São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2001

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Sangria para o exterior dizima acervo

DA REPORTAGEM LOCAL

Em trabalho contínuo de pesquisa, Caetano Rodrigues aborda questão que vem passando despercebida pelos narizes brasileiros: acervos importantíssimos da música popular brasileira, de bossa nova ou outros gêneros, estão sendo perdidos não só por não serem relançados em CD, mas pela forte sangria de discos de vinil para Japão, Europa e EUA.
"O que restou desses discos está indo para fora em LP. No exterior pirateiam esse negócio, tenho piratas editados na Inglaterra e no Japão. Os vinis são recolhidos pelos gringos em carrinhos de feira. Eles saem com malas de cem, 200 discos", denuncia Rodrigues.
Segundo Charles Gavin, o fenômeno é geral: "O disco do (grupo roqueiro dos 80) Nau é pirateado em CD em Tóquio. Isso passa batido pela indústria".
Rodrigues aponta exemplo a mais: "Outro dia circulou na internet que a música "Zozói", com Célia, estava sendo tocada por um DJ de Tóquio. No sábado não deu outra, várias pessoas estavam procurando o LP na feirinha da praça Benedito Calixto (SP)".
Gavin complementa: "Os grandes sebos de vinil de São Paulo já não colocam mais nas prateleiras os discos mais difíceis da bossa nova. Deixam escondidos, para os gringos comprarem de quilo".
Diz Rodrigues: "Esse mercado se intensificou de uns cinco anos para cá, com o crescimento do interesse de ingleses e japoneses. Fica cada vez mais difícil achar aqui. Os LPs do selo Forma tinham tiragens de 3.000 cópias, imagine o que sobrou em termos de Brasil. Mesmo os CDs que Charles está reeditando têm tiragens pequenas, acabam logo. Quem comprou comprou, não vão editar outra vez. As gravadoras só estão interessadas em vender o Tchan".
Gavin socorre a indústria: "Mas o Brasil é assim, é pobre. Acho que nesse cenário esses disquinhos terem saído por grandes gravadoras já é um lucro".
Ele martela a tecla da memória: "Para que um novo Tom Jobim e um novo João Gilberto nasçam e apareçam, as obras do passado precisam fazer parte de sua formação artística. O único legado musical no mundo que se compara ao brasileiro é o americano. Não pode tudo ir embora, simplesmente". Está indo. (PAS)


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