São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2005

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O show deve continuar

Reuters
Os atores Gwen Stefani e Leonardo DiCaprio em cena de "O Aviador", dirigido por Martin Scorsese, filme com mais indicações ao Oscar (11 no total)


Com o mesmo formato desde 1953, Oscar muda para conseguir maior audiência

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A WEST HOLLYWOOD

OK, os 5.808 votantes da Academia de Ciências Cinematográficas de Hollywood certamente ligam. Assim como os cinco diretores, os 19 atores (Jamie Foxx valendo por dois) e dezenas de produtores dos filmes indicados. Mas, de verdade, quem ainda liga para a cerimônia de transmissão do Oscar? Não a audiência, se a mostra são os índices dos últimos anos.
Desde que "Titanic" mudou a história das bilheterias, se tornando o filme mais visto do mundo, o Oscar não consegue alcançar os 55 milhões de telespectadores norte-americanos daquela noite de março de 1998, mesmo com o crescimento populacional e o aumento do número de residências com TVs nos EUA ocorrido nestes oito anos. Em 2003, por exemplo, 33 milhões se dispuseram a enfrentar a maratona televisiva.
Seus primos também não andam bem das pernas. O Grammy, exibido há duas semanas, teve 28% menos audiência do que no ano anterior e a mais baixa desde 1995; o último Emmy teve a pior audiência desde que foi inventado; e mesmo o Globo de Ouro atingiu o menor número de telespectadores desde que a cerimônia voltou a ser exibida pela TV, em 1996 (10 milhões de pessoas).
"Fico pensando se a culpa não é o excesso de prêmios e de cerimônias", pergunta a analista de mercado televisivo Shari Anne Brill. Com ela concorda Bob Bain, produtor das entregas do Billboard e do Teen Choice Awards. "Não acho que seja mais suficiente apenas entregar prêmios. Estas cerimônias têm de ser para este século o que os shows de variedade foram para passado." Ele tem razão.
O formato do Oscar é o mesmo basicamente desde 1953, quando a cerimônia passou a ser televisionada: homens de smoking, mulheres de longo, tapete vermelho, orquestra ao vivo introduzindo os temas, piadinhas sem espontaneidade e discursos longos e cheios de referência a nomes que não querem dizer nada ao público.
Entra em cena Chris Rock, que por anos foi o mestre de cerimônias dos prêmios da MTV. Pela primeira vez, o comediante negro conhecido pela velocidade com que fala e pela quantidade de palavrões que insere numa mesma frase comandará o espetáculo. Além disso, Gil Cates, 70, o produtor-executivo do programa, promete que haverá surpresas.
Por outro lado, os tais 5.000 votantes que escolheram os candidatos e definirão os vencedores não ajudam. Só fazem reforçar a acusação de que Hollywood está divorciada da realidade dos norte-americanos, acusação que vêm fazendo a ultradireita religiosa e a chamada "América Profunda" que ajudaram George W. Bush a ganhar seu segundo mandato.
Com a exceção de "Colateral", nenhum dos 20 filmes mais vistos pelo público concorrem nas categorias nobres. Pela primeira vez em 15 anos, nenhum dos cinco títulos que disputam melhor filme passaram dos US$ 100 milhões em bilheteria. Mesmo se o critério não for bilheteria, mas importância histórica, os dois principais filmes de 2004 ficaram de fora: "A Paixão de Cristo", de Mel Gibson (que concorre em três categorias técnicas), e "Fahrenheit -11 de Setembro", de Michael Moore.
Por que, então, a insistência num programa que dura cerca de três horas e cada vez menos gente vê? Porque 30 segundos nos intervalos da cerimônia valem US$ 1,6 milhão à emissora que a exibe.

Os "brasileiros"
De resto, há dois "brasileiros" por tabela concorrendo: o uruguaio Jorge Drexler, que foi proibido de cantar sua "Al Otro Lado del Río" e deve ver da platéia Antonio Banderas e Carlos Santana defendendo-a, e o porto-riquenho José Rivera, pela adaptação do roteiro de "Diários de Motocicletas". As chances são mínimas.
"Accidentally in Love", dos Counting Crows, para "Shrek 2", é o favorito da primeira categoria. E a segunda deve premiar o texto de "Sideways - Entre Umas e Outras" -aliás, roteiro adaptado tem tudo para ser "o" prêmio importante deste filme. Pelo menos é o que indicou a premiação do sindicato dos roteiristas, composto pelas mesmas pessoas que votaram nessa categoria para o Oscar.


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