São Paulo, sábado, 27 de março de 2010

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Bienal tem como tema Borges e o autor tcheco

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

Jorge Luis Borges (1899-1986), o maior autor argentino, despertou um dia dos anos 1970 nos EUA e avisou à mulher, Maria Kodama, que queria ditar-lhe um poema cujo título -em alemão, "Ein Traum"- significa "um sonho" e em que Kafka é personagem.
Passou o tempo, e Borges não se pôs a corrigir reiteradamente a obra, como era seu hábito. Kodama ficou intrigada.
"Aquilo me chamava tanto a atenção que perguntei a Borges por que ele não tocava nesse poema", lembrou a escritora e viúva de Borges, anteontem, em Buenos Aires, ao divulgar a 2ª Bienal Borges Kafka, que ocorre na capital argentina, entre os próximos dia 19 e 30/4.
A resposta do escritor foi: "Porque esse poema me foi ditado por Kafka. Enquanto ele não me ditar a correção, eu respeito a forma em que está".
Além de ressaltar a admiração e o afeto de Borges por Kafka, a bienal dedicada aos dois autores vai procurar elucidar interseções temáticas nas obras de ambos, assim como aspectos específicos.
Estão convidados especialistas em Borges e Kafka de vários países. Pelo Brasil, participa o secretário de Cultura de Porto Alegre, Sergius Gonzaga, com palestra sobre a influência de Kafka na literatura brasileira.
Porém, a Bienal Borges Kafka, que ocorre pela primeira vez na Argentina -a edição inaugural foi em Praga- tem o desafio de "não ser apenas um encontro de iniciados", diz Hernán Lombardi, titular do Ministério da Cultura e Turismo da Cidade de Buenos Aires, um dos realizadores do evento.
Lombardi afirma que "os gestores culturais do século 21 estão particularmente interessados nos formatos", com a intenção subjacente de "atrair mais iniciados para essa espécie de fanatismo laico pelo poder transformador da cultura".
Manifestações de artes plásticas, cinema, música e artes cênicas estão incorporadas à programação da Bienal Borges Kafka. A ideia mais exuberante foi encomendada ao artista argentino Rogelio Polesello. Ele prepara um gigantesco labirinto, a ser instalado como um portal de entrada para o Centro Cultural Recoleta, sede das principais atividades da Bienal.
"Esse projeto me fez voltar à infância. Têm-me ocorrido imagens muito ricas, talvez um pouco irônicas", diz Polesello. As imagens vão "aparecer" para quem circule pelo labirinto.
O Centro Franz Kafka, parceiro da Argentina na organização da Bienal, avisou que "se preocupou muito em reunir os mais importantes autores tchecos da atualidade" para participar do simpósio.


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