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Dançando no inferno
Com 16 anos de vida e um dos marcos da vida noturna de São Paulo, o Hell's Club ganha
um DVD comemorativo com set musical
e documentário
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Se você sair de casa em qualquer manhã de sábado ou domingo e passear por Bela Vista,
Barra Funda, Baixo Augusta,
Jardins, provavelmente encontrará várias pessoas seguindo
em sentido contrário -indo
para casa, após horas e horas
dançando em algum clube.
Se hoje esse tipo de cena é
corriqueira, em julho de 1994
era algo surreal. Foi quando
surgiu o Hell's Club, que introduziu e popularizou em SP a expressão "after hours", que classifica as festas que funcionam a
partir das 4h, 5h.
O Hell's marcou e continua
marcando a cultura paulistana.
A noite (ou dia, como preferir)
segue firme no clube Vegas. E,
finalmente, ganha um registro
à altura. Mauricio Marques, o
Pil Marques, idealizador e promotor do Hell's, lança DVD sobre seu projeto. A primeira parte, com um set e imagens feitas
pelo VJ Daniel Zanardi, acaba
de sair. A segunda parte, um documentário com entrevistas e
cenas antigas, será lançada no
segundo semestre.
No início dos 1990, em países
como Inglaterra e Alemanha,
noites "after hours" eram comuns. No Brasil, não. Após morar em Londres, Pil Marques
criou o Hell's e, em pouco tempo, a iniciativa pegou.
"Eu conhecia muita gente variada, skatistas, roqueiros, gente que já curtia música eletrônica, e eles foram os primeiros
frequentadores. As pessoas
queriam algo novo", lembra,
"então nem foi tão difícil fazer a
noite acontecer."
Com o então não tão conhecido Mau Mau como residente,
o Hell's tornou-se um refúgio
certeiro para encontrar música
eletrônica autoral, underground, o oposto do que se ouvia em outros lugares.
Gente como os DJs Julião e
Renato Cohen, o empresário
André Hidalgo (clube Glória;
Casa de Criadores), os produtores Ana & Davi (Pet Duo), o roqueiro Edgard Scandurra passaram pela pistinha do Sub
Club, o porão do extinto clube
Columbia que abrigava o Hell's.
"Musicalmente, o Hell's
trouxe algo radical. Tocava-se
tecno, que na época não era popular", conta Gaía Passarelli,
editora do site Rraurl.
Pela cabine do Hell's passaram nomes como Laurent Garnier e Stuart McMillan (do
Slam). Quando McMillan tocou, por algum motivo a polícia
entrou no clube às 8h30 de domingo e levou todo mundo para
o 78º DP, que ficava ao lado do
Columbia, na rua Estados Unidos. (Ninguém foi detido.)
"Essa coisa da cultura noturna pode ser percebida no Brasil
como algo fútil, que não é relevante. Mas quando as pessoas
falam sobre a Nova York dos
anos 70, uma das primeiras coisas que lembram é do Studio
54, um clube que marcou a cidade", diz Erika Palomino, editora de moda do portal FFW.
O Hell's marcou São Paulo.
"Foi um lugar importante para a afirmação de uma música
eletrônica de verdade, sem apelo comercial. Eles fincaram
uma bandeira", afirma o DJ e
jornalista Camilo Rocha.
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