São Paulo, segunda-feira, 26 de outubro de 2009

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33ª MOSTRA DE SP

"Ela é louca por sexo, manteiga e champanhe"

Em "Julie e Julia", filme de Nora Ephron, Meryl Streep interpreta versão idealizada da célebre cozinheira Julia Child

Longa é baseado no blog de Julie Powell, secretária que decidiu cozinhar em um ano as 526 receitas de livro clássico de Julia

TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

Se a comédia romântico-gastronômica "Julie e Julia" fosse um reality show e não um longa-metragem, seria covardia. O filme conta duas histórias paralelas, mas uma imensamente mais interessante que a outra.
A primeira é a da secretária Julie Powell, que, em 2002, em Nova York, decidiu fazer um blog contando os altos e baixos de um desafio autoimposto: cozinhar todas as 526 receitas do livro de culinária francesa mais famoso dos Estados Unidos em um ano, o que dá, em média, 1,4 receitas por dia.
A outra é a história dos anos de formação de Julia Child, autora desse livro, "Mastering the Art of French Cooking" (dominando a arte da cozinha francesa, 1961). Ela e o marido, o diplomata Paul Child, passaram parte da década de 50 em Paris.
Foi lá que Julia fez seu primeiro curso de culinária, na rigorosa Le Cordon Bleu. Depois, com duas amigas, testou e converteu para as medidas americanas as receitas francesas mais tradicionais. Assim nasceu o famoso livro.
"Ela sempre amou comer bem. Mas, quando decidiu aprender a cozinhar, descobriu que aquilo não seria um hobby, mas uma vocação", disse Meryl Streep, que a interpreta no filme, em entrevista à Folha, em Beverly Hills. "Algumas pessoas têm essa sorte na vida, de descobrir sua vocação."
Já Julie Powell é interpretada por Amy Adams, mas em versão nada glamourosa. A atriz de 35 anos, linda pessoalmente, está apenas bonitinha no filme, de cabelo curto castanho bem sem graça e um figurino que não vai além de jeans e camisetas. Sua Nova York também não podia ser mais dura: mora no Queens, em um apartamento mínimo, que divide com um marido chato vivido por Chris Messina.
O longa-metragem, escrito e dirigido por outra apaixonada por comidas e receitas, Nora Ephron, mostra a vida de Julia como relatada na biografia póstuma "My Life in France" (minha vida na França, 2006) -Julia morreu em 2004, aos 91 anos, nos Estados Unidos.
"A gente vê a vida de Julia como a Julie Powell imaginava que fosse. Na realidade, ela e Paul passaram noites terríveis sem aquecimento, outras sem água, nem tudo foi tão incrível para eles na França. Mas isso não quisemos mostrar", disse Meryl Streep.
A Julia Child de Julie Powell é mais divertida, inteligente e persistente. "Ela é louca por sexo, manteiga e champanhe", completa a atriz.
"Acho que, quanto mais a vida da minha personagem em Nova York parecia dura, mais ela fantasiava a respeito de Julia Child em Paris", afirmou Amy Adams, pela segunda vez em um longa-metragem protagonizado por Meryl Streep. O outro foi "Dúvida", do ano passado, que rendeu indicações ao Oscar às duas atrizes.

Trejeitos
Dessa vez, antes mesmo do lançamento nos EUA, já se dizia que Meryl Streep deve ser indicada de novo.
"Isso me parece aquelas latinhas que as pessoas amarram na traseira dos carros dos recém-casados, sabe?", desdenha Streep, vencedora de dois Oscar e indicada 15 vezes, entre prêmios de melhor atriz e melhor coadjuvante.
"É disso que se fala sempre que eu faço um filme. Dá vontade de lembrar as pessoas que eu ganhei dinheiro para trabalhar, não fiz de graça, só pela possibilidade de um prêmio. Mas, se despertar a curiosidade do público, por mim tudo bem."
A atriz conta que estudou muito os programas de TV de Julia Child para aprender os gestos, as posturas e o jeito de falar. "No começo, ela [Julia] era mais contida, depois começou a exagerar alguns elementos. Tenho certeza de que ela se assistia e via o que ficava interessante na TV, aí aumentava esses trejeitos", diverte-se.
"Ela se apaixonou pela sua imagem, aquela mulher imensa debruçada sobre uma bancada baixa de cozinha. Quis aprender o jeito como ela era antes de virar a Julia Child personagem de TV. Já era bem esquisita sendo uma recém-casada de meia-idade, com aquela altura, nos anos 50 na França."
Se o assunto Oscar cansa Streep, um outro tópico a diverte. É a mania de repórteres de querer saber a marca da roupa que ela veste. Nessa entrevista, um vestido vermelho decotado "Praaada", que ela fala com a voz e o jeito cantado de sua personagem mais recente.


JULIE E JULIA

Quando: hoje, às 19h, no Cine TAM e em outros dois dias e horários de exibição
Classificação: 14 anos




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