São Paulo, sexta, 27 de março de 1998

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MÚSICA
Prodigy

Em entrevista à Folha na Inglaterra, Keith Flint e Leeroy Thornhill, da banda britânica que levou a música eletrônica para as massas, fala sobre a (quase confirmada) vinda do grupo ao Brasil e afirma que a intenção da banda é fazer música para a pessoas não gostarem

LÚCIO RIBEIRO
enviado especial a Essex (Inglaterra)

A idéia de arrebanhar a imprensa brasileira em um hotel ao norte de Londres, no bucólico condado de Essex, terra natal da banda inglesa Prodigy, era para fazer os anúncios dos shows no Brasil do mais famoso grupo de música eletrônica do planeta (Êêêêêê!!!).
Não rolou, ainda por pendências contratuais (Aaaaaaaaa!!!!).
De qualquer modo, o Brasil não deve terminar 1998 sem ser visitado pela turnê do álbum "The Fat of the Land", da banda que tirou a "techno music" dos guetos e levou às massas.
Quem deu o toque à Folha, em entrevista no White Hall Hotel, quartel-general do Prodigy em Essex, foi um dos vocalistas da banda, o esquisitão performático Keith Flint. Se o Prodigy tem uma cara, esta é a de Flint.
Também participando da entrevista esteve Leeroy Thornhill, cuja função no Prodigy é algo do que se pode chamar de "o dançarino do grupo".
"Nós vamos tocar no Brasil neste ano, é o que esperamos muito", afirmou Keith Flint, com o tradicional cabelo espetado dos lados, mas sem a maquiagem que o torna parecido às vezes com o demônio, às vezes com Krusty, o palhaço de "Os Simpsons".
"Temos a agenda cheia na Europa até agosto, mas há um espaço que estamos acertando para mais uma turnê americana. Daí devemos fazer duas ou três apresentações fora dos EUA, em lugares como Brasil, México", disse Leeroy, que está para o Prodigy assim como Bez estava o Happy Mondays no começo dos 90, somente com o trabalho de entreter o público, dançando sem parar no show.
A seguir, mais da entrevista com os membros do Prodigy, em tópicos. Respire com o Prodigy.
BRASIL - "Do Brasil eu conheço o Sepultura. Eu gosto deles. Eles pendem demais para um lado extremo do tipo Napalm Death, mas eu gosto. Os vídeos são legais. As tatuagens deles também. Gosto também daquela arte marcial brasileira, em que as pessoas dançam e dão chutes no ar (capoeira). Eu sei muito sobre isso, sempre vejo vídeos. Simplesmente adoro essa dança." (Keith Flint)
PERFORMANCE AO VIVO - "Nunca fizemos aula de dança nem ensaiamos antes de um show. Nós vamos no embalo do som. Tentamos dançar na vibração da nossa música." (Leeroy Thornhill)
"Nossa dança vem dos lugares que frequentamos. É uma mistura de break dance, hip hop, dance music. Não praticamos nenhuma "dança americana da moda'. Não fazemos nada previsível. Para mim dançar é uma arte. Eu sou um artista. No palco, Eu e o Leeroy nos expressamos o jeito que somos, verdadeiramente. Não fazemos nada calculado." (Keith Flint)
DISCO NOVO - "Não há nada feito para o próximo disco, não há nenhum trabalho de estúdio nessa direção. Nada. Também não deve haver um próximo single para o "The Fat of the Land'. "Smack My Bitch Up' deve ser o último. Pelo menos com músicas novas. Ou melhor, talvez façamos um remix para "Serial Killer'. E, aí, quando você faz um remix, ele já se torna uma nova música." (Keith)
A BANDA - "Liam (Liam Howlett) faz a maioria das canções, sempre fez. Mas ele também escuta nossas opiniões, coloca a fita para ouvirmos e sugerirmos mudanças." (Leeroy)
TECNO OU PUNK? - "Somos "hard dance music', uma banda de dance eletrônica com uma atitude punk." (Keith)
