|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Prodigy
Em entrevista à Folha na Inglaterra, Keith Flint
e Leeroy Thornhill, da banda britânica que
levou a música eletrônica para as massas, fala
sobre a (quase confirmada) vinda do grupo ao
Brasil e afirma que a intenção da banda é fazer
música para a pessoas não gostarem
LÚCIO RIBEIRO
enviado especial a Essex (Inglaterra)
A idéia de arrebanhar a imprensa brasileira em um hotel ao norte
de Londres, no bucólico condado
de Essex, terra natal da banda inglesa Prodigy, era para fazer os
anúncios dos shows no Brasil do
mais famoso grupo de música eletrônica do planeta (Êêêêêê!!!).
Não rolou, ainda por pendências
contratuais (Aaaaaaaaa!!!!).
De qualquer modo, o Brasil não
deve terminar 1998 sem ser visitado pela turnê do álbum "The Fat of
the Land", da banda que tirou a
"techno music" dos guetos e levou
às massas.
Quem deu o toque à Folha, em
entrevista no White Hall Hotel,
quartel-general do Prodigy em Essex, foi um dos vocalistas da banda, o esquisitão performático
Keith Flint. Se o Prodigy tem uma
cara, esta é a de Flint.
Também participando da entrevista esteve Leeroy Thornhill, cuja
função no Prodigy é algo do que se
pode chamar de "o dançarino do
grupo".
"Nós vamos tocar no Brasil neste
ano, é o que esperamos muito",
afirmou Keith Flint, com o tradicional cabelo espetado dos lados,
mas sem a maquiagem que o torna
parecido às vezes com o demônio,
às vezes com Krusty, o palhaço de
"Os Simpsons".
"Temos a agenda cheia na Europa até agosto, mas há um espaço
que estamos acertando para mais
uma turnê americana. Daí devemos fazer duas ou três apresentações fora dos EUA, em lugares como Brasil, México", disse Leeroy,
que está para o Prodigy assim como Bez estava o Happy Mondays
no começo dos 90, somente com o
trabalho de entreter o público,
dançando sem parar no show.
A seguir, mais da entrevista com
os membros do Prodigy, em tópicos. Respire com o Prodigy.
BRASIL - "Do Brasil eu conheço
o Sepultura. Eu gosto deles. Eles
pendem demais para um lado extremo do tipo Napalm Death, mas
eu gosto. Os vídeos são legais. As
tatuagens deles também. Gosto
também daquela arte marcial brasileira, em que as pessoas dançam
e dão chutes no ar (capoeira). Eu
sei muito sobre isso, sempre vejo
vídeos. Simplesmente adoro essa
dança." (Keith Flint)
PERFORMANCE AO VIVO -
"Nunca fizemos aula de dança
nem ensaiamos antes de um show.
Nós vamos no embalo do som.
Tentamos dançar na vibração da
nossa música." (Leeroy Thornhill)
"Nossa dança vem dos lugares que
frequentamos. É uma mistura de
break dance, hip hop, dance music. Não praticamos nenhuma
"dança americana da moda'. Não
fazemos nada previsível. Para
mim dançar é uma arte. Eu sou
um artista. No palco, Eu e o Leeroy nos expressamos o jeito que
somos, verdadeiramente. Não fazemos nada calculado." (Keith
Flint)
DISCO NOVO - "Não há nada feito para o próximo disco, não há
nenhum trabalho de estúdio nessa
direção. Nada. Também não deve
haver um próximo single para o
"The Fat of the Land'. "Smack My
Bitch Up' deve ser o último. Pelo
menos com músicas novas. Ou
melhor, talvez façamos um remix
para "Serial Killer'. E, aí, quando
você faz um remix, ele já se torna
uma nova música." (Keith)
A BANDA - "Liam (Liam Howlett) faz a maioria das canções,
sempre fez. Mas ele também escuta nossas opiniões, coloca a fita
para ouvirmos e sugerirmos mudanças." (Leeroy)
TECNO OU PUNK? - "Somos
"hard dance music', uma banda de
dance eletrônica com uma atitude
punk." (Keith)
"Não dá para nos rotular porque
ninguém faz o que fazemos. Somos originais." (Leeroy)
"Não gosto de palavras como
"grunge', como "tecno'. Não gostaria de ouvi-las. "Rave' também. O
que é isso? Não tocamos em "raves', como todo mundo diz.
