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Debate põe críticos e cinéfilos à prova
Leon Cakoff enxerga "fenômeno lamentável'; para Inácio Araujo, momento é "dos mais interessantes"
DA REPORTAGEM LOCAL
Os críticos Leon Cakoff, diretor da Mostra de SP, Luiz Zanin
Oricchio, do "Estado de S. Paulo", e Inácio Araujo, da Folha,
expressaram opiniões antagônicas sobre a condição atual da
crítica de cinema e da cinefilia,
em debate anteontem.
Contrariamente ao anunciado pela Mostra, a discussão
-em torno do lançamento da
edição brasileira de "A Rampa"
(Cosac Naify), do crítico francês Serge Daney (1944-92)-
não teve a participação do presidente da Cinemateca Francesa, Serge Toubiana. Cakoff disse que, por razões de saúde,
Toubiana cancelou primeiro
sua vinda ao Brasil e, depois, a
videoconferência que o juntaria ao debate, a partir de Paris.
Ao anunciar a realização do
encontro, antes do início da
Mostra, Cakoff ressaltou sua
intenção de discutir a "crise da
cinefilia" e a "perda de credibilidade dos críticos", fenômenos
que julga estar em curso.
"Não sei se estou alienado do
mundo, mas não estou vendo
crise da crítica", argumentou
anteontem Araujo. Para o crítico da Folha, "vivemos um momento dos mais interessantes,
desde a internet, que deu nascimento a uma geração de críticos e a uma cinefilia que trabalha baixando filmes".
Araujo avalia que "um bom
esquema de repartição [virtual
dos filmes] retoma o sistema da
cinefilia". Cakoff, que é também distribuidor e exibidor, replicou que "se o cinéfilo não é
uma raça em extinção, ele não
está presente onde a gente
quer que ele esteja, que é no espaço coletivo [das salas de cinema], e não solitário. Acho isso
um fenômeno lamentável".
Já Zanin disse que "a crise
mais acentuada da crítica cinematográfica se deve à pluralidade dos discursos. As certezas
já não são levadas a sério".
Em defesa da disposição crítica à compreensão dos filmes,
Cakoff afirmou que "não existe
filme ruim. Na pior das hipóteses, um filme ruim serve para
você compará-lo com outro
melhor" e reivindicou que críticos possam "mudar de opinião, não só como sinal de coragem interna, mas por um
processo de aprendizado".
Araujo definiu a crítica como
"um esforço de compreensão",
mas afirmou que "a escrita jornalística é agressiva, por mais
delicado que se tente ser, dizer
que eu não gostei do filme que
você gosta é violento".
(SA)
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