente da Cinemateca Francesa, Serge Toubiana. Cakoff disse que, por razões de saúde, Toubiana cancelou primeiro sua vinda ao Brasil e, depois, a videoconferência que o juntaria ao debate, a partir de Paris.
Ao anunciar a realização do encontro, antes do início da Mostra, Cakoff ressaltou sua intenção de discutir a "crise da cinefilia" e a "perda de credibilidade dos críticos", fenômenos que julga estar em curso.
"Não sei se estou alienado do mundo, mas não estou vendo crise da crítica", argumentou anteontem Araujo. Para o crítico da Folha, "vivemos um momento dos mais interessantes, desde a internet, que deu nascimento a uma geração de críticos e a uma cinefilia que trabalha baixando filmes".
Araujo avalia que "um bom esquema de repartição [virtual dos filmes] retoma o sistema da cinefilia". Cakoff, que é também distribuidor e exibidor, replicou que "se o cinéfilo não é uma raça em extinção, ele não está presente onde a gente quer que ele esteja, que é no espaço coletivo [das salas de cinema], e não solitário. Acho isso um fenômeno lamentável".
Já Zanin disse que "a crise mais acentuada da crítica cinematográfica se deve à pluralidade dos discursos. As certezas já não são levadas a sério".
Em defesa da disposição crítica à compreensão dos filmes, Cakoff afirmou que "não existe filme ruim. Na pior das hipóteses, um filme ruim serve para você compará-lo com outro melhor" e reivindicou que críticos possam "mudar de opinião, não só como sinal de coragem interna, mas por um processo de aprendizado".
Araujo definiu a crítica como "um esforço de compreensão", mas afirmou que "a escrita jornalística é agressiva, por mais delicado que se tente ser, dizer que eu não gostei do filme que você gosta é violento". (SA)


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