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OSCAR 2001
Festa em Los Angeles é para pessoas comuns
JOSÉ ROBERTO TORERO
EM LOS ANGELES
Caro leitor , caso você algum dia vá parar na festa do
Oscar, deixo-lhe aqui algumas
impressões que podem ser úteis.
Digo-lhe, que você começa a sentir o clima da festa quando coloca
o seu smoking (o meu foi alugado
por R$ 165! e nem era um dos
mais caros). Aí, depois de conter o
riso ao se olhar no espelho, você
vai para o Shrine Civic Auditorium e será uma das 5.800 pessoas
que assistirão ao Oscar ao vivo.
Chegando ali você vai encontrar
um congestionamento diferente,
de limusines. São centenas. Algumas brancas, a maioria negra, todas muito compridas e caras (para o dia do Oscar, elas custam US$
100 por hora e são alugadas por
nove horas). Durante esse congestionamento, você vai ver alguns fãs malucos. Havia, por
exemplo, uma Marilyn, um Super-Homem e, é claro, um Jesus
Cristo, que benzia todos os carros.
Então desce-se da limusine e os
porteiros já começam a pedir seu
bilhete. É o papel mais caro que já
me caiu nas mãos. No câmbio negro, um ingresso atinge o preço de
US$ 12 mil, o que me deixou tentado a ver a festa pela TV.
Depois de mostrar seu bilhete,
você vai pisar no glorioso tapete
vermelho. Mas a frequência do
"red carpet", como dizem os americanos, não é tão nobre assim. Ele
é pisado por pés bem comuns. Os
famosos são poucos. Não há nada
mais equivocado do que pensar
que o Oscar é uma festa na qual só
vão beldades e celebridades. Tanto que eu estava lá.
A maioria das pessoas que vai à
festa do Oscar é uma gente comum, provavelmente parentes ou
profissionais secundários nas empresas cinematográficas. Se você
der uma olhada em volta enquanto está entrando no Shrine, terá a
impressão de que está entrando
num baile de debutantes. Com a
desvantagem de que há mais
mães do que filhas.
As roupas também não são lá
grande coisa. Só umas poucas exceções usam Chanel, Prada, Gucci
e Valentino. A maioria parecia
usar uma roupa feita pela costureira do bairro. Mas, para não dizer que não falei das flores, digo
que as bebidas são de primeira,
em especial os vinhos. Porém os
salgadinhos, que foram feitos por
um tal de Wolfang Puck, uma
mistura local de Laurent com Ofelia, deixam muito a desejar.
Depois de passar pelo "red carpet", você vai sentar no seu lugar.
O meu era bem longe do palco.
Provavelmente um espaço reservado para concunhados dos
genros das sogras da tia-avó dos
assistentes de produção. Fiquei
no terceiro e último andar, de modo que, para ver Steve Martin, eu
tinha de apertar bem os olhos e ter
um pouco de imaginação. Para
quem quisesse, havia uns binóculos à venda por US$ 10. Mas preferi olhar para um dos dois telões
que ficavam dos lados do palco.
Mesmo lá, vendo o Oscar ao vivo,
o melhor era assistir pela TV.
Logo que começa a premiação,
já podem ser vistos os primeiros
derrotados indo ao bar. Mas agora as bebidas eram pagas. E bem
pagas. Um refrigerante custava
US$ 3. Num baile de debutante,
pelo menos, a bebida é grátis.
Essas coisas podem fazer você
pensar que não há vantagem em
ver o Oscar de perto. Talvez seja
verdade, mas há uma diferença
importante. Quando se vê ao vivo
os atores e apresentadores, os premiados e os perdedores, a equipe
de filmagem e o público, se vê que
o show é menos perfeito do que se
pensa. Ao vivo ele perde muito de
sua aura, de seu glamour, e se torna uma festa em que não há só
beldades, mas também, e principalmente, gente normal, com ares
de tia, de primo, de vizinho.
Depois da premiação, há uma
grande aglomeração, pois todos
querem pegar suas limusines. A
saída do teatro fica parecendo o
metrô da Sé, com a diferença de
que todos estão bem vestidos.
Mas o chato mesmo é que o filme no qual trabalhei perdeu. E
nestes momentos há que ser maduro e adulto. Por isso, amanhã,
vou à Disneylândia.
José Roberto Torero é colunista da
Folha e roteirista do curta "Uma História
de Futebol"
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