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Um dos principais atores de sua geração, o premiado Leonardo Medeiros, 44, é destaque em 2008 e começa a ganhar o grande público, ao estrelar seis filmes, peça e novela das oito na Rede Globo
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Encostado na parede, em um
fim de tarde em São Paulo, Leonardo Medeiros está cabisbaixo e chora. Diz ele para a mulher que o encara: "Vocês adoram me fazer sofrer".
Poderia ser cena de "Feliz
Natal" ou "Nossa Vida Não Cabe num Opala", ou algum dos
outro quatro filmes que o ator
carioca -"mas criado em São
Paulo"- de 44 anos estrelou
neste ano nas telas.
Mas o personagem, angustiado e sofredor, é real, e está apenas brincando, em tom levemente irônico, com a fotógrafa
que o faz posar, sob o sol, para a
reportagem da Folha. A luz
forte incomoda seus olhos.
Neste ano, foi difícil não topar com Medeiros. Além dos
seis filmes, esteve nos palcos
na peça "Não sobre o Amor",
com a Sutil Companhia de Teatro. E, agora, ele é descoberto
pelo grande público na novela
das oito "A Favorita", no papel
do "corno manso" Elias. Foi,
enfim, onipresente em 2008.
"Outro dia a Débora Bloch
me perguntou qual era meu
agente", diz o ator. "Espero que
tantos projetos sejam por causa do meu talento..."
Seja por talento ou profissionalismo, Medeiros tem uma
característica que fascina diretores. Basta prestar atenção em
alguns personagens. Em "Feliz
Natal", ele é Caio, sujeito com
passado misterioso. Monk, de
"Nossa Vida...", é um quarentão
fracassado e trambiqueiro. Por
que tantos homens complicados, estranhos?
Misterioso
"Os diretores tendem a me
ver como um cara misterioso,
profundo, taciturno. É uma característica minha que eles
adoram. Sou mesmo um cara
com tendências depressivas,
sou introspectivo. Acho que esses valores pessoais são agregados aos personagens."
Com a exposição vem a contrapartida. "O público não conhecia meu rosto, e isso era
bom para os diretores. Não era
alguém que vinha carregado de
significados. Agora isso mudou." Ainda assim, ele não se
deslumbra. "O cinema comercial nem sabe que existo. Mas
eu faria um filme comercial,
não tenho problema com isso."
Atuar, no entanto, não foi sua
primeira opção na vida.
"Nunca procurei as coisas, as
coisas é que vieram para mim",
resume. Medeiros pode soar
blasé, mas o despojamento revela como suas decisões são
guiadas pela praticidade. "Sempre quis ser artista. Desenhei,
pintei, fotografei. Chegou um
dia em que quis ser diretor de
cinema. Mas, para um jovem
como eu nos anos 80, isso era
algo distante, estratosférico."
No final, estudou teatro na
USP, fez peças amadoras na
Cultura Inglesa e foi se aperfeiçoar em Londres. "Achei que o
meu caminho fosse o teatro."
Inicialmente, Medeiros tentou ser diretor, mas logo desistiu porque "tinha muitos problemas com os atores". "Eles
não entendiam o que eu queria,
eu me sentia mais professor deles do que diretor." Foi graças
ao seu trabalho no teatro amador que os primeiros convites
para mudar de lado surgiram.
"Aí, sem querer eu virei ator e
nunca mais saí disso", diz. "E,
também, o dia em que eu sair,
tudo bem também."
Ele conta que hoje seu método é outro. "Agora sou mais intuitivo", conta. "Meu grande
barato é descobrir qual é minha
função dentro da obra. Quando
o diretor me dá abertura, fatalmente viro um colaborador."
É o caso, por exemplo, de
Luiz Fernando Carvalho, com
quem fez seu primeiro papel de
destaque nas telas em "Lavoura
Arcaica" (2001). "Sofri muito.
Eu não sabia como atuar no cinema. Ele me forjou."
Para 2009, Medeiros já tem
vários projetos engatilhados.
Além de atuar em "Budapeste",
adaptação de Walter Carvalho
para o livro homônimo de Chico Buarque, o ator está ao lado
de seu filho, Antonio, de 13
anos, em "Insolação", estréia
no cinema de Felipe Hirsch.
Com o diretor, aliás, vai comemorar os 15 anos da Sutil Companhia, com uma retrospectiva
que inclui "Não sobre o Amor"
e "Avenida Dropsie".
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