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CRÍTICA
Os amores impossíveis do "Big Brother"
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Tempo de dobrar a língua:
semanas atrás, disse que ia
falar uma única vez sobre o
"BBB5", a não ser que algo acontecesse. Pois é, aconteceu. Não no
sentido sensacionalista: ninguém
matou, ninguém morreu e os
beijinhos foram mais castos do
que os de qualquer novela.
Mas o programa, no entanto,
foi encantador. Não, não se pode
esquecer também que há muito
pouco de realidade e muito de
show num programa como o
"Big Brother Brasil". Também
não se pode esquecer que, a esta
altura, já circula pelo imaginário
todo um conjunto de técnicas de
construção de personagens. E,
sobretudo, não se deve deixar de
ter em perspectiva que não há como se aproximar do "reality
show" sem duvidar da autenticidade daquilo que se vê, ouve e
sente.
OK! O problema é que, mesmo
lembrando de tudo isso, esta edição do "BBB" deu tantas voltas
metalinguísticas que chegou a
um estado de abstração onde algum tipo de realidade pôde ser
encenada e, numa outra volta, algum tipo de veracidade emergiu
dos disfarces.
No início, o "BBB5" surpreendeu pela velocidade e ferocidade
com que se instalou a polarização entre "mal" e "bem". Homens grandes, de aspecto e falas
protofascistas, mulheres-objeto
para as mais diversas funções
contra outros homens e mulheres um tantinho (não muito, mas
o suficiente) mais inteligentes
formaram um confronto tão claro que as eliminações bateram
recordes de adesão do público.
Depois, surpreendeu ainda
mais, quando, eliminados os
brucutus, se criou uma bolha de
bem-estar afetivo entre os participantes do grupo encabeçado
por Jean e Pink. Parecia que algo
"de verdade" estava se passando
ali, que se abriu magicamente a
possibilidade de viver várias relações, inspiradas pela intensidade
da amizade entre Jean e Pink.
Amizade baseada na condição
de exceção de ambos os personagens - Jean por ser gay e articulado, Pink por ser rebelde e abusada -, soube atrair outros participantes meio desgarrados e
acabou por gerar uma turma em
que os indivíduos agiam de forma independente, mas com sentido coletivo, o que lhes garantiu
uma vitória "limpa" e acachapante. Depois, seguiu-se um período quase idílico, onde todo
mundo pôde, o mais sinceramente possível, mentir. Em vez
de estar numa competição cruel,
eles pareciam jovens simpáticos
em férias na casa da praia, botando seus hormônios e afetos para
desenhar tramas de encontros e
desencontros amorosos.
Coube a Pink quebrar esse encanto e fazer o papel daquela que
desperta a todos, inclusive o público, da mistificação. Emburrada, ela recordou a falsidade da situação do "reality show" e a verdade nua e crua do fato de todos
estarem ali querendo "merecer"
uma soma obscena. Saiu da casa
para afundar na sua história, não
sem antes despedir-se de seu personagem com um toque de picardia, roubando um beijo do
apresentador Pedro Bial.
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