São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008

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Crítica/ DVD/ "Videogramas de uma Revolução"

Levante romeno tem registro definitivo

AMIR LABAKI
ARTICULISTA DA FOLHA

O ano de 1989 é o 1968 de minha geração. Cobri para esta Folha o braço húngaro da revolução democrática que rasgou a "cortina de ferro", derrubou o Muro de Berlim e liquidou o império soviético. Sua página mais violenta aconteceu na Romênia de Nicolau Ceauscescu.
"Videogramas de uma Revolução" é o documentário definitivo sobre o fim do "socialismo" romeno. Para sua realização aliaram-se dois ensaístas, um com as imagens, o alemão Harun Farocki, outro dos estudos de comunicação, o romeno Andrei Ujica. Nada que surpreenda, portanto, que o resultado seja uma das mais complexas radiografias em filme do poder da imagem nas sociedades contemporâneas.
Na esteira de mais um massacre perpetrado por Ceauscescu, entre 21 e 25 de dezembro, a Romênia explodiu. Farocki e Ujica articulam registros audiovisuais do levante de Bucareste feitos tanto por profissionais, da ininterrupta cobertura televisiva, como por amadores, de inúmeros cinegrafistas independentes. O que assistimos é como foi a revolução ao vivo.

Extras como prefácio
Farocki e Ujica radicalizam a máxima de Mathew Brady, o fotógrafo maior da Guerra Civil dos EUA (1861-1865): "a câmera é o olho da história". Mais que isso: subvertem de autoritário para libertário o panóptico global da multiplicação de câmeras. Vão além: editam e ordenam as imagens mas também as comentam. "Ônibus 174", de José Padilha, e "Santiago", de João Moreira Salles, beberam nestas águas.
Ceaucescu se impôs à custa de sangue e à custa de sangue foi deposto. A execução dele e de sua esposa Elena, no dia de Natal, foi vista por todos na TV, como para provar que o pesadelo de fato acabara. Aquela cena está para as imagens em movimento como as fotos do cadáver de Che Guevara para a fotografia. Há algo de belo em que o texto que revelou Ujica, muito antes do filme, se chamasse "O Ultimato das Imagens".
Como sempre na Coleção Videofilmes, dois extras complementam impecavelmente o lançamento. São "O Rei do Comunismo Pompa e Esplendor de Nicolau Ceausescu", dirigido por Ben Lewis para a BBC, e "Um Dia na República Popular da Polônia", de Maciej J. Drygas. Em seus estilos distintos, respectivamente o filme reportagem e o documentário de arquivo cumprem a mesma função: como prefácios, apresentam o universo do chamado "socialismo realmente existente" antes da retumbante queda do tirano.


VIDEOGRAMAS DE UMA REVOLUÇÃO
Direção: Harun Farocki e Andrei Ujica
Distribuidora: Videofilmes
Quanto: R$ 50 (em média)
Classificação: não informada
Avaliação: ótimo



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