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Bienal tem como tema Borges e o autor tcheco
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
Jorge Luis Borges (1899-1986), o maior autor argentino,
despertou um dia dos anos
1970 nos EUA e avisou à mulher, Maria Kodama, que queria ditar-lhe um poema cujo título -em alemão, "Ein
Traum"- significa "um sonho"
e em que Kafka é personagem.
Passou o tempo, e Borges não
se pôs a corrigir reiteradamente a obra, como era seu hábito.
Kodama ficou intrigada.
"Aquilo me chamava tanto a
atenção que perguntei a Borges
por que ele não tocava nesse
poema", lembrou a escritora e
viúva de Borges, anteontem,
em Buenos Aires, ao divulgar a
2ª Bienal Borges Kafka, que
ocorre na capital argentina, entre os próximos dia 19 e 30/4.
A resposta do escritor foi:
"Porque esse poema me foi ditado por Kafka. Enquanto ele
não me ditar a correção, eu respeito a forma em que está".
Além de ressaltar a admiração e o afeto de Borges por Kafka, a bienal dedicada aos dois
autores vai procurar elucidar
interseções temáticas nas
obras de ambos, assim como aspectos específicos.
Estão convidados especialistas em Borges e Kafka de vários
países. Pelo Brasil, participa o
secretário de Cultura de Porto
Alegre, Sergius Gonzaga, com
palestra sobre a influência de
Kafka na literatura brasileira.
Porém, a Bienal Borges Kafka, que ocorre pela primeira
vez na Argentina -a edição
inaugural foi em Praga- tem o
desafio de "não ser apenas um
encontro de iniciados", diz
Hernán Lombardi, titular do
Ministério da Cultura e Turismo da Cidade de Buenos Aires,
um dos realizadores do evento.
Lombardi afirma que "os gestores culturais do século 21 estão particularmente interessados nos formatos", com a intenção subjacente de "atrair mais
iniciados para essa espécie de
fanatismo laico pelo poder
transformador da cultura".
Manifestações de artes plásticas, cinema, música e artes cênicas estão incorporadas à programação da Bienal Borges
Kafka. A ideia mais exuberante
foi encomendada ao artista argentino Rogelio Polesello. Ele
prepara um gigantesco labirinto, a ser instalado como um
portal de entrada para o Centro
Cultural Recoleta, sede das
principais atividades da Bienal.
"Esse projeto me fez voltar à
infância. Têm-me ocorrido
imagens muito ricas, talvez um
pouco irônicas", diz Polesello.
As imagens vão "aparecer" para
quem circule pelo labirinto.
O Centro Franz Kafka, parceiro da Argentina na organização da Bienal, avisou que "se
preocupou muito em reunir os
mais importantes autores tchecos da atualidade" para participar do simpósio.
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