São Paulo, sábado, 27 de abril de 2002

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TELEVISÃO/"A SETE PALMOS"

Seriado disseca perversidades da vida privada e familiar americana

ESTHER HAMBURGER
CRÍTICA DA FOLHA

Se você tem TV a cabo, não perca a estréia de "A Sete Palmos", seriado premiado com dois Globo de Ouro em 2002, que a HBO coloca no ar amanhã às 22h30, um raro exemplar de audiovisual contemporâneo de qualidade produzido para a TV.
A produção expressa um encontro feliz entre cinema e TV, algo que já é mais frequente na indústria norte-americana e que costuma produzir bons trabalhos como "Twin Peaks".
E mais: o argumento e o roteiro são os pontos fortes da série de 13 episódios, produzida e idealizada por Alan Ball, roteirista de "Beleza Americana", filme pelo qual ganhou um Oscar. Ball dirige também o primeiro episódio, não necessariamente o melhor.
O novo seriado não repete o cinema, mas desenvolve uma tendência que problematiza com ironia perversidades que marcam a vida privada e familiar nos EUA. Ao lado do trabalho do diretor Todd Solondz ("Histórias Proibidas"), Ball desenvolve pela primeira vez algo que talvez mereça comparação ao que fez Nelson Rodrigues no Brasil.
"A Sete Palmos" conta histórias de uma família dona de uma funerária em Los Angeles. Prestando um serviço personalizado que ajuda clientes em um momento difícil, os Fisher condensam paroxismos da intimidade de uma família branca de classe média alta. Aqui o país dominante aparece corroído pela base.
A série revela uma faceta mórbida da cultura americana, pouco econômica e difícil de explicar na chave do utilitarismo. Os Fisher se destacam porque capricham na "reconstrução" de cadáveres. Ou seja, a operação plástica se faz após a morte, dando ao defunto sua melhor performance.
O primeiro episódio apresenta os personagens, situa cada membro da família em tempos instáveis. A comercialização da morte, questões étnicas, drogas, sexo, fragmentação e atração são referências realistas -quase documentais.
Mas a narrativa não linear, entremeada de sequências subjetivas, que dramatizam a convivência entre mortos e vivos, e que revelam medos e sonhos dos personagens, quebra o naturalismo simples e faz com que o seriado vá bem além do convencional. A HBO poderia ser mais acessível...


A Sete Palmos     
Quando: estréia amanhã, às 22h30, na HBO




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