São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2010

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Mutarelli ABAIXO O TOM

Escritor lança " Nada me Faltará ", livro em que troca estilo bizarro por trama mais delicada

Adriano Vizoni/Folhapress
Lourenço Mutarelli em sua casa, na Vila Mariana

MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO

Quase sempre que se fala de Lourenço Mutarelli, surgem expressões como "estranho" e "bizarro".
Nada que incomode o escritor e quadrinista de 46 anos, que até reconhece um fundo de verdade nisso.
"Com o tempo eu fui entendendo. No começo, nos quadrinhos, eu não percebia essa minha bizarrice. Hoje acho que era bastante bizarro mesmo", diz.
Mutarelli refere-se a trabalhos como "Transubstanciação", HQ de 1991 sobre Thiago, homem atormentado que assassina o próprio pai.
Mas Mutarelli não quer se limitar a antigos rótulos. Por que não identificar seu trabalho à "delicadeza"?
Pelo menos é a busca que o autor empreende no novo romance, "Nada me Faltará".
"Acho que é meu livro menos estranho", avalia.
No mundo de Mutarelli, contudo, "menos estranho" está bem distante de normal.
O romance narra a história de Paulo, que desaparece misteriosamente junto com a mulher e a filha e ressurge, sozinho, um anos depois.
"Acho que nos meus primeiros trabalhos faltava sutileza. A delicadeza é uma coisa que fui buscando primeiro nos quadrinhos. Agora isso se reflete no romance."

FELIZ
O homem que a Folha encontrou num apartamento da Vila Mariana, cercado por livros e gatos (cinco ao todo), é bem menos soturno que seus personagens.
"A melhor fase da minha vida veio depois dos 40 anos", diz ele, enquanto acaricia um dos gatos.
A carreira também passou por uma virada. Em 2002, desanimado com os quadrinhos, lançou o primeiro romance, "O Cheiro do Ralo".
A história do homem que tem fixação pelo cheiro exalado pelo ralo chegaria às telas em 2006, em filme de Heitor Dhalia, no qual Mutarelli atua como um segurança.
Sucesso de crítica e público, o filme fez do "estranho dos quadrinhos" o romancista da moda. Marcou também o nascimento do ator.
De coadjuvante ele saltaria para protagonista já no longa seguinte, "O Natimorto" (2009), também baseado em livro dele.
Como de costume, Mutarelli viu toda a repercussão com desconfiança.
"Virou moda a escola do bizarro, então é fácil o autor ficar preso num estilo. Já o que me dá prazer é justamente experimentar, buscar novos caminhos", explica.
O sucesso também não o deixou menos avesso aos flashes. Para fazê-lo sorrir, ainda que discretamente, o fotógrafo apelou aos versos da música "Rebolation", que garotos cantavam na rua.
O que o tem divertido mesmo é assistir ao DVD da série "Friends" ao lado da mulher e do filho de 15 anos.
Entre os próximos planos, está escrever para teatro. Algo um pouco mais extravagante, próximo do estilo do início da carreira, do qual admite já sentir saudade.
Mutarelli pode estar mais delicado, mas não ameno.


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