São Paulo, terça-feira, 27 de março de 2001

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OSCAR 2001

Festa em Los Angeles é para pessoas comuns

JOSÉ ROBERTO TORERO
EM LOS ANGELES

Caro leitor , caso você algum dia vá parar na festa do Oscar, deixo-lhe aqui algumas impressões que podem ser úteis. Digo-lhe, que você começa a sentir o clima da festa quando coloca o seu smoking (o meu foi alugado por R$ 165! e nem era um dos mais caros). Aí, depois de conter o riso ao se olhar no espelho, você vai para o Shrine Civic Auditorium e será uma das 5.800 pessoas que assistirão ao Oscar ao vivo.
Chegando ali você vai encontrar um congestionamento diferente, de limusines. São centenas. Algumas brancas, a maioria negra, todas muito compridas e caras (para o dia do Oscar, elas custam US$ 100 por hora e são alugadas por nove horas). Durante esse congestionamento, você vai ver alguns fãs malucos. Havia, por exemplo, uma Marilyn, um Super-Homem e, é claro, um Jesus Cristo, que benzia todos os carros.
Então desce-se da limusine e os porteiros já começam a pedir seu bilhete. É o papel mais caro que já me caiu nas mãos. No câmbio negro, um ingresso atinge o preço de US$ 12 mil, o que me deixou tentado a ver a festa pela TV.
Depois de mostrar seu bilhete, você vai pisar no glorioso tapete vermelho. Mas a frequência do "red carpet", como dizem os americanos, não é tão nobre assim. Ele é pisado por pés bem comuns. Os famosos são poucos. Não há nada mais equivocado do que pensar que o Oscar é uma festa na qual só vão beldades e celebridades. Tanto que eu estava lá.
A maioria das pessoas que vai à festa do Oscar é uma gente comum, provavelmente parentes ou profissionais secundários nas empresas cinematográficas. Se você der uma olhada em volta enquanto está entrando no Shrine, terá a impressão de que está entrando num baile de debutantes. Com a desvantagem de que há mais mães do que filhas.
As roupas também não são lá grande coisa. Só umas poucas exceções usam Chanel, Prada, Gucci e Valentino. A maioria parecia usar uma roupa feita pela costureira do bairro. Mas, para não dizer que não falei das flores, digo que as bebidas são de primeira, em especial os vinhos. Porém os salgadinhos, que foram feitos por um tal de Wolfang Puck, uma mistura local de Laurent com Ofelia, deixam muito a desejar.
Depois de passar pelo "red carpet", você vai sentar no seu lugar. O meu era bem longe do palco. Provavelmente um espaço reservado para concunhados dos genros das sogras da tia-avó dos assistentes de produção. Fiquei no terceiro e último andar, de modo que, para ver Steve Martin, eu tinha de apertar bem os olhos e ter um pouco de imaginação. Para quem quisesse, havia uns binóculos à venda por US$ 10. Mas preferi olhar para um dos dois telões que ficavam dos lados do palco. Mesmo lá, vendo o Oscar ao vivo, o melhor era assistir pela TV.
Logo que começa a premiação, já podem ser vistos os primeiros derrotados indo ao bar. Mas agora as bebidas eram pagas. E bem pagas. Um refrigerante custava US$ 3. Num baile de debutante, pelo menos, a bebida é grátis.
Essas coisas podem fazer você pensar que não há vantagem em ver o Oscar de perto. Talvez seja verdade, mas há uma diferença importante. Quando se vê ao vivo os atores e apresentadores, os premiados e os perdedores, a equipe de filmagem e o público, se vê que o show é menos perfeito do que se pensa. Ao vivo ele perde muito de sua aura, de seu glamour, e se torna uma festa em que não há só beldades, mas também, e principalmente, gente normal, com ares de tia, de primo, de vizinho.
Depois da premiação, há uma grande aglomeração, pois todos querem pegar suas limusines. A saída do teatro fica parecendo o metrô da Sé, com a diferença de que todos estão bem vestidos.
Mas o chato mesmo é que o filme no qual trabalhei perdeu. E nestes momentos há que ser maduro e adulto. Por isso, amanhã, vou à Disneylândia.


José Roberto Torero é colunista da Folha e roteirista do curta "Uma História de Futebol"


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