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BIA ABRAMO
Nova novela da Band surpreende
"Paixões Proibidas" tem
coragem de lançar um
olhar mais duro em
direção ao passado
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A TV É pródiga em vender gato
por lebre, mas "Paixões Proibidas", a nova empreitada da
Bandeirantes, parece estar fazendo
o contrário.
Promovida pela própria emissora
como uma trama de conteúdo forte
-a estréia, duas semanas atrás, foi
precedida, inclusive, de um programa especial que sublinhou as cenas
de sexo e de violência -, a novela, na
verdade, acaba surpreendendo pelo
apuro da produção e pelo cuidado
com o roteiro.
A reconstituição do século 19 dessa co-produção com a RTP (emissora pública de Portugal) apresenta alguns desvios interessantes em relação ao padrão global. Não por conta
de precariedade, que é o habitual na
concorrência, mas por uma coragem
de lançar um olhar mais duro em direção ao passado.
Pobreza, sujeira, a presença escrava nas ruas e no ambiente doméstico
vêm menos maquiadas e arrumadinhas do que as das novelas da Globo.
Está certo que as locações em Portugal não escondem sua vocação quase
turística, mas, em contraste, aparece
também a precariedade do Rio de
Janeiro antes da chegada da família
real e da decadente Vila de Resende,
em plena troca da monocultura açucareira para a cafeeira.
O excesso romanesco -natural,
uma vez que se trata de uma adaptação a partir de três obras do ultra-romântico Camilo Castelo Branco-,
paradoxalmente, também contribui
para esse retrato menos edulcorado
da história.
Os personagens meio misteriosos
do escritor -o padre vingador, o escroque que faz fortuna com pirataria, a tísica vítima da crueldade do
marido-, que parecem, à primeira
vista, mirabolantes, acabam por representar certos aspectos de um
modo de vida marcado pela condição subordinada das mulheres, pelo
desprezo às leis e ao trabalho, pela
violência da sociedade escravista.
Isso revela um dedo mais inteligente e crítico do que se espera de
uma "novela de época". Aimar Labaki, responsável pelo roteiro, é, além
de dramaturgo, um teórico do teatro, e, por ora, vem conseguindo imprimir um teor de densidade que
não se encontra com facilidade na
televisão.
É pena que, aqui e ali, tenha que
sobrar uma certa gratuidade na exposição de corpos, de relações sexuais e de chicotadas em escravos.
Mas não deveria ser o suficiente para impedir o público de descobrir a
novela.
biabramo.tv@uol.com.br
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