São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

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"Vontade construtiva" norteia mostra

Coletiva no MAM explica obra de contemporâneos como Beatriz Milhazes e Ernesto Neto à luz do concretismo

Curadoria usa texto de Oiticica para reavaliar noções de progresso e vanguarda no país dos anos 50 até a atualidade

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

No primeiro item de seu manifesto "Esquema Geral da Nova Objetividade", texto de 1967, Hélio Oiticica já apontava como denominador comum da arte surgida no país o que chamou de "vontade construtiva geral".
"No Brasil os movimentos inovadores apresentam esta característica única", escreveu. "Dela nasceram nossa arquitetura e os movimentos concreto e neoconcreto."
Esse é o ponto de partida histórico e conceitual para "Ordem e Progresso", coletiva que o Museu de Arte Moderna abre hoje com a premissa de reenquadrar a produção contemporânea do país à luz dos experimentos concretistas dos anos 50.
No lugar da historiografia tradicional, que vê no neoconcretismo, encaixando aí a obra de Oiticica, um processo de dissolução do rigor geométrico que levou à potência da arte engajada e mais tarde à produção contemporânea, a curadoria de Felipe Chaimovich propõe um corte.
Tenta erguer uma ponte direta do concretismo de Ivan Serpa, Hércules Barsotti e Geraldo de Barros às reflexões sobre brasilidade de Beatriz Milhazes, Ernesto Neto, Iran do Espírito Santo e outros contemporâneos, passando pela produção politizada de Regina Silveira e León Ferrari nos anos 70.
No meio do caminho, Brasília aparece na exposição como a síntese dessa ideia.
Primeiro, em toda sua pretensão ortogonal nas fotografias de Thomaz Farkas. Depois, fetichizada como ícone de modernidade em pôsteres de Almir Mavignier e, por último, na exaltação popular da posse de Lula nos registros de Mauro Restiffe.
"É Brasília já virando parte da história, primeiro como projeto e depois como vivência", diz Chaimovich, curador do MAM. "É a cidade vista como propaganda, como transfiguração do projeto." Esse contraste entre a secura utópica do projeto e a realidade suja das ruas, com toda a força dos fracassos urbanísticos, acaba se estendendo ao resto da mostra como espécie de fio condutor.

PROJETO E REALIDADE
Rivane Neuenschwander constrói um canto de sala branco, composto de chapas imaculadas que depois foram acumulando a sujeira dos anos, pó e qualquer outro resquício do tempo que ficou na superfície grudenta.
Parece ser um contraponto ácido ao "Metaesquema" de Oiticica que está na mostra, um primeiro e um tanto ingênuo passo do artista na dissolução do quadro que propôs.
Mais adiante, essa acidez aumenta sem perder o rigor.
Maurício Dias e Walter Riedweg montam um padrão de balanças verdes e amarelas no chão, quadriculado que serve para pesar o país.
Estão de frente para um quadro de Beatriz Milhazes, colorido à exaustão, que não esconde sua adesão tardia ao geometrismo, embora esse seja um concreto de improviso, antimaquinal e até tosco.
Em preto e branco, Iran do Espírito Santo faz uma bandeira do país sem as divisões de cor ou nada que lembre a estampa oficial, deixando só uma faixa de estrelas perdidas num cenário sombrio.

ORDEM E PROGRESSO

QUANDO abertura amanhã, às 20h; ter. a dom., 10h às 17h30
ONDE MAM (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5085-1300)
QUANTO grátis


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