São Paulo, sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

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Um dos principais atores de sua geração, o premiado Leonardo Medeiros, 44, é destaque em 2008 e começa a ganhar o grande público, ao estrelar seis filmes, peça e novela das oito na Rede Globo

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Encostado na parede, em um fim de tarde em São Paulo, Leonardo Medeiros está cabisbaixo e chora. Diz ele para a mulher que o encara: "Vocês adoram me fazer sofrer".
Poderia ser cena de "Feliz Natal" ou "Nossa Vida Não Cabe num Opala", ou algum dos outro quatro filmes que o ator carioca -"mas criado em São Paulo"- de 44 anos estrelou neste ano nas telas.
Mas o personagem, angustiado e sofredor, é real, e está apenas brincando, em tom levemente irônico, com a fotógrafa que o faz posar, sob o sol, para a reportagem da Folha. A luz forte incomoda seus olhos.
Neste ano, foi difícil não topar com Medeiros. Além dos seis filmes, esteve nos palcos na peça "Não sobre o Amor", com a Sutil Companhia de Teatro. E, agora, ele é descoberto pelo grande público na novela das oito "A Favorita", no papel do "corno manso" Elias. Foi, enfim, onipresente em 2008.
"Outro dia a Débora Bloch me perguntou qual era meu agente", diz o ator. "Espero que tantos projetos sejam por causa do meu talento..."
Seja por talento ou profissionalismo, Medeiros tem uma característica que fascina diretores. Basta prestar atenção em alguns personagens. Em "Feliz Natal", ele é Caio, sujeito com passado misterioso. Monk, de "Nossa Vida...", é um quarentão fracassado e trambiqueiro. Por que tantos homens complicados, estranhos?

Misterioso
"Os diretores tendem a me ver como um cara misterioso, profundo, taciturno. É uma característica minha que eles adoram. Sou mesmo um cara com tendências depressivas, sou introspectivo. Acho que esses valores pessoais são agregados aos personagens."
Com a exposição vem a contrapartida. "O público não conhecia meu rosto, e isso era bom para os diretores. Não era alguém que vinha carregado de significados. Agora isso mudou." Ainda assim, ele não se deslumbra. "O cinema comercial nem sabe que existo. Mas eu faria um filme comercial, não tenho problema com isso."
Atuar, no entanto, não foi sua primeira opção na vida.
"Nunca procurei as coisas, as coisas é que vieram para mim", resume. Medeiros pode soar blasé, mas o despojamento revela como suas decisões são guiadas pela praticidade. "Sempre quis ser artista. Desenhei, pintei, fotografei. Chegou um dia em que quis ser diretor de cinema. Mas, para um jovem como eu nos anos 80, isso era algo distante, estratosférico."
No final, estudou teatro na USP, fez peças amadoras na Cultura Inglesa e foi se aperfeiçoar em Londres. "Achei que o meu caminho fosse o teatro."
Inicialmente, Medeiros tentou ser diretor, mas logo desistiu porque "tinha muitos problemas com os atores". "Eles não entendiam o que eu queria, eu me sentia mais professor deles do que diretor." Foi graças ao seu trabalho no teatro amador que os primeiros convites para mudar de lado surgiram. "Aí, sem querer eu virei ator e nunca mais saí disso", diz. "E, também, o dia em que eu sair, tudo bem também."
Ele conta que hoje seu método é outro. "Agora sou mais intuitivo", conta. "Meu grande barato é descobrir qual é minha função dentro da obra. Quando o diretor me dá abertura, fatalmente viro um colaborador."
É o caso, por exemplo, de Luiz Fernando Carvalho, com quem fez seu primeiro papel de destaque nas telas em "Lavoura Arcaica" (2001). "Sofri muito. Eu não sabia como atuar no cinema. Ele me forjou."
Para 2009, Medeiros já tem vários projetos engatilhados.
Além de atuar em "Budapeste", adaptação de Walter Carvalho para o livro homônimo de Chico Buarque, o ator está ao lado de seu filho, Antonio, de 13 anos, em "Insolação", estréia no cinema de Felipe Hirsch.
Com o diretor, aliás, vai comemorar os 15 anos da Sutil Companhia, com uma retrospectiva que inclui "Não sobre o Amor" e "Avenida Dropsie".


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