São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros CRÍTICA DOCUMENTÁRIO Mekas faz jornada noite adentro com coisas bonitas RICARDO CALIL CRÍTICO DA FOLHA Em meio a "Histórias da Insônia", Jonas Mekas -lituano radicado em Nova York e mestre do cinema de vanguarda americano- dá um longo e emocionado depoimento, olhando para a câmera, sobre sua colega Marie Menken (1909-1970). Elogia o "cinema invisível" de Menken, filmado como se escrevem pequenos poemas sobre coisas não importantes -e que ficou um pouco obscurecido pelo que chama de "blockbusters da vanguarda", de nomes como Stan Brakhage ou Kenneth Anger. Ao falar sobre a colega, Mekas oferece ao espectador uma perfeita chave de compreensão sobre a própria obra, em que usa a câmera quase como caneta para notas de um diário pessoal, ideia preconizada por Alexandre Astruc em 1948. Dentro desse conceito, "Histórias da Insônia" surge como um exemplar inspirado, tocante e cheio de frescor -o que não é mérito pequeno para um diretor com 88 anos e mais de 50 de carreira. O ponto de partida, como indica o título, é a insônia de Mekas. "Eu não vou dormir até ouvir alguma coisa bonita", ele anuncia. E, então, o cineasta parte para uma série de encontros com desconhecidos, familiares e artistas, como as cantoras Patti Smith e Björk e o ator Louis Garrel. Eles bebem, ouvem música, recitam poemas, filosofam sobre a música de Amy Winehouse (1983-2011) e a eternidade da alma -todas essas coisas "não importantes" que o cinema costuma relegar em função da trama e que, claro, são fundamentais. A rigor, não trabalha com material tão diferente dos de reality shows, mas acertar no casting e, sobretudo, trocar o olhar mercantil pelo poético fazem toda a diferença. No final, a missão a que o cineasta se propôs é cumprida com louvor: ele e os espectadores ouvirão e verão muitas coisas bonitas ao longo dessa jornada noite adentro -e poderão dormir em paz. HISTÓRIAS DA INSÔNIA DIREÇÃO Jonas Mekas PRODUÇÃO EUA, 2011 QUANDO hoje, às 18h, no Centro Cultural São Paulo; e dias 28, às 16h, no Cine Livraria Cultura; 30, às 20h30, e 1º, às 19h50, no Unibanco Arteplex; e 3, às 14h, no Espaço Unibanco Augusta CLASSIFICAÇÃO livre AVALIAÇÃO ótimo Texto Anterior: Crítica/Drama: Marco Bellocchio filma a intimidade familiar com tensão e olhar sereno Próximo Texto: Diário da Caverna - Marcos Dávila: É permitido aplaudir Índice | Comunicar Erros

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