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Satyros cruzam o oceano com 'Urfaust'
ALVARO MACHADO
especial para a Folha
"Quase dez anos de estrada" não
é figura de linguagem, neste caso.
Desde que trocaram São Paulo por
Lisboa, em 93, os responsáveis pela Cia. Teatral Satyros atravessaram dezenas de vezes o Atlântico
para estabelecer um segundo centro de criação teatral em Curitiba.
"Trabalhar dos dois lados do oceano era um sonho que alimentávamos desde o início", lembra o diretor Rodolfo García Vásquez.
A proposta se fortaleceu no final
do ano passado, com a primeira
produção de uma peça do inglês
Philip Ridley no Brasil: "Killer
Disney", que foi apresentada no
Fringe deste festival de Curitiba. A
montagem arrebatou no mês passado os prêmios Gralha Azul (Governo do Estado do Paraná) de
melhor espetáculo, diretor, cenários e figurino, além de troféu de
melhor ator para o "satyro" Ivam
Cabral.
"Urfaust" (o proto-Fausto), de
Goethe, que estréia hoje no 7º Festival de Teatro de Curitiba, aparece agora como a cartada maior de
Vásquez -junto ao também diretor Ivam Cabral- para reavivar
uma identidade teatral que deixou
marcas na cena brasileira entre 89
e 92, com "Arlequim".
Vásquez identifica o mito do super-homem faustiano ao homem
contemporâneo globalizado e passível de clonagem, aparentemente
ilimitado em seu poder de conhecer e se perpetuar.
A montagem, orçada em R$ 100
mil, respeita o texto original -
crivado pela versão em prosa do
dramaturgo francês Gérard de
Nerval e por tradução da poeta
portuguesa Luísa Jorge. Porém,
cenários, figurinos, sons e imagens em telão situarão o espectador na modernidade. Mais especificamente, "numa caixa amplificada de ambiente Windows", com
os atores vestindo cabeças feitas
de silicone e chips eletrônicos.
Apesar do título, não se trata do
primeiro esboço por Goethe para a
sua obra máxima, mas da primeira
parte do "Fausto" definitivo, esclarece Vásquez.
"Urfaust", que deve cumprir
temporada em São Paulo a partir
do mês de maio, traz Ivam Cabral
no papel-título e a atriz "global"
Teresa Seiblitz interpretando a
personagem Margarida.
Subvencionados pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura e pela
Fundação Cultural de Curitiba, os
Satyros já têm outros dois projetos
aprovados para montagem no
Brasil em 98: "Maldoror", baseado
no livro maldito de Isidore Ducasse (ou Conde de Lautréamont),
além de uma "Medéia" feita apenas por homens e com música tribal africana.
Além de levantar essas montagens, Cabral e Vásquez ainda devem cruzar o oceano outras vezes,
tentando concretizar um sonhado
intercâmbio entre atores e diretores portugueses e brasileiros.
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