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Peça põe Amazônia em tragédia de Shakespeare
Diretor aponta elo entre "Macbeth" e desmatamento
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Na montagem de "Macbeth"
em cartaz desde sexta em São
Paulo, o personagem-título
desfila sua ambição num cenário de troncos cortados e folhas
secas. Prenúncio de que talhará
todo obstáculo que se colocar
entre ele e o trono da Escócia
-para não falar dos que surgirem após sua coroação.
Mas há, na concepção do diretor Ederson José (que acumula o papel de Macbeth), outra leitura possível para a paisagem de desolação: a Amazônia
desmatada. Ele vê paralelos entre a sanha extrativista na região e a obsessão de Macbeth
pelo poder:
"Essa briga de grileiros, essa
autoridade conseguida por
meio da encomenda de mortes
a matadores de aluguel, isso tinha muito na Escócia".
O desejo de tratar, nas entrelinhas, da destruição da floresta
não se traduziu em mudanças
substanciais no texto original.
"Não houve necessidade de regionalizar, fazer sotaque, pois a
idéia era que a história permanecesse universal", diz José.
O máximo que ele se permitiu em termos de "aclimatação"
foi inserir uma referência ao
caso da adolescente presa em
cela com 20 homens, no Pará,
em 2007 (quando os nobres
que articulam para destronar
Macbeth comentam seu regime anárquico), e músicas de
Chico César ("Invocação") e
Carlinhos Brown/Arnaldo Antunes ("Lua Vermelha").
Esta última (ouvida na voz
das três bruxas/irmãs que predizem o futuro de Macbeth)
tem versos que falam em "centelha" e "bolha de sabão":
"É uma imagem para a efemeridade do poder do personagem, mas também daqueles
que hoje conseguem dinheiro
derrubando a floresta. Aquilo
vai se esgotar", afirma o diretor,
esquivando-se do rótulo de demagógico. "Sei que é moda falar
de sustentabilidade, tem essa
história de "marketing verde".
Mas aqui não ficamos gritando
pela Amazônia. Falamos disso
dentro de Shakespeare".
Do cinema para o palco
As intérpretes das bruxas
proféticas são as irmãs Regina,
Maria e Conceição, celebrizadas no documentário "A Pessoa
É para O Que Nasce" (2003), de
Roberto Berliner, como Poroca, Maroca e Indaiá. Cegas, elas
foram descobertas tocando
ganzá e cantando embolada em
Campina Grande (PB).
José foi até lá convidá-las para atuar na montagem (em seis
intervenções, ensaiadas em junho e na semana de estréia).
"Pensei que não ia funcionar,
que ia errar as músicas. A peça
arrepiou meus cabelos todinhos", conta Maroca, já mais
segura de seu desempenho.
MACBETH - COMO NASCE UM DESERTO
Quando: de sexta a domingo, às
19h30; até 7/12
Onde: Sesc Avenida Paulista (av. Paulista, 119, 5º andar, tel. 0/xx/ 11/
3179-3700)
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
Classificação: não indicado a menores
de 14 anos
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