|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Masp vai do modernismo à arte contemporânea
A partir de hoje, museu expõe 135 obras de 74 artistas da coleção do banco Itaú
Mostra reúne trabalhos de nomes como Portinari, Malfatti, Volpi, Geraldo de Barros, Rego Monteiro,
Tarsila e Flavio de Carvalho
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Seria preciso encavalar os espaços para contar esta história.
Na porta do primeiro andar do
Masp (Museu de Arte de São
Paulo), o curador Teixeira Coelho conclui que é difícil dispor
as obras da exposição que inaugura hoje sem criar uma falsa
cronologia e, ao mesmo tempo,
tentar ser fiel ao conceito de
modernidade que quis ilustrar.
Reunindo 135 obras de 74 artistas brasileiros, a mostra
abarca um período que vai de
1911 a 1980, ou seja, do início do
modernismo à era contemporânea. "Vi que, enquanto havia
artistas que queriam ser modernos, como Portinari e Segall, outros queriam ficar de fora dessa modernidade", diz
Coelho, que escolheu os trabalhos entre os 3.500 da coleção
particular do banco Itaú.
Obras antes expostas na sede
do banco, na zona sul de São
Paulo, agora ganham o espaço
do Masp, na primeira grande
exposição de artistas brasileiros após o furto de duas telas do
museu, um Picasso e um Portinari, em dezembro de 2007.
Divididas em cinco grupos, as
obras da exposição que será
aberta hoje mostram como Lasar Segall, Flavio de Carvalho,
Candido Portinari, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Maria Martins, Alfredo Volpi e Geraldo de Barros, entre
outros, aderiram ou não aos cânones do modernismo.
Percurso comportado
Longe da polêmica causada
pelo projeto da cenógrafa Bia
Lessa, que pôs algumas obras
no chão do Itaú Cultural no ano
passado, quando o banco expôs
destaques de sua coleção de arte contemporânea, a museografia de Daniela Thomas é
mais comportada e tenta juntar, com portas e janelas, idéias
simultâneas de modernidade.
A grande tela "Transporte do
Café" (1960), de Portinari, recebe o público da mostra. Os retratos "A Pequena Aldeã"
(1911), de Lasar Segall, e "Retrato de Renato Magalhães Gouvêa" (1964), de Flavio de Carvalho, seguem, neste primeiro
momento, a preocupação exacerbada com a forma que marcou o modernismo brasileiro.
Um retorno à simplicidade,
retratos imediatistas da paisagem do país em mutação, marca o segundo momento da exposição. "Marinha" (1953), de
José Pancetti, é uma vista quase fotográfica do mar. Ao lado,
uma foto de Pierre Verger, que
retratou o pintor na praia, dá a
dimensão desse realismo.
Abandonando o modernismo de toada clássica, que desbancou a perspectiva e deu novo peso à tinta sobre a tela, Anita Malfatti retrata, nos anos 50,
um vaso de flores simplório,
quadro raro da exposição. "Ela
entrou para a modernidade, levou uma cassetada e se retirou", opina o curador.
No terceiro momento, sai a
forma e entra o conteúdo. Gravuras de artistas gaúchos, como
Glênio Bianchetti, preocupados com o trabalhador na era
do Estado Novo, e grandes telas
de Carybé e de Clóvis Graciano,
estas com temas como a colheita do café e do algodão, dão o
tom de uma arte engajada, que
dispensava os arroubos formais
do primeiro modernismo.
A escultura "O Impossível",
de Maria Martins, peça-chave
da artista que foi amante de
Marcel Duchamp e parece ter
herdado dele um matiz subversivo, introduz o quarto grupo
de obras, que fogem das linhas
gerais de um movimento para
mergulhar no mundo individual de cada artista.
As obras abstratas -que dialogam com o modernismo, mas
vão além dele- estão organizadas em três grupos: o abstracionismo figurativo, exemplificado por telas de Aldo Bonadei;
experimentos geométricos,
com destaque para as colagens
fotográficas de Geraldo de Barros; e o informalismo de Wega
Nery e Maria Bonomi.
A mostra reúne ainda artistas que fizeram uma ponte com
o contemporâneo. Cildo Meireles é um dos destaques, ao lado
de Hélio Oiticica e Lygia Pape.
Texto Anterior: Cineasta austríaco faz da Amazônia cenário-fetiche Próximo Texto: Últimos dias de espanhóis no subsolo Índice
|