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POLÍTICA CULTURAL
Para vice-presidente da Volkswagen, fundo para projetos viáveis é uma "barbaridade"
"Banco não tem interesse em cultura"
da Reportagem Local
Miguel Jorge, vice-presidente de
assuntos corporativos da Volkswagen, terceiro maior investidor
em cultura pela Lei Rouanet em
99 (R$ 6,9 milhões), acha uma
"barbaridade" a idéia do governo
federal de criar um fundo só para
projetos rentáveis.
"Nós não entraremos nisso.
Nosso negócio não é ganhar dinheiro com filme, mas fabricando
e vendendo automóveis", afirma.
A Volkswagen patrocina projetos de diferentes áreas, como livros, peças e filmes. Neste ano, vai
investir R$ 407 mil na Orquestra e
Coral Jovem Baccarelli, formada
por crianças e adolescentes da favela de Heliópolis, a maior de São
Paulo, na zona sudeste.
A empresa já apostou em filmes
como "Chatô" e "Orfeu". Em 98,
aparecia em terceiro lugar das que
mais investem pela Lei do Audiovisual. Em 99, sumiu da lista das
30 maiores incentivadoras da lei.
"Nunca aceitaremos que um
banco decida o que é bom ou não
para a cultura. O banco não tem
interesse em investir em cultura,
mas em projeto que dê lucro", diz.
Consultor de empresas que investem em cultura, como o Grupo
Pão de Açúcar (R$ 15,8 milhões
neste ano), Sérgio Ajzenberg acha
"inútil" a criação do fundo para
projetos rentáveis.
"Muitas empresas investem em
cultura como marketing cultural,
não esperam retorno financeiro.
Elas investem porque isso é importante para a sua marca."
Ajzenberg não acredita que o
fundo irá moralizar a aplicação
dos recursos. "No caso do cinema, a CVM (Comissão de Valores
Mobiliários) já fiscaliza. Quando
uma empresa dá dinheiro para
um projeto cultural e se beneficia
do incentivo fiscal, ela espera que
você gerencie esses recursos de
forma séria, honesta e transparente", analisa.
O consultor lembra que a Lei
Rouanet já prevê a criação de fundo de investimento para cultura,
o Ficart (Fundo de Investimento
Cultural e Artístico), e que isso
nunca foi posto em prática. "Se cinema fosse coisa rentável, os bancos já teriam criado fundos."
Considerado o maior produtor
cinematográfico brasileiro, o influente Luiz Carlos Barreto se diz
um dos pais do projeto dos fundos, mas só para o audiovisual.
"Essa idéia é uma reivindicação
da classe há dois anos. Isso já deveria ter sido criado por decreto,
mas agora está sendo incluído no
projeto de reforma da Lei do Audiovisual. O audiovisual é diferente das outras áreas, não pode ser
misturado", afirma.
Segundo Barreto, o fundo vai
ampliar os recursos para o cinema -se for mantida a captação
direta em empresas, como é feita
hoje- e selecionar os melhores
projetos e profissionais.
O problema, no entanto, é que
cinema é um investimento de alto
risco e não existe uma indústria
cinematográfica nacional, fundamental para viabilizar o fundo.
"Muitos filmes lançados por
grandes companhias não dão retorno. É uma atividade de alto risco e só viável nos EUA."
Barreto sugere a criação de uma
agência para o cinema e uma política pública de financiamento não
só da produção, mas também da
comercialização, distribuição e
exibição. A maior parte dos filmes
nacionais é lançada com menos
de cinco cópias e fica pouco tempo em cartaz.
"Faltam investimentos para a
criação de empresas de audiovisual", diz, citando o exemplo de
um consórcio de distribuição
"nacional e forte".
"Se não houver uma política
agressiva na criação de consórcios
de distribuição, o fundo não vai
ser viável", concorda o cineasta
PauloThiago, de "Policarpo Quaresma". "Vira eufemismo substituir empresa por fundo."
(DC)
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