São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

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Masp vai do modernismo à arte contemporânea

A partir de hoje, museu expõe 135 obras de 74 artistas da coleção do banco Itaú

Mostra reúne trabalhos de nomes como Portinari, Malfatti, Volpi, Geraldo de Barros, Rego Monteiro, Tarsila e Flavio de Carvalho

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Seria preciso encavalar os espaços para contar esta história. Na porta do primeiro andar do Masp (Museu de Arte de São Paulo), o curador Teixeira Coelho conclui que é difícil dispor as obras da exposição que inaugura hoje sem criar uma falsa cronologia e, ao mesmo tempo, tentar ser fiel ao conceito de modernidade que quis ilustrar.
Reunindo 135 obras de 74 artistas brasileiros, a mostra abarca um período que vai de 1911 a 1980, ou seja, do início do modernismo à era contemporânea. "Vi que, enquanto havia artistas que queriam ser modernos, como Portinari e Segall, outros queriam ficar de fora dessa modernidade", diz Coelho, que escolheu os trabalhos entre os 3.500 da coleção particular do banco Itaú.
Obras antes expostas na sede do banco, na zona sul de São Paulo, agora ganham o espaço do Masp, na primeira grande exposição de artistas brasileiros após o furto de duas telas do museu, um Picasso e um Portinari, em dezembro de 2007.
Divididas em cinco grupos, as obras da exposição que será aberta hoje mostram como Lasar Segall, Flavio de Carvalho, Candido Portinari, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Maria Martins, Alfredo Volpi e Geraldo de Barros, entre outros, aderiram ou não aos cânones do modernismo.

Percurso comportado
Longe da polêmica causada pelo projeto da cenógrafa Bia Lessa, que pôs algumas obras no chão do Itaú Cultural no ano passado, quando o banco expôs destaques de sua coleção de arte contemporânea, a museografia de Daniela Thomas é mais comportada e tenta juntar, com portas e janelas, idéias simultâneas de modernidade.
A grande tela "Transporte do Café" (1960), de Portinari, recebe o público da mostra. Os retratos "A Pequena Aldeã" (1911), de Lasar Segall, e "Retrato de Renato Magalhães Gouvêa" (1964), de Flavio de Carvalho, seguem, neste primeiro momento, a preocupação exacerbada com a forma que marcou o modernismo brasileiro.
Um retorno à simplicidade, retratos imediatistas da paisagem do país em mutação, marca o segundo momento da exposição. "Marinha" (1953), de José Pancetti, é uma vista quase fotográfica do mar. Ao lado, uma foto de Pierre Verger, que retratou o pintor na praia, dá a dimensão desse realismo.
Abandonando o modernismo de toada clássica, que desbancou a perspectiva e deu novo peso à tinta sobre a tela, Anita Malfatti retrata, nos anos 50, um vaso de flores simplório, quadro raro da exposição. "Ela entrou para a modernidade, levou uma cassetada e se retirou", opina o curador.
No terceiro momento, sai a forma e entra o conteúdo. Gravuras de artistas gaúchos, como Glênio Bianchetti, preocupados com o trabalhador na era do Estado Novo, e grandes telas de Carybé e de Clóvis Graciano, estas com temas como a colheita do café e do algodão, dão o tom de uma arte engajada, que dispensava os arroubos formais do primeiro modernismo.
A escultura "O Impossível", de Maria Martins, peça-chave da artista que foi amante de Marcel Duchamp e parece ter herdado dele um matiz subversivo, introduz o quarto grupo de obras, que fogem das linhas gerais de um movimento para mergulhar no mundo individual de cada artista.
As obras abstratas -que dialogam com o modernismo, mas vão além dele- estão organizadas em três grupos: o abstracionismo figurativo, exemplificado por telas de Aldo Bonadei; experimentos geométricos, com destaque para as colagens fotográficas de Geraldo de Barros; e o informalismo de Wega Nery e Maria Bonomi.
A mostra reúne ainda artistas que fizeram uma ponte com o contemporâneo. Cildo Meireles é um dos destaques, ao lado de Hélio Oiticica e Lygia Pape.


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