|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TELEVISÃO/"A SETE PALMOS"
Seriado disseca perversidades da vida privada e familiar americana
ESTHER HAMBURGER
CRÍTICA DA FOLHA
Se você tem TV a cabo, não
perca a estréia de "A Sete Palmos", seriado premiado com dois
Globo de Ouro em 2002, que a
HBO coloca no ar amanhã às
22h30, um raro exemplar de audiovisual contemporâneo de qualidade produzido para a TV.
A produção expressa um encontro feliz entre cinema e TV, algo que já é mais frequente na indústria norte-americana e que
costuma produzir bons trabalhos
como "Twin Peaks".
E mais: o argumento e o roteiro
são os pontos fortes da série de 13
episódios, produzida e idealizada
por Alan Ball, roteirista de "Beleza
Americana", filme pelo qual ganhou um Oscar. Ball dirige também o primeiro episódio, não necessariamente o melhor.
O novo seriado não repete o cinema, mas desenvolve uma tendência que problematiza com ironia perversidades que marcam a
vida privada e familiar nos EUA.
Ao lado do trabalho do diretor
Todd Solondz ("Histórias Proibidas"), Ball desenvolve pela primeira vez algo que talvez mereça
comparação ao que fez Nelson
Rodrigues no Brasil.
"A Sete Palmos" conta histórias
de uma família dona de uma funerária em Los Angeles. Prestando um serviço personalizado que
ajuda clientes em um momento
difícil, os Fisher condensam paroxismos da intimidade de uma família branca de classe média alta.
Aqui o país dominante aparece
corroído pela base.
A série revela uma faceta mórbida da cultura americana, pouco
econômica e difícil de explicar na
chave do utilitarismo. Os Fisher se
destacam porque capricham na
"reconstrução" de cadáveres. Ou
seja, a operação plástica se faz
após a morte, dando ao defunto
sua melhor performance.
O primeiro episódio apresenta
os personagens, situa cada membro da família em tempos instáveis. A comercialização da morte,
questões étnicas, drogas, sexo,
fragmentação e atração são referências realistas -quase documentais.
Mas a narrativa não linear, entremeada de sequências subjetivas, que dramatizam a convivência entre mortos e vivos, e que revelam medos e sonhos dos personagens, quebra o naturalismo
simples e faz com que o seriado vá
bem além do convencional. A
HBO poderia ser mais acessível...
A Sete Palmos
Quando: estréia amanhã, às 22h30, na
HBO
Texto Anterior: Historiador mira poder e queda de Satã Próximo Texto: 1.400 se inscrevem para posar nus na Bienal Índice
|