Quando íamos a "festas' em Londres, anos atrás, nós nunca as chamamos de "raves'." (Keith)
"Tecno existe há dez anos. Nos
EUA, eles deram um novo nome
para ressaltar a onda de hoje: "electronica'. Eles precisam de um nome." (Leeroy)
FÃS - "Nosso público aqui na Inglaterra, nos EUA, na Rússia se
comporta do mesmo jeito quando
tocamos, não importa o lugar. Isso é o bom da dance music. Você
não se preocupa muito com a letra. O som é que interessa. É o som
que chega às pessoas, onde quer
que você esteja." (Keith)
SMACK MY BITCH UP - "Nossa
música pode facilmente ofender as
pessoas. "Smack My Bitch Up' não
foi deliberadamente feita para
ofender ninguém. Foi feita para
que as pessoas conhecessem como
é de verdade a noite de um cara
que vai a clubes. Elas não lêem isso
nos jornais. "Smack My Bitch Up' é
apenas uma canção qualquer. E
tem muita gente que se ofende
com ela. Nossa música é sempre
dura. Não queremos fazer música
de que todo mundo goste. Não
queremos ser como Oasis e Verve.
Música legal, mas que até minha
mãe gosta e canta. Não quero que
ninguém lave e limpe coisas em
casa cantando Prodigy." (Flint)
VIDEOCLIPE - "Quanto à polêmica do clipe de "Smack My Bitch
Up', nós sabíamos que eles não
passariam na TV (a MTV Brasil
tem a fita há mais de dois meses,
mas ainda não decidiu se vai ou
não exibi-la). Assim como sabíamos que a música não tocaria nas
rádios. Mas temos certeza de que
quem for nosso fã vai dar um jeito
de ver o clipe." (Flint)
SUCESSO - "Isso não nos atinge.
Desde o tempo que tocávamos em
clubes até agora, somos os mesmos quatro caras, com o mesmo
tipo de vibração, fazendo as mesmas coisas. Nós não seguimos
nossa trilha pensando em atingir o
sucesso. Na verdade nunca quisemos isso. Mas, se você ouve o primeiro álbum, "Experience', e depois ouve o último, "The Fat of the
Land', sente que há uma evolução
lógica. E também, quando você
volta ao "Experience', ele cresce,
ele fica melhor. Vejo nosso álbum
como uma TV preto-e-branco,
enquanto o último é uma TV em
cores com videocassete. Isso é
uma progressão que naturalmente
vai atrair as pessoas. Mas, quanto
a nós, não vai mudar nada por
causa disso." (Leeroy)
"Você diz que somos massivos,
porque vendemos 10 milhões de
cópias, tocamos para milhares de
pessoas. Mas isso é uma coisa que
não passa pela nossa cabeça. Nós
controlamos todas as nossas coisas. Quando falaram que íamos
para a Rússia por três semanas,
dissemos: "Não, vamos tocar lá somente um dia (em setembro do
ano passado, Prodigy tocou para
250 mil pessoas na Praça Vermelha, em Moscou)'. Nós recusamos
tocar no estádio de Wembley. Preferimos tocar em dez lugares pequenos a fazer um show em Wembley. É assim que funciona. Não
fazemos parte de nenhuma máquina que te suga e diz o que vestir, onde ir, onde tocar." (Flint)
MADONNA - "Liam disse para a
Madonna (dona da Maverick, que
distribui os discos do Prodigy nos
EUA), brincando, na época do
lançamento do CD "The Fat of the
Land' (na tradução literal, "O Gordo da Terra', mas que quer dizer "o
fruto da terra que você cultiva'):
"Queremos que o álbum saia nos
EUA com o nome de "The Land of
the Fat' ("A Terra do Gordo'). A
Madonna não gostou." (Leeroy)
O jornalista
Lúcio Ribeiro viajou a Essex (Inglaterra) a convite da gravadora Paradoxx, que distribui
os discos do Prodigy no Brasil.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|