São Paulo, sábado, 27 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dançando no inferno

Com 16 anos de vida e um dos marcos da vida noturna de São Paulo, o Hell's Club ganha um DVD comemorativo com set musical e documentário

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Se você sair de casa em qualquer manhã de sábado ou domingo e passear por Bela Vista, Barra Funda, Baixo Augusta, Jardins, provavelmente encontrará várias pessoas seguindo em sentido contrário -indo para casa, após horas e horas dançando em algum clube.
Se hoje esse tipo de cena é corriqueira, em julho de 1994 era algo surreal. Foi quando surgiu o Hell's Club, que introduziu e popularizou em SP a expressão "after hours", que classifica as festas que funcionam a partir das 4h, 5h.
O Hell's marcou e continua marcando a cultura paulistana. A noite (ou dia, como preferir) segue firme no clube Vegas. E, finalmente, ganha um registro à altura. Mauricio Marques, o Pil Marques, idealizador e promotor do Hell's, lança DVD sobre seu projeto. A primeira parte, com um set e imagens feitas pelo VJ Daniel Zanardi, acaba de sair. A segunda parte, um documentário com entrevistas e cenas antigas, será lançada no segundo semestre.
No início dos 1990, em países como Inglaterra e Alemanha, noites "after hours" eram comuns. No Brasil, não. Após morar em Londres, Pil Marques criou o Hell's e, em pouco tempo, a iniciativa pegou.
"Eu conhecia muita gente variada, skatistas, roqueiros, gente que já curtia música eletrônica, e eles foram os primeiros frequentadores. As pessoas queriam algo novo", lembra, "então nem foi tão difícil fazer a noite acontecer."
Com o então não tão conhecido Mau Mau como residente, o Hell's tornou-se um refúgio certeiro para encontrar música eletrônica autoral, underground, o oposto do que se ouvia em outros lugares.
Gente como os DJs Julião e Renato Cohen, o empresário André Hidalgo (clube Glória; Casa de Criadores), os produtores Ana & Davi (Pet Duo), o roqueiro Edgard Scandurra passaram pela pistinha do Sub Club, o porão do extinto clube Columbia que abrigava o Hell's.
"Musicalmente, o Hell's trouxe algo radical. Tocava-se tecno, que na época não era popular", conta Gaía Passarelli, editora do site Rraurl.
Pela cabine do Hell's passaram nomes como Laurent Garnier e Stuart McMillan (do Slam). Quando McMillan tocou, por algum motivo a polícia entrou no clube às 8h30 de domingo e levou todo mundo para o 78º DP, que ficava ao lado do Columbia, na rua Estados Unidos. (Ninguém foi detido.)
"Essa coisa da cultura noturna pode ser percebida no Brasil como algo fútil, que não é relevante. Mas quando as pessoas falam sobre a Nova York dos anos 70, uma das primeiras coisas que lembram é do Studio 54, um clube que marcou a cidade", diz Erika Palomino, editora de moda do portal FFW.
O Hell's marcou São Paulo.
"Foi um lugar importante para a afirmação de uma música eletrônica de verdade, sem apelo comercial. Eles fincaram uma bandeira", afirma o DJ e jornalista Camilo Rocha.


Texto Anterior: Crítica/CD/"Chopin The Nocturnes": Nelson Freire grava Chopin histórico
Próximo Texto: "Filhos" do clã Tatit rodam pião no teatro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.