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Crítica/"Serbis"
Obra de Brillante Mendoza privilegia cinema sensorial
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Quando exibido em
competição em Cannes em maio, "Serbis"
foi considerado por parte dos
jornalistas mera provocação, o
tipo de filme que teria sido mais
correto programar para uma
das paralelas do que no time
dos candidatos a maiorais.
O cotidiano de uma família
que vive no interior de um decadente cinema que exibe filmes pornográficos, em meio a
uma fauna de homossexuais e
travestis que praticam sexo
anônimo pelos corredores, pareceu no mínimo extravagância ou, no máximo, mau gosto.
Ao lado de Lav Diaz, cujo longuíssimo "Melancholia" também foi selecionado com acuidade para esta 32ª Mostra, a
exibição do filme de Brillante
Mendoza justifica-se, por um
lado, pela vocação informativa
do festival paulistano.
Pois a cinematografia filipina, que teve um farol internacional nos anos 70 e 80 por
meio do nome de Lino Brocka,
voltou a ser foco de atenções
com a emergência de um grupo
de realizadores autorais.
Sem moralismo
Mendoza não é novato. "Serbis" é o sexto longa de uma carreira produtiva que começou
em 2005 com "O Massagista"
(exibido na 29ª Mostra, após
vencer o Festival de Locarno).
"Serbis" reafirma a inclinação de Mendoza por um cinema sensorial, no qual corpos,
sons e espaços ganham primazia frente à psicologia ou à clareza do relato. Como em
"Adeus Dragon Inn" e "O Sabor
da Melancia", do malaio Tsai
Ming-liang, o filme do filipino
explora signos como a sexualidade em lugares públicos e a
presença recorrente de fluxos
(corpóreos e materiais).
Ao contrário de Tsai, cuja obsessão pela incomunicabilidade se expressa na forma de bloqueios interpessoais e espaços
inundados, "Serbis" prefere dar
um sinal positivo ao que mostra: crianças passeiam de carrinhos e os freqüentadores em
busca de sexo convivem abertamente com os moradores do
espaço. A encenação convida a
despojar o olhar do moralismo
e a enxergar ali algo que simboliza circulação e conexão.
A certa altura, a câmera escapa do confinamento e ganha a
rua, revelando num letreiro o
nome do cinema: Família.
Sinal de que, na visão de
Mendoza, a vida é melhor num
bordel do que numa prisão.
SERBIS
Quando: hoje, às 17h40, na Cinemateca (sala BNDES); quarta, às
13h30, no Cinesesc
Classificação: não indicado a menores de 18 anos
Avaliação: bom
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