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Crítica/ DVD/ "Videogramas de uma Revolução"
Levante romeno tem registro definitivo
AMIR LABAKI
ARTICULISTA DA FOLHA
O ano de 1989 é o 1968 de
minha geração. Cobri
para esta Folha o braço húngaro da revolução democrática que rasgou a "cortina de
ferro", derrubou o Muro de
Berlim e liquidou o império soviético. Sua página mais violenta aconteceu na Romênia de
Nicolau Ceauscescu.
"Videogramas de uma Revolução" é o documentário definitivo sobre o fim do "socialismo" romeno. Para sua realização aliaram-se dois ensaístas,
um com as imagens, o alemão
Harun Farocki, outro dos estudos de comunicação, o romeno
Andrei Ujica. Nada que surpreenda, portanto, que o resultado seja uma das mais complexas radiografias em filme do
poder da imagem nas sociedades contemporâneas.
Na esteira de mais um massacre perpetrado por Ceauscescu, entre 21 e 25 de dezembro, a Romênia explodiu. Farocki e Ujica articulam registros audiovisuais do levante de
Bucareste feitos tanto por profissionais, da ininterrupta cobertura televisiva, como por
amadores, de inúmeros cinegrafistas independentes. O que
assistimos é como foi a revolução ao vivo.
Extras como prefácio
Farocki e Ujica radicalizam a
máxima de Mathew Brady, o
fotógrafo maior da Guerra Civil
dos EUA (1861-1865): "a câmera é o olho da história". Mais
que isso: subvertem de autoritário para libertário o panóptico global da multiplicação de
câmeras. Vão além: editam e
ordenam as imagens mas também as comentam. "Ônibus
174", de José Padilha, e "Santiago", de João Moreira Salles, beberam nestas águas.
Ceaucescu se impôs à custa
de sangue e à custa de sangue
foi deposto. A execução dele e
de sua esposa Elena, no dia de
Natal, foi vista por todos na TV,
como para provar que o pesadelo de fato acabara. Aquela cena está para as imagens em movimento como as fotos do cadáver de Che Guevara para a fotografia. Há algo de belo em que o
texto que revelou Ujica, muito
antes do filme, se chamasse "O
Ultimato das Imagens".
Como sempre na Coleção Videofilmes, dois extras complementam impecavelmente o
lançamento. São "O Rei do Comunismo Pompa e Esplendor
de Nicolau Ceausescu", dirigido por Ben Lewis para a BBC, e
"Um Dia na República Popular
da Polônia", de Maciej J.
Drygas. Em seus estilos distintos, respectivamente o filme reportagem e o documentário de
arquivo cumprem a mesma
função: como prefácios, apresentam o universo do chamado
"socialismo realmente existente" antes da retumbante queda
do tirano.
VIDEOGRAMAS DE UMA REVOLUÇÃO
Direção: Harun Farocki e Andrei Ujica
Distribuidora: Videofilmes
Quanto: R$ 50 (em média)
Classificação: não informada
Avaliação: ótimo
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