São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2011

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Uma idéia na cabeça

Oscar definirá melhor filme, hoje, entre histórias que tratam de obsessões e superação

Gabriel Bouys/France Fotos Divulgação Presse
O ator James Franco na chegada à cerimônia dos indicados ao Oscar de 6788, em Los Angeles

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Seja qual for o vencedor, é difícil que o Oscar deste ano deixe de ser o Oscar dos obstinados. Se não são todos, quase todos os protagonistas dos candidatos a melhor filme se pautam por enfrentar enormes adversidades com o peito aberto.
Ou com o braço aberto, como o Aron Ralston de "127 Horas", que precisa se amputar para ter uma chance de sobreviver.
Pode-se alegar que Aron não tinha outra saída: munido apenas de uma câmera de vídeo, tinha de, literalmente, cortar na carne.
Mas que dizer de Mattie Ross, de "Bravura Indômita"? A adolescente que teve o pai assassinado no Oeste selvagem não teria a menor obrigação de vingá-lo.
Mas toma a tarefa a si: não só contrata o xerife mais malvado à disposição, Rooster Cogburn, para caçar o assassino como decide segui-lo na aventura.
Ótima negociante, ela não pretende, em definitivo, delegar funções ou confiar em seus contratados. Aliás, não sem razão: com ela longe, Rooster seria bem capaz de enterrar todo o pagamento em aguardente.
Não é tão diferente a situação de Ree em "Inverno na Alma": sua tarefa é, ao mesmo tempo, buscar o cadáver do pai e evitar que seus irmãos pequenos sejam vítimas tanto das atividades paternas (drogas), como do meio social próximo.
Se Ree não é implacável como Mattie, é tão determinada quanto. E nem ao menos conta com o refresco do humor que acompanha todo bom faroeste.
E, por falar em Velho Oeste, mesmo Andy, o líder dos brinquedos de "Toy Story 3", terá de mostrar enorme disposição para a luta de sua turma diante da perspectiva de serem relegados a uma espécie de asilo de bonecos.
De outra natureza são as aflições de Micky Ward em "O Vencedor". Esse talentoso lutador de boxe tem contra si a família amorosamente sufocante.
Existem ainda as dores que consomem a bailarina Nina, ou Natalie Portman, em "Cisne Negro", e que começam por uma mãe nada amorosa: é invejosa, mesmo.
E passam pelo fato de lhe faltar a vivência necessária para interpretar o papel principal em "O Lago dos Cisnes". Se quiser o papel, Nina terá de buscar conhecer a si mesma, seu lado negro.
Todo ano a Academia usa os candidatos ao Oscar para enviar uma espécie de recado da indústria. Este ano, de maneira quase monótona, situações de dor e desafios tremendos são propostos.
Ainda que de forma transversa, o cinema aborda assim a longa crise.
Nenhum desses filmes interpelará os especuladores. Longe disso: o conjunto sugere que com luta e habilidade se vencem as dificuldades. Pode soar meio voluntarista, mas encerra também a crença de que a crise enfim pode estar começando a entregar os pontos.


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