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TELEVISÃO
Tiazinha não mostra a manchete
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Essa Bandeirantes é um susto.
Liga-se para ver a Tiazinha no
que prometem ser suas novas
aventuras e quem aparece é o
Fernando Vanucci vestido de
paulista. Nada de "alô você" nem
do colorido de suas camisas Polo.
Um paletó e uma gravata de nó
grosso. Isso enquanto o Luciano
do Vale não vem. Pobre Fernandinho e pobre Tiazinha. Sem
máscara, chicote, Luciano Huck e
as carnes da revista "Playboy",
Tiazinha está irreconhecível.
Com a nudez coberta por um
lençol e uma almofada vermelha
no abraço, Tiazinha chama
"Amor, meu amor, quer que eu
tome banho com você?". Ela não é
muito esperta. Custa a descobrir
que está sozinha. Para isso ela
tem que reviver uma anedota
muito cansada.
Tiazinha desce até a recepção
do hotel: "Como foi a primeira
noite de núpcias?". Ela responde:
"Foi boa, mas quando acordei,
encontrei um bilhete do Rodrigo
dizendo que ia comprar cigarros.
Só que o Rodrigo não fuma". A
recepcionista só quer saber quem
vai pagar a conta do hotel. Não é
romântica nem trouxa como sua
hóspede de identidade que começa a se definir.
Para dar prosseguimento a
uma sugestão de nudez nunca
vista, Tiazinha vai tomar banho.
Depois liga a Band e vê a recepcionista do hotel ainda mais
agressiva porque está usando espanhol em sua falação. Em seus
momentos de grande tensão, os
personagens da história ganham
contornos de desenho. Uma boa
idéia. Tudo fica bem mais tolerante com um desenho animado.
Num esforço, Tiazinha pensa.
Seus pensamentos não têm vida.
São mostrados, portanto, em preto-e-branco. Mas Rodrigo fugiu
com seu dinheiro e cartões de crédito. Como está em outro canal,
Tiazinha nem pode pedir socorro
ao Huck milionário. Tiazinha, é
evidente, conheceu melhores programas.
Para piorar tudo, sua casa tem
novos e hostis. "Volta aqui, sua
ladra", grita a mulher do hotel,
enquanto tudo vira desenho outra vez para ser pesadelo.
No dia seguinte, lá está o Vanucci outra vez. Com aquela gravata que tentou, mas não conseguiu imitar o nó do Pedro Malan,
ele, além de paulista, só pode estar são-paulino. E a Tiazinha? Na
pior; ela lembra que já tomou banho de leite de ovelha e agora não
tem uma gota de nada. Por isso
achou melhor entrar num sambinha do Noel Rosa e ter como cama uma folha de jornal. O problema é que a Tiazinha, por mais
que se mexa, não mostra nunca a
manchete.
Como não está fazendo frio, ela
nem pode ser tradicional e vender
alguns fósforos. Isso deu a alguém
a idéia de transformar tudo em
conto de fadas. Num estalo de dedos, surge uma garrafa de champanhe. Animada, Tiazinha vai
pedir emprego num salão de beleza. Lá, ela redescobre seu famoso
dom de depiladora. É só o Leonel
Brizola acabar de se repetir, para
a gente poder dizer adeus para
sempre, Tiazinha.
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