São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 2000


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"BIG BROTHER"

Programa alemão dará o equivalente a R$ 250 mil a quem mostrar sua rotina por cem dias no ar

Voyeurismo gera "game show" na TV

Ana Ottoni/Folha Imagem
Manuela, participante do "Big Brother", em cena do programa


RODRIGO LEITE
especial para a Folha, de Berlim

São 8h e os alto-falantes dos dormitórios começam a tocar uma versão em alemão do samba "Canta, Canta, Minha Gente", de Martinho da Vila. Desde o dia 1º de março, é assim que um grupo de alemães acorda todos os dias em rede nacional, com audiência mínima de 1,5 milhão de pessoas.
Eles participam de "Big Brother", programa que dará o equivalente a R$ 250 mil para quem resistir a cem dias de isolamento em um contêiner nos arredores de Colônia, oeste da Alemanha.
Todos os movimentos dos dez participantes são vigiados por 28 câmeras e 59 microfones.
Os participantes, com idades entre 23 e 37 anos, são identificados apenas por seus prenomes.
A emissora RTL2, que exibe o "Big Brother", promete emoções "da vida real" por causa das tensões que supostamente devem surgir entre os participantes nesse período.
O isolamento é total. Televisão, jornais, cartas e rádio são terminantemente proibidos.
O grupo precisa sobreviver em uma área de 153 metros quadrados e em um pequeno quintal anexo, assar seu próprio pão, colher legumes e cuidar das galinhas que fornecerão os ovos.
Há uma pequena mesada para ser trocada por outro produtos. Cada um tem direito a um minuto e meio de chuveiro por dia.
A cada duas semanas, uma pessoa é expulsa do grupo. Essa pessoa é escolhida como no programa "Você Decide", segundo a escolha da audiência, que se manifesta por telefone.
No site do programa (www.bigbrother-haus.de) pode-se ver em alguns gráficos como anda a popularidade de cada personagem.

Censura
As condições de vida dentro do contêiner são tão difíceis que levaram o Instituto Estadual de Mídia de Hessen (centro do país) a pedir a proibição de "Big Brother".
O grupo não-governamental diz que o programa fere a dignidade das pessoas e pode causar danos psicológicos.
"É uma experiência com seres humanos", diz Wolfgang Thaenert, presidente do instituto.
"É mera diversão", rebate Con-rad Heberling, porta-voz do canal, que submeteu os candidatos a testes psicológicos e comportamentais antes de trancá-los no contêiner.
Apesar do boicote sugerido pela igreja aos anunciantes, a RTL2 espera faturar R$ 47 milhões em publicidade. O valor representa um lucro de mais de R$ 15 milhões.
A censura total ao programa é improvável. Meios de comunicação temem que ela sirva de pretexto para outras restrições à liberdade de expressão.
Em 15 anos de TV privada na Alemanha, nunca um programa foi proibido. Mas a pressão dos grupos de observação da mídia já interferiu em "Big Brother".
Desde a semana passada, cada participante pode ficar uma hora por dia sozinho, sem a vigilância das câmeras e microfones.
Desde o começo, a emissora já havia se comprometido a não mostrar ninguém no banheiro.


Audiência
"Big Brother", exibido diariamente às 20h15, começou com 3,3 milhões de espectadores, no dia 1º de março.
Tinha uma audiência de 30% na faixa de público com até 29 anos, o alvo principal do programa.
Cinco dias depois, um terço deles já havia desistido. A principal razão não é a indignação, mas o marasmo.
A edição explora os momentos em que as mulheres se despem para entrar no banho, mas no resto do tempo predominam longos papos-furados e tarefas cotidianas.
Os participantes têm se entendido razoavelmente bem e passam as noites jogando xadrez ou dados.
Por isso, quando a ONG de Hessen pediu a proibição do programa, o irreverente diário "Tageszeitung", de Berlim, anunciou: "Finalmente, um pouco de emoção em Big Brother".


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