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MÚSICA
Com canções melancólicas, cantora cabo-verdiana faz dois shows na cidade, hoje e amanhã, com ingressos esgotados
Para Cesaria Evora, "alegria e tristeza são vizinhas"
CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ela emocionou o público de Salvador, no último domingo, como
a maior atração do Festival África-Brasil. São Paulo também vai
poder apreciar as canções carregadas de melancolia da cabo-verdiana Cesaria Evora, que se apresenta hoje e amanhã, no Sesc Santana. Mas não adianta mais correr: os ingressos estão esgotados.
Foi graças à "diva descalça" (ela
não gosta de usar sapatos, nem
mesmo no palco) que a música de
Cabo Verde se tornou conhecida
no mundo. Dois gêneros musicais
são cultivados por ela em seu repertório: a morna (lenta e triste,
equivale ao samba-canção na
MPB ou ao blues na música norte-americana) e a coladeira (mais
alegre e dançante).
"A morna e o fado são muito
parecidos", diz Cesaria, explicando a forte influência lusitana sobre a morna pelo fato de Cabo
Verde ter sido colônia de Portugal. "Os dois também se parecem
com o blues. Esses tipos de música falam das mesmas coisas",
compara, referindo-se às histórias
tristes e ao modo melancólico de
encarar a vida, típicos desses gêneros musicais.
Apesar de sua imagem estar
vinculada à tristeza das mornas,
Cesaria afirma que essa aparência
só revela parte de sua personalidade. "Posso não ser muito alegre, mas triste também não sou. A
alegria e a tristeza são vizinhas",
filosofa, revelando ser uma apreciadora da folia do Carnaval.
"Não sou de vestir máscaras, nem
nada disso, mas gosto de ver as
pessoas dançando".
Depois de ter feito várias apresentações pelo Brasil ao longo da
última década, além de ter participado de gravações e shows com
astros da música popular brasileira, Cesaria diz que já sente em casa ao visitar o país.
"Já cantei música brasileira com
Caetano Veloso, Marisa Monte e
Gal Costa. E sempre adorei a voz
de Ângela Maria", diz, relembrando a emoção que sentiu em 1994,
ao conhecer pessoalmente a veterana cantora carioca, da qual é fã
desde a adolescência. Não foi por
outra razão que Cesaria gravou,
no mesmo ano, o samba-canção
"Negue" (de Adelino Moreira),
antigo sucesso da brasileira. E voltou a homenageá-la em 2003, gravando o bolero "Beijo Roubado"
(do mesmo autor), em "Voz D'Amor", seu CD mais recente.
Essa admiração pela música
brasileira, afirma a cantora cabo-verdiana, é comum entre seus
conterrâneos. "A música de Cabo
Verde tem muito a ver com a música do Brasil. Temos várias semelhanças com ela, como os instrumentos que usamos", compara,
mencionando o violão, o cavaquinho, o piano e a percussão -todos presentes no grupo que a
acompanha.
O namoro da cantora com o
Brasil, por sinal, acaba de entrar
em nova fase. Ela conta que aceitou na hora a sugestão de José da
Silva, produtor de seus discos, para que convidassem o carioca Jaques Morelenbaum a escrever alguns arranjos do próximo CD.
Ainda sem título definido, o álbum tem lançamento previsto para fevereiro de 2006, na Europa.
"Gosto dos arranjos do Morelenbaum, ele é muito bom músico", elogia Cesaria, que interpreta
nesse disco canções de autores cabo-verdianos já conhecidos em
seu repertório, como Teófilo
Chantre e Manuel de Novas. Além
das tradicionais mornas e coladeiras, também vão entrar duas músicas do Carnaval de Cabo Verde.
As novas canções ainda não fazem parte do show. "Músicas novas só em 2006. A Cesaria está velha, mas vai cantar músicas novas", brinca. O show é centrado
no recente "Voz D'Amor", além
de antigos sucessos, como "Sodade", "Mar Azul" e "Angola", que
ela jamais deixa de incluir. "Só me
sinto cansada por causa das viagens, mas jamais me canso de
cantar. Um dia vou ter que parar,
mas ainda não sei quando."
Carlos Calado é jornalista e crítico musical, autor de "Tropicália - A História de uma Revolução Musical", entre outros livros
Cesaria Evora
Onde: Sesc Santana (av. Luiz Dumont
Villares, 579, tel. 0/xx/11/6971-8700)
Quando: hoje, às 21h; amanhã, às 19h
Quanto: de R$ 10 a R$ 20; ingressos esgotados
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