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LITERATURA
Projeto em CD-ROM traz experimentos virtuais de 12 "matrizes" com a intenção de provocar a linguagem
Poesia digital busca seu papel em "cortex"
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Lançada em CD-ROM, a revista
"cortex", que traz trabalhos de
poesia em linguagem digital, é definida como "pós-utópica" pelos
seus editores, os poetas Lucio
Agra, Thiago Rodrigues e o músico e designer Guilherme Ranoya.
Não querem lançar um movimento iconoclasta, mas pretendem "provocar a linguagem".
"Não é que nós desmerecemos
o papel. Ele tem a sua função.
Acreditamos, porém, que a poesia
digital pode abrir novas vias que
não a do papel", afirma Thiago
Rodrigues, 26.
Por meio de experimentações
que envolvem o uso de palavras,
imagens e sons em trabalhos que
surgem ou por programação em
flash ou pelo uso de links (hipertexto), a "cortex" apresenta poemas de 12 "matrizes" -uma delas é a parceria entre Rodrigues e
Ranoya, que se apresentam juntos como R2.
Estão presentes na revista, além
dos editores, trabalhos de poetas
como Arnaldo Antunes, André
Vallias -que venceu recentemente o Prêmio Sergio Motta de
literatura/poesia digital-, Lenora de Barros e o americano Chris
Funkhouser, entre outros.
Além de propor novos caminhos para a poética visual e para a
poesia em geral, a proposta da
"cortex" é a de garantir espaço e
respeito para a vertente digital.
"O panorama poético tende a
ser conservador e lida com a poesia visual e, principalmente, a digital, como uma coisa pueril,
quando não é isso. Poesia digital é
uma coisa séria", diz Rodrigues.
Segundo ele, é também um desafio. Por estar intimamente relacionada com o desenvolvimento
de novas tecnologias, a poesia se
torna às vezes vítima das dores-de-cabeça típicas da informática.
"A falta de padrão entre as máquinas é uma dificuldade. Às vezes você programa tudo e fica perfeito numa máquina, mas pode
ser que não rode num outro computador", diz Rodrigues. Por outro lado, esses obstáculos acabam
se tornando matéria-prima de
metáforas da poesia digital.
No poema "Almost Lost in São
Paulo", de Jorge Luiz Antonio, o
corpo do poema é um texto em
que algumas palavras são links
para imagens em outra página,
tem um erro premeditado de "página não-encontrada".
Mas nem todos os poemas foram concebidos diretamente para
o suporte visual. Rodrigues afirma que os de Arnaldo Antunes e
Lenora de Barros, por exemplo, já
existiam em papel, mas abriam a
possibilidade de uma adaptação
para a poesia em movimento.
"O próprio [poeta concretista]
Augusto de Campos hoje já está
animando seus poemas concretos
em flash. O "Plano Piloto da Poesia Concreta" já concebia esses
formatos em 1958, só não tinham
o suporte técnico para isso", afirma Rodrigues.
A relação com o concretismo
não é negada. "O Lúcio [Agra], o
Guilherme [Ranoya] e eu nos conhecemos quando levávamos
adiante essas experimentações
concretistas", declara.
Além disso, a "cortex" conta
com músicas do filho de Augusto
de Campos, Cid Campos. Para
Rodrigues, porém, não há uma
intenção de seguir o movimento.
"Temos um parentesco com a
poesia visual, que não se restringe
ao concretismo. Não faz muito
sentido para mim herdar uma
discussão que não é nossa", diz,
fugindo de intenções dogmáticas.
Segundo os editores, "cortex"
deve se tornar anual, mas não é
garantido que saia sempre em
CD-ROM. Pode ser que, até lá,
surja uma nova linguagem.
CORTEX. Lançamento da revista de
poesia digital em CD-ROM, com poemas
de Arnaldo Antunes, Lenora de Barros,
R2 e outros. Quando: hoje, às 20h30, no
ampgalaxy (r. Fradique Coutinho, 352,
Pinheiros, SP, tel. 0/xx/11/3085-7867).
Entrada franca. Preço do CD-ROM: R$ 15.
www.darkside.com.br/cortex.
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