São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006

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BIA ABRAMO

Nova novela da Band surpreende


"Paixões Proibidas" tem coragem de lançar um olhar mais duro em direção ao passado

A TV É pródiga em vender gato por lebre, mas "Paixões Proibidas", a nova empreitada da Bandeirantes, parece estar fazendo o contrário.
Promovida pela própria emissora como uma trama de conteúdo forte -a estréia, duas semanas atrás, foi precedida, inclusive, de um programa especial que sublinhou as cenas de sexo e de violência -, a novela, na verdade, acaba surpreendendo pelo apuro da produção e pelo cuidado com o roteiro.
A reconstituição do século 19 dessa co-produção com a RTP (emissora pública de Portugal) apresenta alguns desvios interessantes em relação ao padrão global. Não por conta de precariedade, que é o habitual na concorrência, mas por uma coragem de lançar um olhar mais duro em direção ao passado.
Pobreza, sujeira, a presença escrava nas ruas e no ambiente doméstico vêm menos maquiadas e arrumadinhas do que as das novelas da Globo. Está certo que as locações em Portugal não escondem sua vocação quase turística, mas, em contraste, aparece também a precariedade do Rio de Janeiro antes da chegada da família real e da decadente Vila de Resende, em plena troca da monocultura açucareira para a cafeeira.
O excesso romanesco -natural, uma vez que se trata de uma adaptação a partir de três obras do ultra-romântico Camilo Castelo Branco-, paradoxalmente, também contribui para esse retrato menos edulcorado da história.
Os personagens meio misteriosos do escritor -o padre vingador, o escroque que faz fortuna com pirataria, a tísica vítima da crueldade do marido-, que parecem, à primeira vista, mirabolantes, acabam por representar certos aspectos de um modo de vida marcado pela condição subordinada das mulheres, pelo desprezo às leis e ao trabalho, pela violência da sociedade escravista.
Isso revela um dedo mais inteligente e crítico do que se espera de uma "novela de época". Aimar Labaki, responsável pelo roteiro, é, além de dramaturgo, um teórico do teatro, e, por ora, vem conseguindo imprimir um teor de densidade que não se encontra com facilidade na televisão.
É pena que, aqui e ali, tenha que sobrar uma certa gratuidade na exposição de corpos, de relações sexuais e de chicotadas em escravos. Mas não deveria ser o suficiente para impedir o público de descobrir a novela.

biabramo.tv@uol.com.br


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