São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2001

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"SOB SUSPEITA"

Filme faz uma catarse coletiva e cumpre sua função terapêutica

CRÍTICO DA FOLHA

É o dia de São Sebastião em Porto Rico, o quintal da América. A prostituição e as drogas fazem o violento cotidiano das ruas, e uma epidemia de cólera segue a recente passagem do furacão Lucy pela ilha, mas o chefe de polícia local (Morgan Freeman) só encontra tempo para investigar a morte de duas crianças.
O advogado americano Henry Hearst (Gene Hackman) é o único suspeito dos crimes. Pouco antes de discursar na festa beneficente que organizou em nome das "criancinhas porto-riquenhas", Hearst é interrogado e acusado de assassinato e pedofilia.
É mais um processo do velho sistema de julgamento do cinema americano. O que chama a atenção em "Sob Suspeita" é o sentido moralista da investigação. Há a velha fórmula clássica do "segredo atrás da porta" e o "mais a ver" que promete sempre um pecado maior do que o anterior. Freeman exerce a função de juiz da moralidade, não tanto por suas falas, mas como se pudesse auscultar a consciência do acusado, nos flashbacks em que Hackman reconstitui seus passos/pecados.
Natural que a investigação policial logo resulte numa espécie de terapia de casal: na delegacia, a mulher do advogado conta os podres do marido. Ela se deixou conquistar por Hearst aos 11 anos e passou a evitá-lo, sexualmente, depois de sentir ciúmes da sobrinha. Para confirmar suas suspeitas, ela acaba por facilitar a investigação de Freeman. A crise do casal se sobrepõe à trama policial.
O real sentido do filme é a purgação dessa crise. Caminhando no limite entre a pedofilia legal e a ilegal, "Sob Suspeita" põe a inadimplência sexual dos casais americanos no olho do furacão para realizar uma espécie de catarse coletiva. Ao menos, o filme cumpre, nesse sentido, uma função terapêutica. (TIAGO MATA MACHADO)


Sob Suspeita
Under Suspicion
  
Direção: Stephen Hopkins
Produção: França, EUA, 2001
Com: Gene Hackman, Morgan Freeman, Mônica Bellucci
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Belas Artes, Cinearte, Ipiranga, Jardim Sul e Lumière




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