São Paulo, sábado, 26 de novembro de 2005

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MÚSICA

Com canções melancólicas, cantora cabo-verdiana faz dois shows na cidade, hoje e amanhã, com ingressos esgotados

Para Cesaria Evora, "alegria e tristeza são vizinhas"

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ela emocionou o público de Salvador, no último domingo, como a maior atração do Festival África-Brasil. São Paulo também vai poder apreciar as canções carregadas de melancolia da cabo-verdiana Cesaria Evora, que se apresenta hoje e amanhã, no Sesc Santana. Mas não adianta mais correr: os ingressos estão esgotados.
Foi graças à "diva descalça" (ela não gosta de usar sapatos, nem mesmo no palco) que a música de Cabo Verde se tornou conhecida no mundo. Dois gêneros musicais são cultivados por ela em seu repertório: a morna (lenta e triste, equivale ao samba-canção na MPB ou ao blues na música norte-americana) e a coladeira (mais alegre e dançante).
"A morna e o fado são muito parecidos", diz Cesaria, explicando a forte influência lusitana sobre a morna pelo fato de Cabo Verde ter sido colônia de Portugal. "Os dois também se parecem com o blues. Esses tipos de música falam das mesmas coisas", compara, referindo-se às histórias tristes e ao modo melancólico de encarar a vida, típicos desses gêneros musicais.
Apesar de sua imagem estar vinculada à tristeza das mornas, Cesaria afirma que essa aparência só revela parte de sua personalidade. "Posso não ser muito alegre, mas triste também não sou. A alegria e a tristeza são vizinhas", filosofa, revelando ser uma apreciadora da folia do Carnaval. "Não sou de vestir máscaras, nem nada disso, mas gosto de ver as pessoas dançando".
Depois de ter feito várias apresentações pelo Brasil ao longo da última década, além de ter participado de gravações e shows com astros da música popular brasileira, Cesaria diz que já sente em casa ao visitar o país.
"Já cantei música brasileira com Caetano Veloso, Marisa Monte e Gal Costa. E sempre adorei a voz de Ângela Maria", diz, relembrando a emoção que sentiu em 1994, ao conhecer pessoalmente a veterana cantora carioca, da qual é fã desde a adolescência. Não foi por outra razão que Cesaria gravou, no mesmo ano, o samba-canção "Negue" (de Adelino Moreira), antigo sucesso da brasileira. E voltou a homenageá-la em 2003, gravando o bolero "Beijo Roubado" (do mesmo autor), em "Voz D'Amor", seu CD mais recente.
Essa admiração pela música brasileira, afirma a cantora cabo-verdiana, é comum entre seus conterrâneos. "A música de Cabo Verde tem muito a ver com a música do Brasil. Temos várias semelhanças com ela, como os instrumentos que usamos", compara, mencionando o violão, o cavaquinho, o piano e a percussão -todos presentes no grupo que a acompanha.
O namoro da cantora com o Brasil, por sinal, acaba de entrar em nova fase. Ela conta que aceitou na hora a sugestão de José da Silva, produtor de seus discos, para que convidassem o carioca Jaques Morelenbaum a escrever alguns arranjos do próximo CD. Ainda sem título definido, o álbum tem lançamento previsto para fevereiro de 2006, na Europa.
"Gosto dos arranjos do Morelenbaum, ele é muito bom músico", elogia Cesaria, que interpreta nesse disco canções de autores cabo-verdianos já conhecidos em seu repertório, como Teófilo Chantre e Manuel de Novas. Além das tradicionais mornas e coladeiras, também vão entrar duas músicas do Carnaval de Cabo Verde.
As novas canções ainda não fazem parte do show. "Músicas novas só em 2006. A Cesaria está velha, mas vai cantar músicas novas", brinca. O show é centrado no recente "Voz D'Amor", além de antigos sucessos, como "Sodade", "Mar Azul" e "Angola", que ela jamais deixa de incluir. "Só me sinto cansada por causa das viagens, mas jamais me canso de cantar. Um dia vou ter que parar, mas ainda não sei quando."


Carlos Calado é jornalista e crítico musical, autor de "Tropicália - A História de uma Revolução Musical", entre outros livros

Cesaria Evora
Onde:
Sesc Santana (av. Luiz Dumont Villares, 579, tel. 0/xx/11/6971-8700)
Quando: hoje, às 21h; amanhã, às 19h
Quanto: de R$ 10 a R$ 20; ingressos esgotados


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