"Não dá para nos rotular porque ninguém faz o que fazemos. Somos originais." (Leeroy)
"Não gosto de palavras como "grunge', como "tecno'. Não gostaria de ouvi-las. "Rave' também. O que é isso? Não tocamos em "raves', como todo mundo diz. Quando íamos a "festas' em Londres, anos atrás, nós nunca as chamamos de "raves'." (Keith)
"Tecno existe há dez anos. Nos EUA, eles deram um novo nome para ressaltar a onda de hoje: "electronica'. Eles precisam de um nome." (Leeroy)
FÃS - "Nosso público aqui na Inglaterra, nos EUA, na Rússia se comporta do mesmo jeito quando tocamos, não importa o lugar. Isso é o bom da dance music. Você não se preocupa muito com a letra. O som é que interessa. É o som que chega às pessoas, onde quer que você esteja." (Keith)
SMACK MY BITCH UP - "Nossa música pode facilmente ofender as pessoas. "Smack My Bitch Up' não foi deliberadamente feita para ofender ninguém. Foi feita para que as pessoas conhecessem como é de verdade a noite de um cara que vai a clubes. Elas não lêem isso nos jornais. "Smack My Bitch Up' é apenas uma canção qualquer. E tem muita gente que se ofende com ela. Nossa música é sempre dura. Não queremos fazer música de que todo mundo goste. Não queremos ser como Oasis e Verve. Música legal, mas que até minha mãe gosta e canta. Não quero que ninguém lave e limpe coisas em casa cantando Prodigy." (Flint) VIDEOCLIPE - "Quanto à polêmica do clipe de "Smack My Bitch Up', nós sabíamos que eles não passariam na TV (a MTV Brasil tem a fita há mais de dois meses, mas ainda não decidiu se vai ou não exibi-la). Assim como sabíamos que a música não tocaria nas rádios. Mas temos certeza de que quem for nosso fã vai dar um jeito de ver o clipe." (Flint)
SUCESSO - "Isso não nos atinge. Desde o tempo que tocávamos em clubes até agora, somos os mesmos quatro caras, com o mesmo tipo de vibração, fazendo as mesmas coisas. Nós não seguimos nossa trilha pensando em atingir o sucesso. Na verdade nunca quisemos isso. Mas, se você ouve o primeiro álbum, "Experience', e depois ouve o último, "The Fat of the Land', sente que há uma evolução lógica. E também, quando você volta ao "Experience', ele cresce, ele fica melhor. Vejo nosso álbum como uma TV preto-e-branco, enquanto o último é uma TV em cores com videocassete. Isso é uma progressão que naturalmente vai atrair as pessoas. Mas, quanto a nós, não vai mudar nada por causa disso." (Leeroy)
"Você diz que somos massivos, porque vendemos 10 milhões de cópias, tocamos para milhares de pessoas. Mas isso é uma coisa que não passa pela nossa cabeça. Nós controlamos todas as nossas coisas. Quando falaram que íamos para a Rússia por três semanas, dissemos: "Não, vamos tocar lá somente um dia (em setembro do ano passado, Prodigy tocou para 250 mil pessoas na Praça Vermelha, em Moscou)'. Nós recusamos tocar no estádio de Wembley. Preferimos tocar em dez lugares pequenos a fazer um show em Wembley. É assim que funciona. Não fazemos parte de nenhuma máquina que te suga e diz o que vestir, onde ir, onde tocar." (Flint)
MADONNA - "Liam disse para a Madonna (dona da Maverick, que distribui os discos do Prodigy nos EUA), brincando, na época do lançamento do CD "The Fat of the Land' (na tradução literal, "O Gordo da Terra', mas que quer dizer "o fruto da terra que você cultiva'): "Queremos que o álbum saia nos EUA com o nome de "The Land of the Fat' ("A Terra do Gordo'). A Madonna não gostou." (Leeroy)


O jornalista Lúcio Ribeiro viajou a Essex (Inglaterra) a convite da gravadora Paradoxx, que distribui os discos do Prodigy no Brasil.



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