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Crítica/"Alga Doce"
Em tom triste, Wajda deixa de lado a grande história e reflete sobre a morte
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Desde que Andrzej Wajda retornou à Polônia,
depois de uma carreira
internacional irregular, seu cinema reconquistou a densidade estética e dramática de seus
momentos mais fortes ("Canal", "Cinzas e Diamantes", "O
Homem de Mármore").
Se "Katyn" (2007), seu longa
anterior, era um doloroso acerto de contas com o passado histórico da Polônia, em "Alga Doce" o foco se fecha em poucos
destinos individuais. Mas o
tom segue sendo elegíaco, de
meditação sobre a morte.
Há no filme duas histórias
que se sobrepõem. Uma delas,
inspirada num conto de Jaroslaw Iwaszkiewcz e em outro de
Sándor Márai, é a de Marta
(Krystyna Janda), mulher de
um médico de província que
descobre nela uma doença incurável em estágio terminal.
Para piorar, eles perderam os
dois filhos durante a Segunda
Guerra Mundial.
A outra história é o drama
real da própria atriz Krystyna
Janda, cujo marido, o diretor
de fotografia Edward Klosinski, morreu de câncer em 2008,
quando ela se preparava para
filmar com Wajda. Tanto Klosinski quanto Krystyna tinham
trabalhado com o diretor desde
os anos 70.
A agonia (real) de Klosinski e
a agonia (ficcional) da personagem Marta espelham-se mutuamente, são como desdobramentos de um mesmo ensaio
sobre a finitude humana.
Em "Katyn", filme escuro, de
textura espessa, predominava a
materialidade da terra, afinal,
tratava-se de desenterrar corpos, de desencavar o passado.
Já em "Alga Doce", cujo cenário
é uma aldeia à margem de um
rio, o elemento essencial é a
água, a sublinhar com melancolia o fluir inelutável do tempo. A imagem aqui é clara,
translúcida, exangue.
É na beira do rio, e em suas
mansas águas, que Marta, ainda
sem saber que lhe resta pouco
tempo, vive um romance tardio
e platônico com um jovem barqueiro. Ele a desperta para a vida, mais ou menos como Tadzio despertou Aschenbach em
"Morte em Veneza" [filme de
Luchino Visconti]. Nos dois casos, tarde demais.
Filme tristíssimo, "Alga Doce" tem também seu tanto de
balanço pessoal do próprio
Wajda, e não apenas pelo tocante tributo à atriz e amiga.
Não por acaso, quando Marta
se dispõe a incentivar o jovem
barqueiro a ler, o romance que
lhe empresta é "Cinzas e Diamantes", de Jerzy Andrzejewski, base de um dos grandes filmes do diretor e do cinema.
ALGA DOCE
Quando: hoje, às 19h, na Faap, e dia
2/11 no Espaço Unibanco Augusta
Classificação: 14 anos
Avaliação: ótimo
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