São Paulo, sexta, 27 de março de 1998

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SHOW
Após cinco anos sem lançar um disco, cantor toca canções de seu mais recente CD hoje e amanhã em São Paulo
Motta festeja com 'Manual' o fim de 'Manuel'

Antonio Gaudério/Folha Imagem
O compositor Ed Motta, que toca em SP composições do "Manual Prático das Festas, Bailes e Afins Vol.1"


CARLOS CALADO
especial para a Folha

De "Manuel" ao "Manual". Esse poderia ser o título do show que o cantor e compositor Ed Motta apresenta hoje e amanhã, no Palace, em São Paulo.
Depois de cinco anos sem lançar um disco de carreira, Motta comemora a repercussão do CD "Manual Prático para Festas, Bailes e Afins Vol. 1". Segundo a gravadora Universal, o álbum já ultrapassou a marca de 100 mil cópias.
Na verdade, a comemoração do cantor extrapola os números. O fato de a canção "Fora da Lei" (parceria com Rita Lee) ter se transformado em hit carrega um gosto especial para o "soulman".
Somente após uma década de carreira fonográfica, ele começa a se livrar de um detalhe que sempre o incomodou: seu maior sucesso não era de sua autoria.
"É uma ironia do destino. Tudo o que eu gravei até hoje é meu. Só 'Manuel' e 'Parada de Lucas' não são", lembra, comparando seu estigma musical ao do compositor e mestre do jazz Duke Ellington, que durante décadas foi obrigado pelos fãs a tocar "Take the A'Train", do parceiro Billy Strayhorn.
"O 'Fora da Lei' matou esse 'Manuel', que já está todo esfolado, caído no chão", diverte-se. "Fico feliz, até porque 'Fora da Lei' é uma música infinitamente melhor, muito mais rica."
Ainda assim, no show de hoje, Motta não pretende cometer a imprudência de negar "Manuel" a seus fãs mais antigos. Promete até fazer um apanhado geral de seus primeiros quatro discos.
Canções mais conhecidas do "soulman", como "Baixo Rio", "Vamos Dançar" e "Contrato com Deus", vão aparecer no show ao lado de quase todas as composições do novo CD.
O reencontro com o sucesso, depois do fracasso de vendas do (ótimo e radical) álbum "Entre e Ouça" (1992), revela um artista mais maduro e consciente de suas possibilidades no mercado musical.
"Naquele disco, eu não quis abrir mão de nada. A gravadora pediu músicas para tocar no rádio, e eu recusei. Hoje, quero fazer uma coisa que dê certo, mas que tenha requinte em tudo: na capa, no som, na instrumentação."
Mesmo assim, Motta não descarta o projeto de fazer um disco puramente instrumental, com composições inéditas influenciadas por autores de trilhas sonoras e mestres da música erudita.
Antes disso, em 99, deve gravar o segundo volume do "Manual". "Esse título era quase uma piada, mas agora já estou vendo vários ganchos de continuidade, como a capa à anos 50", admite.
Extremado por natureza, o compositor divide hoje seu antigo fanatismo pela música com uma obsessão mais recente: os vinhos -assunto da coluna mensal que ele escreve para a Ilustrada.
"Edna, minha mulher, diz que essa é a minha fase mais obsessiva. Eu já acordo falando em vinho", conta, rindo. "Mas não gosto de misturar as coisas. Detesto tomar vinho com música."
Outra mania de Motta é a Internet, esta sim associada com a música. Em seu site (www.edmotta.com), ele oferece muitas dicas, incluindo links com lojas especializadas em música negra.
Quanto à recente morte de Tim Maia, seu tio e referência marcante em sua formação musical, o cantor reconhece uma frustração.
"A última vez que conversei com ele foi em 88, quando lancei o primeiro disco. Ficou um clima estranho e nunca mais nos falamos. Agora não tem mais jeito."

Show: Ed Motta Onde: Palace (al. dos Jamaris, 213, Moema, tel. 011/531-4900) Quando: hoje e sábado, às 21h30 Quanto: de R$ 20 a R$ 50


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