|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"SOB SUSPEITA"
Filme faz uma catarse coletiva e cumpre sua função terapêutica
CRÍTICO DA FOLHA
É o dia de São Sebastião em
Porto Rico, o quintal da América. A prostituição e as drogas fazem o violento cotidiano das ruas,
e uma epidemia de cólera segue a
recente passagem do furacão
Lucy pela ilha, mas o chefe de polícia local (Morgan Freeman) só
encontra tempo para investigar a
morte de duas crianças.
O advogado americano Henry
Hearst (Gene Hackman) é o único
suspeito dos crimes. Pouco antes
de discursar na festa beneficente
que organizou em nome das
"criancinhas porto-riquenhas",
Hearst é interrogado e acusado de
assassinato e pedofilia.
É mais um processo do velho
sistema de julgamento do cinema
americano. O que chama a atenção em "Sob Suspeita" é o sentido
moralista da investigação. Há a
velha fórmula clássica do "segredo atrás da porta" e o "mais a ver"
que promete sempre um pecado
maior do que o anterior. Freeman
exerce a função de juiz da moralidade, não tanto por suas falas,
mas como se pudesse auscultar a
consciência do acusado, nos
flashbacks em que Hackman reconstitui seus passos/pecados.
Natural que a investigação policial logo resulte numa espécie de
terapia de casal: na delegacia, a
mulher do advogado conta os podres do marido. Ela se deixou
conquistar por Hearst aos 11 anos
e passou a evitá-lo, sexualmente,
depois de sentir ciúmes da sobrinha. Para confirmar suas suspeitas, ela acaba por facilitar a investigação de Freeman. A crise do casal se sobrepõe à trama policial.
O real sentido do filme é a purgação dessa crise. Caminhando
no limite entre a pedofilia legal e a
ilegal, "Sob Suspeita" põe a inadimplência sexual dos casais
americanos no olho do furacão
para realizar uma espécie de catarse coletiva. Ao menos, o filme
cumpre, nesse sentido, uma função terapêutica.
(TIAGO MATA MACHADO)
Sob Suspeita
Under Suspicion
Direção: Stephen Hopkins
Produção: França, EUA, 2001
Com: Gene Hackman, Morgan Freeman,
Mônica Bellucci
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Belas Artes, Cinearte,
Ipiranga, Jardim Sul e Lumière
Texto Anterior: Cinema/Estréias - "Ameaça Virtual": Robbins afirma que não é Gates em filme Próximo Texto: "15 Minutos": Thriller esquizofrênico só vale pelos seus primeiros 60 minutos Índice
|