São Paulo, domingo, 27 de março de 2011

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"O sonho é o que vou fazer em seguida"

DE SÃO PAULO

Em entrevista, Antunes Filho recorda episódios marcantes de sua carreira, critica a sociedade de consumo e fala sobre desejos para o próximo projeto.
Leia trechos a seguir. (GM)

 


Folha - Qual a potência do teatro?
Antunes Filho - O teatro não tem mais a força política que teve há 30 anos. Era uma via viva, ótima para protestos. Se for para protestar hoje, seria contra a sociedade de consumo. Mas, se o teatro tentar fazer isso, vai ficar mimético. E ele tem que ser artístico.

Como educar as pessoas a apreciarem teatro?
A sociedade hoje é muito materialista. Como posso falar sobre a espiritualidade da arte? É difícil. Essa turma ama tudo o que é caixa. Até teatro virou mercadoria.

Você falou na entrevista com Wilker que teatro é vida. Pode explicar melhor?
Se uma pessoa está viva, tem espiritualidade para o teatro. Só precisa se educar. É preciso educar o ator e a plateia para resgatar a cidadania. Mexer com cultura neste país é uma atitude política.

É necessário um registro da história do teatro?
Talvez sim, se a televisão estimular a cultura e o estudo e não servir de objeto nas mãos do diretor. Acho importante este programa, para as pessoas que querem estudar teatro.

A TV pode atrair novos espectadores para o teatro?
Por incrível que pareça, atrai. Vejo a repercussão que acontece quando apareço no "Roda Viva" ou em outros programas.

Qual o momento mais marcante de sua carreira?
Foi com "Macunaíma" e "Vereda de Salvação", no TBC. Estreamos "Vereda..." com a repressão, em 1964. A plateia pulava e gritava.
Pela primeira vez, vi os editoriais dos jornais meterem o pau naquilo que estávamos fazendo no TBC. Diziam que era ridículo colocar a realidade no palco.

Você tem algum sonho que ainda não foi realizado?
O sonho é sempre o que eu quero fazer em seguida.

Qual próximo projeto?
Ainda não sei. Estudo para criar uma outra via para o ator estar em cena, que não seja a da representação. É um caminho muito profundo e paciente. É sair da projeção e ir para a ressonância. É outro universo, outro mundo. Quando isso acontece, a plateia fica na mão dos atores. Deixa de comer pipoca.

Seu próximo projeto é nacionalista?
Quero fazer Brasil, mas já fiz quase todos que eu queria. Resta Machado de Assis. E ele é muito sutil e sofisticado para o teatro. Claro que dá para ser feito. Mas para isso é preciso uma preparação intensa, encontrar o caminho. E como encaminhar isso?


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